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sexta-feira, 7 de junho de 2019

o lápis do Pakistan


o lápis do Pakistan descansa sobre a mesa de madeira barata
dessas que os vendedores em carrinhos de mão oferecem de casa em casa
posso garantir que nunca porei meus pés no Pakistan
não nutro nenhuma animosidade sobre o Pakistan
e nem apreço
sou ignorante para além da linha traçada pelas TVs dos anos 2000
mas o lápis é útil e bonito

from Pakistan to the world


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O conto do espírito fujão, da bruxa e da Alma


Meu espírito saiu de mim, num átimo meu de raiva
Se afastou e olhava, birrento, o chão.
Enquanto isso, todos os cacarecos coloridos esvoaçavam
barulhentamente
cada um a tomar o seu lugar
como crianças em fila apressadas por uma professora rigorosa
numa ordem pesada
que não combinava com a simplicidade daquele quarto
nem com a mágica única contida em cada uma daquelas coisas
-mas todas bastante conformadas, lendo a dureza que meus gestos expressavam.

Quando a barulheira cessou,
O espírito levantou os olhos e me encarou:
a luz pareceu sumir,- restando um fraco brilho numinoso de seus aguçados olhos-
e ele bateu o pé esquerdo no chão:
o solo se abriu
e uma fenda se formou: de um lado ele e os objetos encantados, antes coloridos, agora acinzentados.
Do outro lado: eu.

E então uma voz infantil, mas segura de si, ocupou todo o espaço do quarto: foi isso que você fez.

E finalmente entendi que eu havia escolhido o mundano ao espírito
separando o que não deve ser separado
Naquele momento, caí em mim,
Feiticeira velha, calejada, de uma ordem milenar.
E diante do jovem espírito,
Mostrei as mãos encanecidas, cheias da minha vergonha,
Ajoelhei-me e pedi perdão ao menino.

E talvez porque ele era jovem e ainda cheio de frescor
De pronto desfez a fenda, a escuridão e devolveu as cores aos nossos objetos encantados
Que tilintavam novamente alegres.

E o espírito, antes de retornar ao meu corpo já não mais empedernido,
Jogou um sorriso que pairou como um prisma no ar
Junto com a lição para a Alma.


(obrigada, Elias) 

aplicação de neon sobre a casa da Madame Mim

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Devaneios sobre cacos


Há uma inevitável melancolia em um vaso quebrado
Lamento sobre o sangue da mão ferida
A criança que nunca nascerá.

Há um inevitável espanto em um vaso quebrado
Põe finitude no objeto milenar
Renasce nos caminhos dourados do kintsugi...

Há uma alegria em um vaso quebrado
Como coisa que serve para o poeta enfurnado
No mato.

Há uma reprimenda pelo vaso quebrado
Era o favorito de mamãe
E ela não deixará barato!

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