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sábado, 1 de dezembro de 2018

Palavrançar

Convidei a Lara Matos, advogada e escritora que já apresentei aqui no blog (clica aqui), para fazer uma postagem sobre mulheres escritoras negras da preferência dela. O pedido foi uma referência ao novembro negro, que acabou ontem e ao movimento nacional que busca incentivar a leitura de mulheres negras, que no Piauí, ganhou força na Campanha Esperançar (clica aqui e aqui), incentivada pela professora da UESPI Andreia Marreiro.

Seguem a postagem e as dicas:


A maior parte dos livros que vão estar na lista dos melhores do ano, uma tradição minha das festas de Natal e Ano-Novo, foram escritos por mulheres, e deste universo, muitos por mulheres negras. Hoje eu vou falar sobre as melhores leituras de autoras negras que fiz ao longo da vida, e comentar minha lista de desejos (meu aniversário é dia 09 de dezembro, oie). Minhas leituras de ficção são bem maiores que as de não-ficção, e por isso vou me concentrar na primeira modalidade.

I-A Cor Púrpura, Alice Walker: quando eu tinha 11 anos, meu livro didático de inglês propunha que escolhêssemos um filme dirigido/produzido por Steven Spielberg de uma lista. Eu escolhi a Cor Púrpura pelo título, aluguei o filme e quando descobri que Cellie existia em livro, e ainda mais, que tinha este livro em casa, me entreguei às páginas. Minha infância e adolescência foi meio assim mesmo, lendo coisas não tão apropriadas para a minha idade mas que me deram uma visão de mundo mais humana. Cellie, uma mulher negra, lésbica, que nunca entendi como ela se dizia, feia, com um coração tão bonito, foi a primeira personagem que despertou minha curiosidade.




II-Amada, Toni Morrison: É um dos meus livros preferidos de sempre, mesmo porque o começo enigmático, descrevendo a ação de um fantasma, me intrigou bastante. Demora um pouco até você entender o que está acontecendo, mas quando o enredo se mostra, é de uma grandeza e de uma potência absurda. A relação da mãe Sethe com os filhos ainda hoje me dá nós na garganta. Em algum momento, filhos que lêem est livro verão suas mães, seja de modo positivo ou não.  De Toni, até ler Amada, eu havia tido contato apenas com Jazz, um livro curto que dá conta de muito da dinâmica urbana dos negros dos EUA e cuja personagem principal, Violet, me causou uma profunda empatia; não gostaria de estar em sua pele novamente, embora já tenha estado, e a entendo demais. Na verdade, eu poria tudo de Morrison nessa lista, inclusive meu desejo Deus Ajude Esta Criança, seu livro mais recente traduzido no Brasil pela Companhia das Letras.



III-O Ódio que Você Semeia, Angie Thomas: Eu levei esse livro para votar, só para vocês terem um ideia, e foi o destaque dos meus livros preferidos de 2017.  Poucas vezes eu li algo tão bom com a temática de raça quanto ele, que inclusive zomba na cara de alguns curadores que dizem que romances YA estão fora de um espectro artístico. Nunca leram Angie Thomas, Jacqueline Woodson ou Nnedi Orokafor. Coitados. As palavras de Angie na estreia do filme baseado em O Ódio que Você Semeia “eu fui assistida pelo seguro social, vim de uma periferia violenta e cheguei a achar que não terminaria a escola; hoje, na estreia do filme baseado no livro em que escrevi, eu digo: tudo é possível”. Angie é uma voz negra intelectual com uma relevância enorme, pois como mulher jovem, é a prova viva de que a juventude negra precisa de ações afirmativas e, uma vez tendo acesso a elas, é capaz de alçar voos inimagináveis para elas mesmas. É uma reconstrução não só de uma autoestima individual, mas de toda uma comunidade.



IV-O Caminho de Casa, Yaa Gyazi: a diáspora africana com todas as dores, alegrias e anseios. Eu gostaria de dar este livro para cada um que fala “negros escravizavam negros”, porque as páginas dissolvem esse preconceito ignorante com um lirismo belíssimo, explicando toda a complexidade de relações do colonialismo escravagista. Você aprende a não falar besteira com uma história bem amarrada e com imagens deslumbrantes. Além disso, personagens como Marcus situam a compreensão de uma questão ainda muito pouco abordada: a saúde mental de pessoas negras, em especial dos homens negros; a incursão nas drogas desse personagem, inclusive, é uma descrição que gera muitas nuances de análise, exigindo um texto próprio.
Antes de falar da poesia, gostaria de falar sobre um incômodo: a mulheres poetas, em especial mulheres negras poetas, é negado o dom à exatidão e à observação. Mulheres são seres empíricos, levados por paixões, e não racionais e cognoscíveis: é um preconceito velado ou muitas vezes até manifesto mesmo em muitos ensaios críticos. Uma mulher negra que escreve, se instrui e aprende o letramento em formas de prosa e poesia com técnica, ritmo e lirismo impecáveis, então, uma afronta. Algumas mulheres que entram chutando as portas do formalismo branco da poesia hermética estão aqui:



I-Lívia Maria Natália de Souza: O Poema As Mãos de Minha Mãe me leva às lágrimas toda vez que leio. Durante o Colóquio de Gênero realizado na Universidade Estadual do Piauí, no mês de setembro deste ano, a própria poeta recitou esses versos, que falam sobre sua mãe com mal de Alzheimer. Minha avó foi levada por esta doença, também, e a dor profunda de sentir o fio da vida de alguém que amamos escoando aos poucos pesa ao mesmo tempo que encontra alívio nas palavras dessa poeta, que tive a honra de abraçar e conversar. Meu livro preferido de Lívia é Correntezas e Outros Estudos Marinhos, mas indico todos. 



V-Eliane Marques: Para escrever poesia é preciso ler poesia. Para versificar bem, é preciso ver a prática de versificação. Eliane Marques me ensinou lições preciosas que acredito que não extrairia de tratados de poética. Há uma precisão nos versos que fez com que eu recitasse fragmentos espontaneamente apenas algumas leituras depois. Uma amostra:
e se irene não-à-lei
e se irene não-sinhô
e se não-tão-preta
e nem-tão-boa
e se ainda aos piores mortos
o amém das moças



VI-Não Vou mais Lavar os Pratos, Cristiane Sobral: Uma mulher negra que resolve se instruir. A afronta que uma pessoa sempre relegada aos bastidores e aos cuidados rudimentares lendo, escrevendo, pensando, criando e sendo protagonista altiva não só da própria história, mas inventando novos mundos líricos. Esta é Cristiane.



III-Bone, Yrsa Daley-Ward: tenho minhas ressalvas em ler poemas em línguas estrangeiras traduzidos; por isso, geralmente me atenho a versos escritos em inglês ou espanhol, idiomas que domino e sei traduzir. Digo isto para marcar minha ignorância acerca de poetas cujos versos só conheço por traduções em português ou inglês que de certo modo me parecem estranhas, com algo fora do lugar, seja a estrutura da versificação ou as imagens obtidas. Ah, e outra coisa: Daley-Ward é modelo e atriz também; artista da cabeça aos pés. Abaixo, um dos poemas dela, que eu mesma traduzi.
Nada é dito na mesa de jantar
Porque todo mundo tem raiva
O único barulho é o tilintar dos talheres de prata na porcelana chinesa
E o som das brincadeiras dos filhos de outras pessoas lá fora
Mas isto te dará poesia
Na cozinha não há faca
Afiada que possa cortar a tensão
E as mãos de sua avó tremem
A carne e o inhame entalam na garganta
E você nem ousa mais sussurrar “passe o sal”
Mas isto te dará poesia
Seu pai está bufando
Ele poderá extrair toda seu viço esta noite
Por razões que nem ele mesmo sabe
Ainda
Você sairá machucada
Você sairá machucada
Mas isto lhe dará poesia
A ferida irá se espalhar
Dispersar até ser
um diamante negro
Ninguém sentará ao seu lado na aula
Talvez sua vida dê certo
Embora de primeira
Não pareça:
Isto lhe dará poesia



Maya Angelou: Olha ela de novo! O gênio que foi Angelou é uma coisa rara. Eu me atrevi a traduzir alguns poemas dela, e aqui está o meu preferido, Mulher Fenomenal. Não pus um livro em especial porque sempre consumi Maya de maneira dispersa, e já mencionei o I Know why the caged Bird Sings. E o “Mamãe e Eu e Mamãe”, que ainda não li porque sou muito sensível a histórias que tratam das relações entre pais e filhos: mesmo depois de três anos ainda tento me recuperar da última leitura deste tipo que fiz, Patrimônio, de Philip Roth. Aqui está minha tradução de Mulher Fenomenal (poema que Angie Thomas, em o Ódio que você semeia, diz descrever totalmente sua avó):

Mulher fenomenal
Lindas mulheres perguntam
Que segredos escondo
Não sou adorável ou feita
Para envergar um traje de modelo
Se eu começasse a contar sobre mim
Diriam que minto
Se disser que está no movimento dos meus braços,
No sacudir do meu quadril
No molejo dos meus passos
Na curva dos meus lábios:
Sou fenomenalmente
Uma mulher fenomenal
É quem sou
Quando entro em um recinto
Fresca e cheia de graça
Faço homens e seus companheiros
Levantarem ou caírem de joelhos
Eles me cercam
Sou uma colmeia vazando mel
Digo:
É no fogo dos meus olhos, no brilho dos meus dentes
Minha cintura malemolente
A alegria dos meus pés
Sou uma mulher fenomenalmente
Fenomenal
É quem sou
Homens perguntam a si mesmos
O que veem em mim
Eles até tentam
Mas não conseguem tocar
Meu mistério interno
Quando eu tento lhes mostrar
Eles inda não veem
Eu digo
É na curvatura das minhas costas, no sol do meu sorriso
No elevar dos meus seios
Meu estilo impecável
Uma mulher fenomenalmente
Agora você entende
Que é minha mente errante: não grito, salto
Ou preciso falar alto
Quando você me vê passar, deveria se orgulhar
Eu afirmo:
É no som dos meus saltos altos
Meus cabelos penteados
A palma da minha mão
A necessidade do meu cuidado
Fenomenalmente
É quem sou
fenomenal





Lista de desejos e leituras futuras/em andamento:

I-Filhos de Sangue e Osso, (Série Legado de Orïsha #1), Tomi Adeyemi: Tenho verdadeira paixão por autores que estudam religiões e mitologias a fundo para criar suas próprias versões em histórias originais. Exemplos conhecidos dessa capacidade de “aprender tudo como um especialista e recriar como artista” são Neil Gaiman e Maggie Stiefvater. Tomi foi além deles. Toda a pesquisa minuciosa se descortina numa história cheia de alegorias e imagens que parecem sonhadas. Estou no início da leitura e espero conseguir terminar logo, porque este livro merece estar numa lista de melhores pelo fascínio que me induziu, estou obcecada! Este livro, inclusive, vem com um guia de pronúncia Iorubá, GENTE!!!!!!!!!

II-Fique Comigo, Ayòbámi Adébáyò: Margaret Atwood, autora de O Conto da Aia e Vulgo Grace, é uma autora ativa nas redes sociais, e partilha suas leituras para os seguidores. Foi assim que tomei conhecimento deste livro de Adébáyò, uma jovem escritora que teceu um romance a partir da experiência com violência, exílio, costumes e particularidades de relacionamentos amorosos. Não falo mais porque ainda não comecei a leitura de fato, porém mal posso esperar.

III-Bruxa Akata, Nnedi Okorafor: Chimamanda plantou sonhos na Nigéria ao riscar seu país com  palavras. Nnedi, ficcionista exímia, fala da realidade na Nigéria a partir do olhar de uma garota albina. Mal posso esperar para começar a leitura do novo romance da autora de Quem Teme A Morte, a única ficção distópica que conseguiu prender minha atenção. Agora, com um tema ainda mais cativante, vou pular uns livros da minha fila de leitura (desculpa Becky Albertalli).



quarta-feira, 25 de abril de 2018

Toni Morrison me ajuda a pensar a palavra



Tradução adaptada de um texto da e sobre a Toni Morrison. Enquanto eu me tratava de uma meningite, a escritora fazia seu belo discurso pelo recebimento do prêmio nobel. Fico feliz de ter sobrevivido à doença, para perceber essa coincidência. Aqui Morrison sabiamente explica porque a palavra não encerra a experiência, perspectiva que alguém que trabalha com filosofia no século XXI precisa recuperar.


TONI MORRISON SOBRE O PODER DA LINGUAGEM: SEU DISCURSO ESPETACULAR DO NOBEL DEPOIS DE SE TORNAR A PRIMEIRA MULHER AFRO-AMERICANA A RECEBER O PRÊMIO

“Nós morremos. Esse pode ser o significado da vida. Mas nós fazemos linguagem. Essa pode ser a medida de nossas vidas”

Nas últimas semanas de 1993, Toni Morrison (18 de fevereiro de 1931) tornou-se a primeira mulher afro-americana a receber o Prêmio Nobel, sendo premiada por ser uma escritora “que, em romances caracterizados por sua força visionária e importância poética, dá vida a um aspecto essencial da realidade americana.” Em 7 de dezembro, Morrison subiu ao pódio na Academia Sueca em Estocolmo e aceitou a honraria com um discurso espetacular sobre o poder da linguagem - seu poder de oprimir e libertar, cicatrizar e santificar, de expoliar e redimir. O discurso de Morrison, incluído no livro “Palestras Nobel: entre os laureados da literatura, de 1986 a 2006” (biblioteca pública), talvez seja nosso mais poderoso manifesto pela responsabilidade embutida na maneira como manejamos a ferramenta que é a marca registrada de nossa espécie.

Morrison escreve:

Era uma vez uma mulher idosa. Cega, mas sábia. "Ou era um homem velho? Um guru, talvez. Ou uma contadora de histórias acalmando crianças inquietas. Eu ouvi essa história, ou uma exatamente como ela, no folclore de várias culturas."

 Era uma vez uma mulher idosa. Cega. Sábia.

    Nessa versão eu sei que a mulher é filha de escravos, negros, americanos e mora sozinha em uma pequena casa fora da cidade. Sua reputação de sábia é sem par e inquestionável. Entre seu povo, ela é tanto a lei, quanto a sua transgressão. As honrarias que recebe e a reverência com que é mantida vão além do seu bairro, alcançando lugares distantes; até a cidade onde a inteligência dos profetas rurais é fonte de muita diversão.
    Um dia a mulher é visitada por alguns jovens que parecem estar dispostos a refutar sua clarividência e a mostrar a fraude que acreditavam que ela fosse. O plano deles era simples: eles entrariam em sua casa e fariam uma pergunta que só poderia ser respondida com base na diferença entre eles e ela, uma diferença que consideram uma deficiência profunda: a cegueira. Eles estão diante a mulher sábia e um deles diz: “Mulher velha, tenho na mão um pássaro. Diga-me se está vivo ou morto." 
    Ela não responde e a pergunta é repetida. "O pássaro que eu estou segurando está vivo ou morto?"
    Ainda assim ela não responde. Ela é cega e não pode ver seus visitantes, muito menos o que está em suas mãos. Ela não sabe sua cor, gênero ou pátria. Ela só conhece o motivo deles.

    
O silêncio da velha é tão longo, que os jovens têm dificuldade em segurar o riso.

    
Finalmente ela fala e sua voz é suave, mas severa. "Eu não sei", diz ela. "Eu não sei se o pássaro que você está segurando está vivo ou morto, mas o que eu sei é que ele está em suas mãos. Está em suas mãos."
    Sua resposta pode ser entendida como: se está morto, você o encontrou dessa forma ou o matou. Se estiver vivo, você ainda pode matá-lo. Ou seja,  mantê-lo vivo é uma decisão sua. Seja qual for o caso, é sua responsabilidade.
  A despeito do poder deles e do desamparo dela, os jovens visitantes são repreendidos, informados de que são responsáveis ​​não apenas pelo ato de zombaria, mas também por aquela pequenina vida sacrificada para alcançar seus objetivos. A mulher cega desvia a atenção das afirmações de poder, para o instrumento através do qual esse poder é exercido.

“ Especular sobre o que (além de seu próprio corpo frágil) aquele pássaro-na-mão pode significar sempre foi atraente para mim, mas especialmente agora, que eu tenho pensado sobre o trabalho que fiz e que me trouxe a essa premiação. Por isso escolho ler o pássaro como língua e a mulher como escritora experiente. Ela está preocupada com a forma como a linguagem em que ela sonha, dada a ela no nascimento, é tratada, colocada em serviço e até aprisionada para certos fins nefastos. Sendo escritora, ela pensaria na linguagem em parte como um sistema, em parte como uma coisa viva sobre a qual se tem controle, mas principalmente como agência - como um ato com consequências. Assim, a pergunta que os rapazes fazem a ela: “Está vivo ou morto?” não é desprovido de de sentido porque ela pensa que a linguagem é suscetível à morte, ao desaparecimento; ainda que ameaçada e aproveitada apenas por um esforço da vontade. Ela acredita que, na verdade, se o pássaro nas mãos de seus visitantes está morto, os guardiões são responsáveis ​​pelo cadáver. Para ela, uma língua morta não é apenas uma língua que não é mais falada ou escrita, é também conteúdo linguístico inflexível que admira sua própria paralisia. Como uma linguagem estatista, censurada e proibida. Impiedosa em seus deveres de policiamento, não tem desejo ou propósito além de sustentar o livre alcance de seu próprio narcisismo narcótico, sua própria exclusividade e domínio. Por mais moribunda que seja, contudo, surte efeito, pois frustra ativamente o intelecto, paralisa a consciência, suprime o potencial humano.”

Com um olhar cauteloso sobre como o nosso uso indevido da linguagem pode fazer  “renunciar a suas propriedades sutis, complexas e intermediárias até à ameaça e à subjugação”, escreve Morrison:

“A vitalidade da linguagem reside na sua capacidade de iluminar a vida real, imaginada e possível dos seus falantes, leitores, escritores. Embora a sua postura esteja, por vezes, na experiência de deslocamento, não é um substituto para ela. Inclina-se em direção ao lugar onde o significado pode estar. Quando um presidente dos Estados Unidos pensou no cemitério em que seu país se tornara, disse: “O mundo notará pouco ou nem se lembrará do que dizemos aqui. Mas nunca esquecerá o que fizemos”, suas palavras simples são essencialmente vitais porque são uma recusa a encapsular a realidade de 600.000 homens mortos em uma guerra racial cataclísmica. Recusando-se a monumentalizar, desdenhando a “palavra final”, o “resumo” preciso, reconhecendo seu “pobre poder de adicionar ou diminuir”, suas palavras sinalizam deferência à incapturabilidade da vida que lamenta. É a deferência que a move, o reconhecimento de que a linguagem nunca pode viver a vida de uma vez por todas. Nem deveria. A linguagem nunca pode "definir" a escravidão, o genocídio, a guerra. Nem deveria ansiar arrogantemente que fosse capaz de fazê-lo. Sua força, sua felicidade está em seu alcance para o inefável.
Seja grande ou esguio, escavando, detonando ou recusando-se a santificar; se é um riso alto ou se é um grito, a palavra escolhida, o silêncio escolhido, a linguagem não molestada surge em direção ao conhecimento, não à sua destruição.”

Em um sentimento que lembra a memorável meditação de James Baldwin sobre a linguagem e a vida - “é a experiência que molda uma linguagem; e é a linguagem que controla uma experiência ”, escreveu ele - Morrison acrescenta:

“O trabalho da palavra é sublime ... porque é gerador; faz o sentido que assegura nossa diferença, nossa diferença humana - a maneira como somos como nenhuma outra vida.”

 “Nós morremos. Esse pode ser o significado da vida. Mas nós fazemos linguagem. Essa pode ser a medida de nossas vidas.

(...)

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