Ian McKellen no cartaz do filme Sr. Sherlock Holmes
Como ando absorvida pelo mundo do detetive mais famoso da ficção, aqui vai mais uma postagem sobre ele, dessa vez indicando o filme que tem o maravilhoso Ian McKellen encarnando Sherlock Holmes. Em "Sr. Sherlock Holmes, o detetive está no fim da vida e tenta lembrar dos detalhes do seu último caso, com a ajuda de um singular assistente que não é mais John Watson.
Com uma narrativa mais lenta do que estamos acostumadas com o Sherlock das séries e filmes do século XXI, McKellen nos traz a personagem de modo bem mais melancólico e cheio de fios a serem amarrados, por conta de sua escolha por uma vida regulada apenas pela lógica, com poucos laços afetivos. No fim, temos o detetive tentando dar um novo sentido aos seus últimos dias, para que eles não se percam no remorso da solidão.
E, sim, tem no seu serviço de streaming favorito. Segue o trailer. ^__^
Ando passando por uma crise de inspiração nas últimas semanas, por isso a diminuição das postagens. Para não deixar essa aqui vazia, vai uma música do Queen que aparece naquele filme lançado esse ano: Baby Driver.
30 de janeiro: Assisti "Fences" (Um limite entre nós). Forte, como uma peça de teatro bem encenada. Recomendado a quem aprecia monólogos extensos, almas sensíveis, preferencialmente machucadas por conflitos familiares- melhor ainda se for com o pai;
31 de janeiro: Assisti "Doutor Estranho". Bom filme de super herói- acima da média. Para quem gosta de luta, magia, espiritualidade e de ver gente arrogante aprender uma lição. Cumberbatch segue onipresente;
01 de fevereiro (madrugada): Li o conto "O papel de parede amarelo", Charlotte Perkins Gilman. Leitura fantástica e dolorida da depressão pós parto, em tempos de diagnóstico de histeria para almas humanas silenciadas. Lindo, lindo e trágico.
01 de fevereiro: Assisti "La la land". Musical doce, sem exageros e de uma melancolia que me fez verter lágrimas aos cântaros, aos baldes. Emma Stone e Ryan Gosling estão adoráveis.
E se levássemos a sério os jovens, ao ponto de os criarmos, em uma educação sem séries, sem restrição de leituras, nem de desafios esportivos, partilhando com elas e eles livremente os saberes do mundo?
Não, a postagem não é sobre o movimento da desescolarização, mas bem que poderia ser. Ontem fui ao cinema ter um encontro com um filme que me tocou bastante, uma comédia dramática, recomendação de um amigo: "Capitão fantástico".
"Walden" (Thoreau) e "A república" (Platão), parece que era algo nesse sentido que estava na cabeça de Ben e sua esposa, Leslie, quando decidem criar seus filhos em meio ao ambiente selvagem das florestas do norte dos EUA. O poético filme de Matt Ross (2016), apresenta-nos lindamente essa possibilidade. Ben e Leslie esforçam-se em educar sua prole, como fortes e sábios, por meio de uma disciplina que requer exercícios físicos diários no meio da mata e nas alturas das montanhas, incluindo luta, meditação, respiração pranayana e caça, além de estudos avançados sobre literatura, filosofia, línguas, política, direito, física, anatomia e o que mais o intelecto estimulado dos jovens pedisse- e que a biblioteca particular dos pais tivesse, que parecia ser constantemente realimentada por pedidos pelos correios.
Guiando os filhos por meio do que acreditavam ser um modo de vida que desafiava a sociedade capitalista da qual provinham, a família discutia todas as leituras que realizavam, como Marx e demais socialistas, além de Chomsky, em sua faceta libertária (no sentido positivo do termo), Dostoievski, Nabokov, alcançando mesmo a declaração de direitos dos EUA. O pequeno clã também se entretinha com música e praticava rituais sincréticos de alegria (como o aniversário de Chomsky, que era algo como o natal), ritual de iniciação e ritual de luto, quando necessários.
O grande desafio da família no mundo "real" começa ao decidirem comparecer ao velório e enterro de sua mãe, mesmo sob a proibição do avô, que nunca havia concordado com o estilo de vida excêntrico de sua filha. Leslie, que desenvolveu transtorno bipolar após uma depressão pós-parto, havia partido para a cidade, tentando tratar-se. Não conseguindo uma melhora suficiente, termina por cometer suicídio.
Apesar da morte trágica da mãe, o filme não se torna um filme mórbido. A verdade é dita às crianças, que foram criadas acostumadas ao diálogo sincero e aberto, o que não impede o sofrimento. Por outro lado, parece abrir espaço para um tipo luto expansivo, que é manifestado de modos diferentes por cada membro e depois por todos juntos. A despedida final acontece bem depois do enterro, num ritual sugerido pela própria defunta, que tinha muito bom humor- apesar da depressão.
O desenrolar da trama até esse desfecho, incluem pequenos eventos como o desafio de conseguir comida na cidade, aprender a paquerar, o que fazer diante aprovação do mais velho em todas as universidades mais prestigiadas do país, ou com a rebeldia do filho do meio, além do contato com os demais membros da família. Esse contato, inclusive, oferece-nos um fabuloso quadro comparativo entre os dois modus vivendi, o nosso e o deles, eu diria, que promove momentos divertidíssimos para quem assiste. A família de Ben nos lembra o quanto que alguns dos nossos hábitos já não passam de meras convenções e outros não chegam a contribuir em nada com o nosso bem-estar físico ou mental, pelo contrário.
Mesmo diferentes, as crianças em nenhum momento se sentem constrangidas e na verdade surgem altivas diante da família "civilizada" do avô e da tia.
O luto, as brigas e os acidentes que ocorrem até pouco depois do enterro da mãe terminam por funcionar como uma espécie de arena de aperfeiçoamento para os pequenos filósofos-reis, um novo desafio a cada uma e a cada um dos membros, que compreendem melhor a força da escolha dos pais, começando a ter noção de suas próprias. Passarão a enfrentar o mundo humano como seres diferentes (por sua excessiva autonomia e crítica), num caminho que parece ser guiado pela vontade de liberdade e autenticidade, que deveriam, na minha humilde opinião, serem dois dos mais importantes pilares de uma boa educação.
Capitão Fantástico- trailer
Ps. O filme é com meu querido Viggo Mortensen (Ben), o Aragorn de "O Senhor dos Anéis".
Hoje (ontem) eu finalmente assisti o documentário "A 13º emenda", que está disponível na NETFLIX. O doc trata basicamente de como a escravidão ao longo da história americana/estadunidense foi se metamorfoseando em uma continuidade de massacres da população negra do país, mesmo depois da libertação constitucional dos negros. A própria décima terceira emenda já surge como um problema em sua pretensão de generalidade e universalidade- a qual garantiria a liberdade de todos os cidadãos e cidadãs, com exceção dos criminosos. Não é difícil adivinhar qual população tornou-se vulnerável a essa exceção, depois de lançada no mundo "livre" sem dinheiro, sem terra, sem uma política responsável que lhes garantisse a sobrevivência em dignidade. Passando pelo imaginário reforçado do negro criminoso estuprador do cinema do início do século XX, simultaneamente à exaltação da idéia de superioridade racial, alcançando a luta pelos direitos civis, o doc chega ao século XXI, com a intensa discussão sobre a assustadora população carcerária dos Estados Unidos- a maior do mundo- e tenta traçar um encadeamento que deixa claro como o sistema prisional, aplicado sem considerar a questão racial e as questões sociais implicadas, só aprofundou o abismo entre aqueles que são considerados mais humanos e os que ainda não chegaram lá. O título que escolhi para a postagem "Vidas Negras Importam", é o lema de uma das campanhas que ganharam as ruas e as redes sociais, contra o extermínio dos negros, como vocês já devem ter acompanhado pelas redes sociais (caso Fergunson, por exemplo). Assistir esse documentário reforça a nossa constatação de que nosso problema aqui no Brasil é bem mais sério do que a maioria suspeita.
O filme que me abraçou num período difícil e que me foi mostrado por um amigo, anos atrás, tem uma trilha sonora que é tão fundamental ao bom andamento da estória, quanto a presença das atrizes e dos atores. E é Yann Tiersen, responsável por essas belezuras de melodia. Olha o que a Wikipedia traz sobre o músico:
"Yann Pierre Tiersen la pierre (sic) (Brest, 23 de junho de 1970) é um músico de vanguarda, multiinstrumentista e compositor francês de origem judaica com raízes belgas e norueguesas. Compondo para piano, sanfona e violino, sua música aproxima-se de Erik Satie e do minimalismo de Steve Reich, Philip Glass e Michael Nyman. Tornou-se internacionalmente conhecido ao compor trilhas sonoras de filmes como O fabuloso destino de Amélie Poulain e Good Bye, Lenin!.
Passou sua infância em Rennes, também na Bretanha, onde estudou violino, piano e regência orquestral. De formação clássica, encaminhou-se para o rock já na idade adulta. Nos anos 1980,
junta-se a vários grupos de rock em Rennes. Em seguida, começa a
escrever trilhas sonoras para peças teatrais e filmes como "A vida
sonhada dos anjos Giovanni" (1998), de Erick Zonca, "Alice e Martin" (1998), de André Téchiné e "O que a Lua Revela" (1999), de Christine Carrière."
Aqui a página oficial dele http://yanntiersen.com/. Lá tem um monte de informação sobre o trabalho do músico.
E na noite de hoje ele traz o fundo musical aqui em casa. ;)
Acabei de assistir o doloroso e delicado filme "Elena", encenado e dirigido pela irmã de Elena, Petra. O filme fala sobre o suicídio visto por meio dos sentimentos da irmã sobrevivente, e às vezes da mãe, ambas portadoras do forte traço da melancolia, que Elena também abrigava. A partir das gravações reais da infância e adolescência de Elena, a narrativa nos conduz por um intenso emaranhado de imagens e sensações compartilhados com sua mais nova irmã, numa espécie de torpor gerado pela necessidade de viver originalmente e ao mesmo tempo a dor intensa desse viver. Essa dor então atinge o ápice quando cai sobre a frágil Elena a ilusão do beco sem saída da sua potência criadora, ela, que era uma artista, aos 20 anos, acredita que não conseguirá atingir seu objetivo com a perfeição imaginada. Antes, a separação dos pais certamente foi um abalo em um espírito tão vivo e simultaneamente tão frágil, que conduziu ao trágico desfecho.
Petra acompanhou tudo de perto e ela, que sempre esteve próxima de sua adorada irmã mais velha, passou a carregá-la junto de si, chegando a confundir-se com Elena, depois da morte desta. Sim, a expressão do viver de Petra dá a impressão de ter se amalgamado com a da irmã, tornando-se Petra herança de Elena, a quem ela tanto amou.
É um filme doído. Para finalizar, ainda temos a cena das Ofélias, nas águas, fazendo menção à morte da Ofélia de Shakespeare, em Hamlet. A doçura de Ofélia não suportou o mundo. Que, contudo, a doçura, para nós, seja a nossa força nos dias que virão e que continuemos a buscar a beleza que Elena e Ofélia anunciaram, para muito além das suas mortes.
Your face is the face of all the others before you and after you and your eyes calm as a blue dawn breaking time on time herdsman of the clouds sentinel of white iridescent beauty the landscape of your contesses mouth that I have explored keeps the secret of a smile like small white villages beyond the mountains and your heartbeats the measure of their ecstasy There is no question of beginning there is no question of possession there is no question of death face of my beloved the face of love
(Ingrid Jonker- 1933/1965)
Jonker é mais conhecida pelo poema abaixo, que não por acaso foi declamado por Nelson Mandela em 1994, quando se tornou presidente da África do Sul:
A criança que foi morta a tiros por soldados em
Nyanga
Tradução livre de Maria Helena D´Eugênio
A
criança não está morta!
Ela
levanta os punhos junto à sua mãe.
Quem
grita África ! brada o anseio da liberdade e da estepe,
dos
corações entre cordões de isolamento.
A
criança levanta os punhos junto ao seu pai.
Na
marcha das gerações.
Quem
grita África! brada o anseio da justiça e do sangue,
nas
ruas, com o orgulho em prontidão para luta.
A
criança não está morta!
Não
em Langa, nem em Nyanga
Não
em Orlando, nem em Sharpeville
Nem
na delegacia de polícia em Filipos,
Onde
jaz com uma bala no cérebro.
A
criança é a sombra escura dos soldados
em
prontidão com fuzis sarracenos e cassetetes
A
criança está presente em todas as assembleias e tribunais
Surge
aos pares, nas janelas das casas e nos corações das mães
Aquela
criança, que só queria brincar sob o sol de Nyanga, está em toda parte!
Tornou-se
um homem que marcha por toda a África
O
filho crescido, um gigante que atravessa o mundo