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domingo, 17 de abril de 2022

Tudo é tão precário

Lua cheia da Páscoa de 2022

















 

 

tudo é tão precário

eu dou um passo 

e o chão onde piso

não é mais o mesmo 

a lua magica brilha 

dissipa-se em uma névoa argêntea


hoje o precário está frio

me atinge e resseca a pele dos braços e as canelas 

vou tateando seu rastro 

até debaixo do lençol

onde o precário não mais se importa.


 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Sede

 Há uma água noturna que passou a saciar uma sede 
                                                                                     antes ignorada

Ela é mais gelada, 

preenche melhor os

                                   espaços desidratados


Aplaca uma artificial secura 

Da qual não há escape

 

-A terra é seca, são muitos os comprimidos-

Pelo menos há essa água 

Copo de vidro na madrugada 

O maior prazer de um dia inteiro.



(para a Laís e para a Mayra)

Estudo de uma das amendoeiras do Van Gogh- Usei giz pastel oleoso- Meu destaque é para o copo de água para o galho da árvore florida



quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

identidade secreta

Lídia Fiabani- Greetings from Italy

 


 

 

 

 

 

 

o batman se escondeu outra vez

ele surge e some

do nada

foge ferido

lambe as próprias chagas

com sua língua de morcego

que não transmite raiva

só sente

e acha que deve agir sozinho

desde seus oito anos


tem dias que acordo, gregório 

e sou o batman.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Mais uma noite esperando uma chuva de estrelas

À noite esperando uma chuva de estrelas e nenhuma única! Nenhumazinha- zica- nada! Quer dizer, teve uma hora que achei que captei um rastro de uma, mas talvez tenha sido o reflexo de alguma lâmpada terrestre na lente dos meus óculos. Eu sugiro que os astrônomos criem uma outra nomenclatura para as pessoas leigas que ficam horas e horas de pescoço duro olhando para cima, em busca de uma sequência de estrelas cadentes, com um intervalo bem curto entre uma outra- de preferência, segundos. Uma. Chuva. Chuva é coisa muito séria pra quem nasce e vive no semi-árido, no cerrado, no meio-norte. Não tive nem sequer chuvisco de estrelas, nem uns pingos estelares. Só as mesmas estrelas lá fixas (como antes se achava), que são lindas, mas não eram o que eu estava procurando naquela noite, no escuro, enquanto o resto da casa dormia, exceto eu, os dois cachorros e minha mãe, terminando de assistir na tv um campeonato de vôlei espremido e encurtado, pelo temor da pandemia. 

Depois fiquei sabendo que essa chuva de meteoros vai "estar acontecendo" até o início de novembro e que essa noite que fiquei esperando era supostamente o "ápice", ou seja, por aqui terei -1 de chuva de meteoros nos dias seguintes. Mas vai que você tenha mais sorte: é só olhar para a região das três Marias, que são o cinturão Órion- quem diria-, mais ou menos até o dia de 7 de novembro (do ano corrente). Diz-se que essas estrelas são resíduos da cauda do famoso cometa Halley. 

Se por um lado fiquei frustrada, por outro pude constatar, que a vida noturna dos céus é bastante agitada. Um avião tão distante e de luz avermelhada que poderia facilmente passar por um OVNI (se eu fosse criança, com certeza daria essa classificação), morcegos maiores que aqueles miudinhos do final da tarde (que eu gosto de chamar de andorinhas), uma cantoria desavergonhada dos gatos nos telhados vizinhos, um casal de corujas voando longe, lindamente. 

Então, pensei que precisamos valorizar esses pequenos rituais domésticos que não foram ainda catalogados pela obsessão capitalista, ou do modo de produção dominante, nossos desejos e capacidade de imaginar novos caminhos estão lá. E criar novos, também.

 

Imagem feita da passagem do cometa Halley em 1986- tirada em Americana-SP

 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Livros-alertas

Motivada por uma sombra que insiste em permanecer sobre as instituições brasileiras, dei uma olhada na estante e lembrei de algumas aulas que dei sobre o assunto. Aí estão cinco leituras que ajudam a situar algum jovem leitor desavisado, de qualquer idade, a respeito do crime contra a humanidade de maior reconhecimento e grande motivo de vergonha coletiva, durante século XX,  o nazismo. Ajuda inclusive, a olharmos bem para nossa historia enquanto povos humanos e as várias atrocidades que cometemos e que precisamos reconhecer para não repetir:


Lista para aprender porque nazismo é ruim

Educação e emancipação- Adorno
Hannah Arendt (biografia da Hannah Arendt)- Laure Adler
Maus- Spielgelman
Sonhos no terceiro Reich- Charlotte Beradt
O diário de Anne Frank- Anne Frank
 Modernidade e Holocausto- Bauman 
Aspectos do drama contemporâneo- Jung

A lista não é grande, porque sou otimista de que a pessoa que lê-los vai entender rapidamente a identificar o perigo logo. Logo!

Anne Frank com um lápis na mão

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Conversa com Blake

Toda noite e toda manhã
Algo de miserável nasce bom
Cada manhã e cada noite
Algo de bom nasce da doce pernoite
Algo de bom que nasce da eterna noite*



*Tradução adaptada e alterada de propósito, como é de praxe aqui.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Sumo azul que escorre

Há um sumo azul neon 
A ser colhido na escura noite  

Ando sendo embalsamada
Num sono persistente 
Noite esticada por dias 
Corpo embolado, rolando 
Feito vaga, boneca de pano maltrapilha,
Bola de feno de Western movie,
Sonambulando 
Um nada zen 

quem sabe num dia azul acordo

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Monturo máter

𝚄𝚖 𝚖𝚘𝚗𝚝𝚞𝚛𝚘 𝚜𝚎 𝚊𝚙𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚝𝚊 
𝚀𝚞𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚕𝚎𝚟𝚊𝚗𝚝𝚘 𝚊 𝚜𝚊𝚒𝚊 𝚍𝚊 𝚗𝚘𝚒𝚝𝚎,
𝙲𝚊𝚌𝚘𝚜 𝚍𝚎 𝚝𝚎𝚕𝚑𝚊, 𝚙𝚎𝚍𝚊ç𝚘𝚜 𝚍𝚎 𝚝𝚒𝚓𝚘𝚕𝚘𝚜,
𝚄𝚖 𝚊𝚛𝚊𝚖𝚎 𝚒𝚗𝚞́𝚝𝚒𝚕 𝚜𝚊𝚕𝚝𝚊𝚍𝚘 
𝙲𝚒𝚖𝚎𝚗𝚝𝚘 𝚎𝚗𝚍𝚞𝚛𝚎𝚌𝚒𝚍𝚘 𝚊𝚘𝚜 𝚙𝚎𝚍𝚊ç𝚘𝚜,
𝙰𝚛𝚊𝚗𝚑𝚊𝚜, 𝚌𝚎𝚗𝚝𝚘𝚙𝚎𝚒𝚊𝚜, 𝚏𝚘𝚛𝚖𝚒𝚐𝚊𝚜 𝚎 𝚕𝚊𝚐𝚊𝚛𝚝𝚘𝚜 
𝙼𝚘𝚗𝚝𝚞𝚛𝚘 é 𝚖ãe 𝚚𝚞𝚎 𝚊𝚋𝚛𝚒𝚐𝚊.
𝙳𝚎𝚙𝚘𝚜𝚒𝚝𝚘 aqui 𝚞𝚖 𝚙𝚎𝚍𝚊ç𝚘 𝚍𝚘 𝚎𝚜𝚙𝚒́𝚛𝚒𝚝𝚘 
𝚎 𝚊 𝚌𝚎𝚗𝚊 𝚎𝚜𝚝𝚊́ 𝚌𝚘𝚖𝚙𝚕𝚎𝚝𝚊.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Atravessando a noite escura

Atravessando a noite escura,
caminhei a chorar
coletando todos os pedaços
dos corpos destroçados,
de sonhos cruelmente assassinados,
de tantas mulheres
forçadas a serem o que não são.

Ultrapassando o meio do caminho,
mas ainda longe dos raios do disco solar,
não é como legista que ajo, contudo,

estou mais para a velha dos ossos
que vai batucar um pouco
e fazer da carne e do osso
matéria de renovada vida
tudo bastante possível
desde o início dos tempos.



quarta-feira, 6 de abril de 2016

Amélie Poulain

O filme que me abraçou num período difícil e que me foi mostrado por um amigo, anos atrás, tem uma trilha sonora que é tão fundamental ao bom andamento da estória, quanto a presença das atrizes e dos atores. E é Yann Tiersen, responsável por essas belezuras de melodia. Olha o que a Wikipedia traz sobre o músico:

"Yann Pierre Tiersen la pierre (sic) (Brest, 23 de junho de 1970) é um músico de vanguarda, multiinstrumentista e compositor francês de origem judaica com raízes belgas e norueguesas. Compondo para piano, sanfona e violino, sua música aproxima-se de Erik Satie e do minimalismo de Steve Reich, Philip Glass e Michael Nyman. Tornou-se internacionalmente conhecido ao compor trilhas sonoras de filmes como O fabuloso destino de Amélie Poulain e Good Bye, Lenin!.
Passou sua infância em Rennes, também na Bretanha, onde estudou violino, piano e regência orquestral. De formação clássica, encaminhou-se para o rock já na idade adulta. Nos anos 1980, junta-se a vários grupos de rock em Rennes. Em seguida, começa a escrever trilhas sonoras para peças teatrais e filmes como "A vida sonhada dos anjos Giovanni" (1998), de Erick Zonca, "Alice e Martin" (1998), de André Téchiné e "O que a Lua Revela" (1999), de Christine Carrière."

Aqui a página oficial dele http://yanntiersen.com/. Lá tem um monte de informação sobre o trabalho do músico.

E na noite de hoje ele traz o fundo musical aqui em casa. ;)


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