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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O medo, a estrada e o muro

O medo não é só o alerta quanto a uma situação de perigo. O medo é um indicador da nossa potência. Um sinal de que ela tá acumulando muita energia que não está sendo aproveitada. E como o medo é direcionado, ele aponta o caminho de liberar a potência e transmutar. Quando ele vem, é porque aquele momento, ou pensamento, ou emoção tocou em algo que nos faria dar um salto no desconhecido da potência.

E é por meio desses saltos que a vida se apresenta de maneira única. Ultrapassando barreiras de tempo e espaço numa afirmação de si.

Nosso comportamento natural é permitir que os medos se transformem em muros que nos mantêm seguros, em limites de estradas já bem mapeadas. Muros seguros que nos impede de ver além do muro que também somos nós. Limites que treinam nosso olhar para o adiante supostamente já conhecido (por isso, seguro, ainda que nos maltrate), quando existem trilhas e veredas em profusão a serem percorridas e mesmo construídas a partir dos nossos passos.

O medo também é a intensa percepção do além muro e de que os limites da estrada conhecida não são obstáculos intransponíveis. A estrada, que um dia foi uma trilha que deu certo para a primeira de nós, (seja lá o que tenha sido esse "dar certo") e que, por segurança, por adestramento, por comodidade, por preguiça ou por fé sincera, a maioria de nós continuou a seguir.

E tanta infelicidade, tanta insatisfação, tanto medo surgem por resultado desse apenas continuar, já que aquela estrada não era sua e nem aquele muro era tão seu como você imaginava. Quem encontra sua trilha e tem coragem e possibilidade de segui-la, pode até vê-la transformada em estrada, mas ainda assim será sua estrada; também pode-se construir algum muro (eles podem ser úteis, por um tempo), um muro baixo, com vista para o outro lado. Mas daí ambos seriam potência transmutada em vida, compondo o cenário maior da paisagem, com muitos territórios a serem provocados em explosões de suas potências coloridas.

Já depois de terminar o texto, eu lembrei de um poema do Mario Quintana que eu relia muito, em uma determinada época da minha vida. Por algum motivo que eu desconheço, parei de relê-lo e segui por outros versos. Fala de um caminho velhinho, um caminho esquecido. O caminho dele me parece uma das minhas trilhas. Porque as trilhas podem ser caminhos já tentados e abandonados, caminhos já descobertos em outros tempos e esquecidos ou caminhos que nós mesmos começamos a trilhar e, que, pelos mais diversos motivos, largamos. Quintana me fez lembrar que essas trilhas adormecem, algumas podem até ficar em "estado de morte" se não tem mais seu caminhante. Mas sempre pode acontecer de uma trilha já abandonada por alguém que decidiu que era mais sereno seguir a "estrada de todos", sirva de incentivo para outros caminhantes percorrerem aquele caminho e criarem novas retas e voltas. Quem sabe a gente não esbarra com uma dessas depois que arriscarmos pôr o pé fora daquela estrada.

Tem uns 7 anos que essa foto aí foi tirada por uma amiga minha, numa das praias de São Luis. É meu eu de 7 anos atrás numa trilha, depois de tomar uma importante decisão.

Caminho (Mario Quintana)

Era um caminho que de tão velho, minha filha,
já nem mais sabia aonde ia...
Era um caminho
velhinho,
perdido...
Não havia traços
de passos no dia
em que por acaso o descobri:
pedras e urzes iam cobrindo tudo.
O caminho agonizava, morria
sozinho...
Eu vi...
Porque são os passos que fazem os caminhos!

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