- Pai, por que não ensinam pra gente o nome das flores
na escola? Eu ando por aí e me sinto uma ignorante na primavera.
Macêdo coçou a cabeça. Sua filha de treze anos sempre
vinha com essas perguntas fora de contexto. No momento, estavam indo buscar a mãe
com as compras pesadas, lá na estação do metrô.
-Não sei, filha. Talvez porque achem que isso não é
útil. Não serve para o sustento.
Um suspiro:
- Tem muita coisa inútil naquelas aulas e ainda assim
preciso fazer prova sobre elas. Por que não incluir aí as flores?
Macêdo já estava sem muita paciência naquela manhã de
sábado. Acordara atrasado e sabia que não seria bem recebido pela esposa, que
madrugou para conseguir as coisas boas da feira a um preço justo. Decidiu
apenas concordar com a filha com um sorriso cansado, enquanto tentava apressar
o passo.
- Aquela ali saindo da mureta chama gardélia.-
insistiu a mocinha, querendo mostrar que, a despeito das regras que comandam a
escola, havia aprendido por si só, como amostra de uma nascente rebeldia quanto
a uma utilidade fria do conhecimento.
Por um momento, seu Macêdo escapou de suas
preocupações conjugais e fixou o olhar na flor branca, logo ali adiante:
- É Gardênia que fala, querida.- corrigiu com uma
vinda de um outro país, quicá de um outro mundo.
-A filha, levemente constrangida, repetiu:
- Gardênia... Mas do cartão que caiu da sua carteira,
outro dia, estava escrito Gardélia e tinha o desenho dessa flor.
Macêdo olhou para a filha, sua recordação mais vívida
de seu outro rebento, deixado no outro mundo e que soubera, recentemente, que
partira para mais além...
- É que seu pai nunca escreveu muito bem. Sempre
confundo os nomes das coisas como flores, das pessoas...- Disse, sem olhar a
filha, enquanto colhia a florzinha fugida do muro de um jardim semi-abandonado.
Colocou no cabelo de Yasmim.
Quando encontraram a mãe, já estavam com trinta
minutos de atraso, mas a cara dela dizia que era bem mais.
N.B. Sousa