Conheci Mario Benedetti a partir do blog da assessoria jurídica popular do qual participava mais ativamente alguns anos atrás, numa postagem que mencionava o poema chamado “Entre dois céus”. “A trégua” eu adquiri no ano de 2009. Obra narrativa escrita em forma de diário pessoal pela personagem principal Martín Santomé, um senhor chegando aos 50 anos de idade, viúvo, pai de três filhos adultos com os quais tem uma relação distante, exceto pela filha e mais pelo esforço dela. Viúvo, Santomé trabalha há muitos anos em um escritório comercial, realizando um enfadonho serviço burocrático do qual tem apreço, mas está em vias de se aposentar. Seu grande drama dos últimos meses antes do último dia do trabalho é pensar sobre o que será de sua vida sem essa parte que lhe ocupava, mas que não preenchia seus dias. E então a perspectiva de dias mais cinzas e vazios ainda começa a pesar.
Isto até quando começa a notar a recém-chegada no escritório, Laura Avellaneda. Avellaneda, como ele a chama no diário, é uma jovem de 24 anos com quem começa uma amizade. A relação evolui. Contudo, o que parece ser o clichê de uma obra a respeito de um romance entre um homem de meia idade e uma jovem mulher é trabalhado por Benedetti como uma joia em meio aquele cotidiano cinza e medíocre que é a vida de todas as personagens. E de repente, o mais simplório e previsível, Martín Santomé, funcionário irrepreensível, cumpridor de suas obrigações (inclusive a de não se relacionar com seus funcionários) consegue rasgar o tecido do mais do mesmo, abrindo uma fresta de beleza e cor nas ruas da sua vida. O livro deixa lacunas, por se tratar de um diário de uma das personagens, o que permite ao leitor uma certa liberdade para preenche-las. Justamente essas lacunas dão o peso e o sabor da história. Não adianto o final, mas lembro que fiquei dias sob o efeito dessa leitura. Com direito a algumas lágrimas.
Essa é a edição de 2008 que tenho da L&PM POCKET |