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domingo, 1 de setembro de 2024

Soft, but not available for mistreament (um conto)

as coisas estão ficando super estranhas- é o meu momento*

 

A mulher cética

 

O mundo se torna uma grande repetição de romances românticos entre personagens melosos e possessivos. Os sentimentos são reduzidos àqueles que se encontram nas páginas desses livros e das fanfics feitas sobre esses livros. O número de suicídios e assassinatos por motivo passional se eleva. Suicídios quase sempre duplos, ou triplos, diga-se. 

Como resolver esse caso, que só poderia ser um primo distante e pobre de um enredo de Saramago?

A mulher cética está ali para ajudar. 

Apenas a mulher filha do verdadeiro feminismo do século XX pode resolver o problema e salvar as civilizações humanas de um colapso. 

Se ela chegar a se convencer que isso é algo ruim…

Porque no meio do caminho, ela descobriu que nem todos os grupos humanos haviam sido afetados pela contaminação. E eles não eram céticos.

Isso deixou a mulher cética bastante curiosa - porque ela era cética e não cínica.

Ela compreendeu que as chamadas das redes sociais e os jornais provavelmente tenham sido sensacionalistas quanto ao alcance do problema. O que faz muito sentido, pois o drama faz parte do enredo daquelas histórias.

Preferiu essa explicação a qualquer outra que a fizesse pensar demais nessa questão, o seu ceticismo é bom para poupar ATP.

 

Ou talvez ela tenha depressão.

 

Depois de muitos dias, não se sabe quantos, ela decidiu visitar esses outros humanos que desviavam do padrão.

Spoiler: ela concluiu que o padrão era algo muito relativo.

As ruas não eram das melhores para quem anda à pé, as margens dos rios estavam distantes dos leitos.Havia pouco cimento. A mulher ficou contente de ter vindo com uma bota velha.

Esses foram os melhores lugares que ela foi. Não há registro a respeito dessa experiência na internet.

 

Ela afirma que seus novos conhecidos foram os responsáveis pelos seus passos seguintes.

Foi uma experiência horrorosa. Ela decidiu não descrever o que viu - de propósito.

Nela, ela descobriu que não era assim mais tão cética e que todas essas vivências haviam mudado-lhe. 

Ela havia ido parar em ****. Ali as emoções humanas também estavam em alto volume, como nas civilizações, mas ela nunca havia sentido nenhuma delas antes. Não é que ela não tenha ouvido falar delas, mas ela aprendeu, por repetição, que as ditas cujas haviam sido extintas. 

 

Um lado da mulher feminista sorriu malevolamente. Ela sabia que a mulher cética estava mentindo. 

 

A mulher cética não demorou muito em ****. Ela nem mesmo sabe como conseguiu sair de lá.

Voltou correndo. Mas o ouvido ficou treinado para a histeria das novas emoções. Ela conseguiu lembrar delas, mas preferiria: não.

 

A praga amorosa não retrocedeu. A esperança de parte das pessoas sobre a missão da cética não durou um punhado de dias e na verdade ela logo foi esquecida. Mas o esquecimento deles não fez desaparecer nossa heroína.

 

Ela é que vagava, esquecida de si. Estava quase maltrapilha, o que era algo bom, porque ser ignorada era melhor do que ser notada naquele lugar.

 

A mudança da estrada asfaltada para a estrada de terra, causou o efeito de um despertador distante. A mulher cética percebeu que estava em um território com um cheiro diferente. Melhor. Os melhores lugares estavam de volta.

 

A mulher cética se tornou a mulher cuidada.A mulher cética tornou-se muitas outras mulheres, além da cética, da feminista e da cuidada. Elas viviam juntas. Elas nunca desapareciam. Elas estavam nas outras pessoas e no mundo. E era engraçado, de um jeito triste, olhar pela janela do seu antigo mundo, lugar de pragas estranhas e esquecimentos trágicos. Ainda era o seu mundo, mas agora ele era bem maior do que aquele que haviam lhe postos nas mãos num momento de desespero deles. E o que tinha ela a ver com aquilo? 


Fim da parte 1


suave. mas não disponível a maus-tratos.



 *adaptei do jeito que eu quis

sábado, 13 de janeiro de 2024

Demônios- Aluísio de Azevedo & Guazzelli

Reencontrei um velho amigo dos tempos de escola ontem: Aluísio Azevedo. O escritor maranhense, o maior nome brasileiro do naturalismo, deu as caras em uma HQ que escolhi ler para um projeto de verão, o conto Demônios. Foi uma surpresa me deparar com essa obra ilustrada. E, pensando nisso,  concluí que o naturalismo combina demais com a questão imagética. Suas descrições sensoriais só ganharam com as cores do artista Eloar Guazzelli, que leu o conto muito jovem, ainda. Aquelas impressões não devem ter saído do inconsciente de Eloar, que uniu sua imaginação a do antigo escritor e criou uma obra menos perturbadora, que curiosa e bonita. ❤

capa em roxo, cidade de são luis, peixes gigantes flutuando
série clássicos em hq - petrópolis- demônios- aluísio de azevedo & guazzelii


Da minha parte fiquei positivamente surpresa em encontrar tanto subgêneros atuais, fragmentados nesse delírio de Aluízio de Azevedo. Uma boa parte se assemelhou até mesmo com Elantris, do Brando Sanderson! 😇

Psicanálise, biologia, evolução, fantasia, terror, surrealismo, suspense, poesia. Essas são as minhas palavras para esse conto. 

Muito curioso, rápido de ler e eu acredito que inclusive as ilustrações ajudaram bastante a aumentar a dinamicidade do texto, que poderia ser enfadonho para o padrão acelerado contemporâneo. 

Por fim, deixo uma pergunta para você pensar depois que lê-lo: quem são os demônios? 😉

Super recomendado! ✌


Ps. Li Demônios para a Maratona de Leitura de Verão #MLV2024, que é um movimento na comunidade de leitores, criado pelo Victor Almeida, do Canal Geek Freak. Estou gostando de participar porque estou tentando variar um pouco nos gêneros e subgêneros. 💚

Pps. Eu aprendi na escola a chamar Aluísio DE Azevedo, então você viu escrito das duas maneiras, porque não estou aqui para padronizar. Ah! O nome dele todo era Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Flores do meu subúrbio



- Pai, por que não ensinam pra gente o nome das flores na escola? Eu ando por aí e me sinto uma ignorante na primavera. 

Macêdo coçou a cabeça. Sua filha de treze anos sempre vinha com essas perguntas fora de contexto. No momento, estavam indo buscar a mãe com as compras pesadas, lá na estação do metrô.

-Não sei, filha. Talvez porque achem que isso não é útil. Não serve para o sustento.

Um suspiro:

- Tem muita coisa inútil naquelas aulas e ainda assim preciso fazer prova sobre elas. Por que não incluir aí as flores?

Macêdo já estava sem muita paciência naquela manhã de sábado. Acordara atrasado e sabia que não seria bem recebido pela esposa, que madrugou para conseguir as coisas boas da feira a um preço justo. Decidiu apenas concordar com a filha com um sorriso cansado, enquanto tentava apressar o passo.

- Aquela ali saindo da mureta chama gardélia.- insistiu a mocinha, querendo mostrar que, a despeito das regras que comandam a escola, havia aprendido por si só, como amostra de uma nascente rebeldia quanto a uma utilidade fria do conhecimento.

Por um momento, seu Macêdo escapou de suas preocupações conjugais e fixou o olhar na flor branca, logo ali adiante:

- É Gardênia que fala, querida.- corrigiu com uma vinda de um outro país, quicá de um outro mundo.

-A filha, levemente constrangida, repetiu:

- Gardênia... Mas do cartão que caiu da sua carteira, outro dia, estava escrito Gardélia e tinha o desenho dessa flor.

Macêdo olhou para a filha, sua recordação mais vívida de seu outro rebento, deixado no outro mundo e que soubera, recentemente, que partira para mais além...

- É que seu pai nunca escreveu muito bem. Sempre confundo os nomes das coisas como flores, das pessoas...- Disse, sem olhar a filha, enquanto colhia a florzinha fugida do muro de um jardim semi-abandonado. Colocou no cabelo de Yasmim.

Quando encontraram a mãe, já estavam com trinta minutos de atraso, mas a cara dela dizia que era bem mais.



N.B. Sousa

sábado, 30 de janeiro de 2016

Enantiodromia



Carta do Dixit

"A enantiodromia é entendida pela psicologia analítica como um pilar fundamental dentro do processo de compensação energético da psiquê, tal como o complexo de édipo é o pilar fundamental da psicanálise freudiana, Jung concentra suas observações nos mecanismos de compensação psíquica que evocam a processos de mudança na personalidade de indivíduos de forma significativa e curiosamente antagônica, em especial há sempre uma curiosa relação de contrariedade dentro do processo de mudança. Assim pessoas que tem em seus complexos o efeito da enantiodromia bem saliente estão dentro de categorias clássicas de indivíduos que tinham uma certa condição comportamental e a partir de um certo período de suas vidas sofrem uma mudança radical tanto comportamentalmente, quanto subjetivamente na condição qualitativa da sua configuração de personalidade. o conceito de enantiodromia pode ser aplicado a ideia de reviravoltas que uma pessoa pode dar na vida.
em casos como este, a psicologia analítica de Jung, entende que indivíduos que antes viviam uma condição que não correspondiam de fato a verdadeira identidade ou "self" de suas personalidades, a partir de um certo ponto, sofrem uma influência brutal de seus inconscientes numa tentativa de integrar aspectos não desenvolvidos do seu self em sua personalidade consciente, e não raramente isto implicaria em que a pessoa acaba por espontaneamente abandonar hábitos e valores que praticava e vivia provavelmente por influência do meio ou coerção familiar, e não que correspondesse de fato a aspectos e traços duradouros do seu real núcleo de personalidade. assim também a enantiodromia é também entendida quando um indivíduo vive uma vida de conceitos unilaterais com perspectivas "fechadas" e padrões obsoletos de pensamento, esquemas limitados, que uma vez que atingem um certo extremo na personalidade consciente, imediatamente um conteúdo psíquico de intenção oposta se formaria no inconsciente até o ponto de irromper na consciência, influenciando radicalmente uma mudança comportamental no indivíduo. Para Jung, é normal que em casos onde o indivíduo passa por transformações que sinalizam a integração de uma personalidade mais ampliada do seu self, tais indivíduos acabem passando por um certo período de conflito subjetivo e vivencial. em alguns casos os conteúdos reprimidos quando não acham qualquer possibilidade de expressão, acabariam por desencadear sintomas psicossomáticos, gerando doenças de origem psicológica no corpo, como uma forma última de compensar a energia retida desses complexos."

Source: https://pt.wikipedia.org/wiki/Enantiodromia

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