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sexta-feira, 25 de junho de 2021

De Pã e de Cristo

Noites Gregas- Podcast
Print do episódio: O último oráculo do podcast Noites Gregas























 professor,

é importante abandonar a faca cartesiana

longe desta mesa

esse pão se reparte com a mão

sua massa veio de uma receita

retirada de um naufrágio

restos perdidos em um mar que não existe mais,

 

no limiar do meu afogamento,

marinheiro pele escura

de melanina e de sol

chifres, pés de cabra,

e um imenso falo,

meu último sorriso no rosto

mancha de sangue aquele trecho de mar

vermelhos véus...

atravessam minha última vertigem

 

uma cruz, meu irmão

gêmeo, ou eu mesmo,

que sangra,

está em terra

quente, seca

aperta as pálpebras antes do fim

vendo mais longe

ele me garante a mim mesmo

ou mesma

que seremos um

e ele aprenderá minhas lições

e a terra de novo se tornará fértil

 

e assim, molhado e salgado, retorno à sua ceia

o trigo já em pão convertido

o meu sangue e o do meu irmão

a fertilidade do verbo e do chão.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

jandaia do meio dia e meio


jandaia do meio dia e meio
sabe o segredo dos carnaubais imaginados
teu escandaloso grito rasgado
rompe a cidade entorpecida
acorda meu reflexo nas roxas águas do lago
lençol no corpo grudado
se suor, se água, se sangue
eu não sei.


sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Benedita Onírica


Lembro de muito me espantar
a miragem da Igreja sobre a colina
que Teresina escolheu como altar

e tenho meus sonhos desde então
povoados de igrejas sobre colinas

não importa quantas cidades eu visite
há uma onírica essência invocada
no acúmulo daquelas literalidades:
colina, igreja, altar.

Paradoxalmente
                               propõe-me:  
                                                    prosopopeias,
                                                                              perífrases,
                                                                                                   paronomásias,

sorvidas pelo inconsciente
sustentando meu iceberg-self.

É à primeira Igreja sobre à colina que regresso:
A lapidada pelo sol, memórias de mãos e coxas negras,
De pedra, de pinguins musicais,
De degraus cansativos e de saias brancas
De chão amarelo setembrino
De um velho de vestido
que toca um piano invertido
Sob o sol.


parte detrás da igreja São Benedito contra um fundo de céu azul- gostei de ter feito essa foto

domingo, 9 de junho de 2019

Brené Brown: Vulnerabilidade e Coragem

Escutando o meu podcast favorito Talvez seja isso, que abordou pausadamente a mágica contida nas páginas do livro Mulheres que correm com os lobos, uma das sugestões extras das locutoras/criadoras Bárbara Nickel e Mariana Bandarra que se repetiu e chamou minha atenção foi a menção a Brené Brown (pelo modo afetivo que a Bárbara falava dela). Descobri o Ted da Brené Brown e vi que era um carinho e um puxão de orelha nas nossas almas aquilo ali.

Brown fala sobre vulnerabilidade, seu objeto de pesquisa há mais de 20 anos na academia. E ao contrário do que poderíamos pensar, ela não é uma mulher fofinha que defende a vulnerabilidade como uma coisa fofinha. Há uma mente bastante pragmática e eu diria até excessivamente disciplinada que se esforça em passar uma mensagem (sem usar a linguagem acadêmica, expondo-se) a quem se propõe a ouvir: não há criatividade, não há relações que valham, não há solidariedade sem exposição, sem vulnerabilidade. Não à toa Brown se tornou dessas autoras que persistem na lista dos 10 livros mais vendidos do The New York Times, além da sua palestra do Ted Talks ser das mais acessadas do mundo.(10 milhões de acessos até aqui).

Por isso, ter encontrado seu rosto nas novidades do Netflix esse ano foi uma surpresa muito encantadora e essa é minha sugestão dessa postagem: "O chamado à coragem". Eu ri e chorei e pus a mão na consciência e, acredito que se nos propormos a crescer como seres humanos, na vida pessoal, na vida profissional, como sociedade, tem muita coisa ali que merece um ouvido atento. Bora se dar uma chance? 



Uma das Ted Talks da Brené Brown


Ps. Essa é uma das postagens com mais tags que já fiz e é tudo de propósito ;)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O conto do espírito fujão, da bruxa e da Alma


Meu espírito saiu de mim, num átimo meu de raiva
Se afastou e olhava, birrento, o chão.
Enquanto isso, todos os cacarecos coloridos esvoaçavam
barulhentamente
cada um a tomar o seu lugar
como crianças em fila apressadas por uma professora rigorosa
numa ordem pesada
que não combinava com a simplicidade daquele quarto
nem com a mágica única contida em cada uma daquelas coisas
-mas todas bastante conformadas, lendo a dureza que meus gestos expressavam.

Quando a barulheira cessou,
O espírito levantou os olhos e me encarou:
a luz pareceu sumir,- restando um fraco brilho numinoso de seus aguçados olhos-
e ele bateu o pé esquerdo no chão:
o solo se abriu
e uma fenda se formou: de um lado ele e os objetos encantados, antes coloridos, agora acinzentados.
Do outro lado: eu.

E então uma voz infantil, mas segura de si, ocupou todo o espaço do quarto: foi isso que você fez.

E finalmente entendi que eu havia escolhido o mundano ao espírito
separando o que não deve ser separado
Naquele momento, caí em mim,
Feiticeira velha, calejada, de uma ordem milenar.
E diante do jovem espírito,
Mostrei as mãos encanecidas, cheias da minha vergonha,
Ajoelhei-me e pedi perdão ao menino.

E talvez porque ele era jovem e ainda cheio de frescor
De pronto desfez a fenda, a escuridão e devolveu as cores aos nossos objetos encantados
Que tilintavam novamente alegres.

E o espírito, antes de retornar ao meu corpo já não mais empedernido,
Jogou um sorriso que pairou como um prisma no ar
Junto com a lição para a Alma.


(obrigada, Elias) 

aplicação de neon sobre a casa da Madame Mim

domingo, 14 de outubro de 2018

Entrevista com Dani Marques




Hoje eu trago mais uma das nossas entrevistas com autoras piauienses (é só clicar na palavra chave referente aí embaixo para ver as demais). Hoje é a Daniely Marques, que até já teve postagem aqui sobre o lançamento de um dos seus trabalhos, que ela menciona (clica aqui). Aproveitem a entrevista:


1.       Dani, obrigada pela alegria de estar aqui no blog concedendo essa entrevista. Já tem um tempo que era para isso ter acontecido. Fala um pouco de você, apresente-se para nossas leitoras e leitores:

Olá, Nay! Agradeço a oportunidade de falar de mim e do zine “Desembucha, mulher!”.  Bom,  eu me acho um mix, sempre curiosa,  logo porque já tentei várias coisas nessa vida, e só agora me encontrei um pouco – espero que não seja tardiamente. Fiz duas graduações, e não trabalho em nenhuma das duas, me descobri mesmo trabalhando com a escrita. Teresinense, 33 anos, mãe solo de uma menina de 5 anos. A escrita foi o refúgio para me encontrar depois da maternidade, e ajudar outras a se encontrarem. 

Dani e a segunda edição do zine


 2.       Como surgiu esse plano de trabalhar com cultura, uma área tão bela, tão importante e tão subestimada no país?

O zine tem um lance místico, talvez tenha nascido da vontade de dizer uma basta a uma série de silenciamentos que eu sofri ao longo da vida. Nós mulheres somos feitas para aceitarmos tudo bem caladinhas, algumas conseguem, outras não. Quem não consegue, adoece, sente que existe um incomodo, e a fala, antes sufocada, acaba que necessitada de gritar. E como é que funciona esse grito? Através da arte, da cultura. Eu me identifico com a escrita, e vi que outras estavam no mesmo barco que eu. Por que não nos juntarmos? Daí a coletânea de textos, organizada de forma underground . E foi aí que eu vi que é tão complicado trabalhar com cultura, de certa forma, você incomoda

3.       E o “Desembucha, Mulher!”? Como um zine conseguiu alcançar tanta relevância no cenário local? O que você acha que ele significa nesse contexto de levante de mulheres historicamente silenciadas? Você sente que falta alguma coisa para que seu projeto se complete, ou ele alcançou um estado ótimo, dentro do que você tinha sonhado?

Todo o alcance do zine foi uma total surpresa pra mim. Eu não imaginava que ele teria esse alcance, e foi muito bom. O combustível que me dá força pra continuar com ele são os relatos de mulheres que sentiram contempladas de terem seus escritos publicados, impresso numa folha de papel, onde elas poderiam manusea-los, mostrar. É a concretização de uma ideia. Além de tudo é empoderamento, é não precisar de validação masculina. Tudo isso casa com esse momento do feminismo atual. No mais, eu queria ampliar, publicar mais autoras, lançar mulheres ótimas que estão por aí e sem oportunidade. Meu sonho é que quando alguém for citar autorxs piauienses pelos menos metade dos lembrados sejam mulheres.

4.       Você também é uma das mediadoras locais do grupo de leitura mais popular da atualidade no Brasil, o “Leia Mulheres”. Você pode resumir um pouco da proposta para a gente, incluindo aí sua própria experiência no grupo?

O “Leia Mulheres” é um clube de leitura que também combate essa predominância masculina nas nossas estantes. É triste constatar que a maiorias dos autorxs que falamos, que usamos como referências, são homens. E a proposta do clube é essa, tentar, nem que seja de forma mínima, tirar esse desequilíbrio, nos fazer consumir autoras, saber da existência delas. Nossa! Depois do clube já conheci tanta autora bacana.

5.       O que você diria para mulheres que tem filhos para criar (muitas vezes sozinhas, como é o seu caso) e que são diariamente desencorajadas pelo mundo a seguirem seus sonhos?

Nada é fácil para uma mãe, principalmente se for solo. Eu vivo vários dilemas, tentando me livrar de várias culpas que o sistema diz que são minhas. Ser mãe solo é você pegar dupla responsabilidade, assumir pelos erros de alguém omisso,  e ainda ser mal vista aos olhos da sociedade. Sonhar, trabalhar, realizar algum feito diante desse contexto é ser a própria resistência. Não posso garantir que todas nós vamos conseguir romper algum paradigma, ou que vamos alcançar nossos sonhos de forma integral. Não temos controle de nada, mas podemos começar a nos livrar do estigma da mãe perfeita, seria um ótimo primeiro passo. Não damos conta de tudo, e jamais esquecermos que antes de sermos mães somos mulheres.

6.       Quais seus próximos projetos? Pode compartilhar conosco?

Muitos projetos, mas tudo a seu tempo. Como respondi na pergunta anterior, sou mãe solo, e alguns acidentes acontecem ao longo do caminho. Risos. Mas assim que puder, de forma lenta e gradual, lançar uma coleção de autoras piauienses, a terceira edição do zine, continuar nas reuniões do “Leia Mulheres”, e sempre trabalhar ajudando outras mulheres a se sentirem encorajadas e motivadas a escreverem, ou fazer qualquer outra manifestação cultural.

 
Obrigada, mais uma vez, pela gentileza da entrevista, Dani. Espero em breve fazer outra postagem com o seu mais novo trabalho!
A Dani também é uma excelente jardineira <3

quarta-feira, 2 de maio de 2018

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