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domingo, 14 de junho de 2020

coronavírus: uma meia entrevista com Elias

Como as crianças pequenas estão encarando a pandemia e a redução do seu espaço de contato com o mundo? O diário quis ouvir um dos pequenos que ainda tem acesso nesse momento e trouxe aqui para compartilhar esse carisma: Elias Barros Romero (4 anos), que anda convivendo apenas com a família nessa quarentena- com a devida autorização do seu pai, meu irmão.



Infelizmente a tia tava mais preocupada em achar fofa a cena e perdeu os últimos segundos de fala dele, que continham algumas pérolas. Mas ele finalizou depois, mandando beijos. <3


Elias lembra que os espaços da cidade também são das crianças, coisa que é tão fácil de esquecer, falando daqui da altura do mundo adulto. Elas sentem falta de seus espaços. Em outra conversa ele comentou que sente falta de visitar as pessoas, da casa alheia, rs. Vamos continuar torcendo pra que essa pandemia passe logo, que sobrevivamos e que as ruas e os parque e os shoppings voltem a ficar apinhados de crianças só querendo o que é delas que é o brincar.

sábado, 9 de maio de 2020

A última a saber

O tatu e o Gandalf e o Tolstoi e o Quintana e a gata
não sei bem dizer se li de outrem 
ou se vivi aqueles versos 
aqueles fatos 
aqueles fartos encontros 
em que minha alma- desobediente
- fez companhia à sua 
sem me avisar.


segunda-feira, 13 de abril de 2020

Cozimento


Eu disse a ele:

- Não fale nada agora
suas palavras não estão prontas
o forno só está morno
e a paciência é tempero raro
convém aproveitá-lo
para termos uma boa refeição
sopa e pão
bolo recheado e felação
é preciso algum esforço
desacelerar o ato
nheeeeeec nheeeeeec
a altercação
paaaf
o prato exigente
triiiick triiiiick
agora sim
tudo vai se encaixar
experimenta aqui um pouco?


Um prato azul de sopa e um pão 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Gotas

As opiniões e os gostos das pessoas que já amamos se tornam, por vezes, como gotas densas de algo que se deposita no fundo da alma. Eventualmente alguma coisa agita esse local de descanso e elas retornam à superfície, borbulhando e aderem a um objeto, a um lugar, ou a um sentimento e se misturam a ele. Desaparecem, por se transformarem em outra coisa. Retornam ao fundo da alma, agora mais densos, se a transmutação não ocorreu. Nesse último estágio, talvez sejam expelidas com violência, na próxima oportunidade. Talvez se tornem catalizadores de feitos incríveis da alma que residem. Talvez tirem a vida dela aos poucos. Quem sabe? 

Gota desenhada com aquarela preta
gota desenhada com lápis de cor preto e cinza

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Tarô e bibliografia particular


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS QUE INSPIRAM A MINHA LEITURA DE TARÔ

Joseph Campbell: os 4 volumes da mitologia e o poder do Mito. O poder do mito (a longa entrevista).
Bachelard: todos da fase noturna do filósofo.
Warat: para quem tem uma formação mais burocrática, como eu, inicialmente pode precisar de uma leitura como as obras do Warat como “A ciência jurídica e seus dois maridos”, para se soltar, lembrar que o mundo pode ser mais desejante e voltar a sonhar, mesmo em lugares inóspitos.
Simbolismo e poesia em geral: se você pensar bem, suas aulas de simbolismo já davam uma dica que interpretar por analogia e associação, bem como deixar a imaginação vagar pode dar bons resultados. Particularmente o Cruz e Souza, poeta maranhense e o Da Costa e Silva, piauiense com seu Zodíaco, podem dar uma mão. Eu acrescentaria o Mario Faustino, que não é simbolista, mas inspira num sentido interessante para o tarô. Poesia em geral, quando você segue a regra da entrega absoluta ao autor, pelo menos na primeira leitura, é um meio muito eficiente de estimular a sensibilidade aos símbolos do jogo.
Jung: É o fundamento racional principal junto com o Campbell, no meu caso. Não gosto de usar esse tipo de justificativa, porque não é meu desejo transformar o tarô em uma pesquisa acadêmica. É uma prática intuitiva, de imaginação e de alteridade. Mas o Jung pesquisou tanta coisa que é ignorada pela academia desde a época dele, que quem trabalha com imaginário e sonhos pode muito bem aproveitar para usos práticos. O livro a respeito inconsciente coletivo e os arquétipos dele me ajudou bastante, porque traz vários desses modelos gerais da humanidade que surgem em fábulas, religiões, mitologia, sonhos e manifestações do inconsciente em termos vários, que se manifestam em técnicas como o tarô, também. Os livros deles a respeito de alquimia, que na minha opinião são os mais difíceis, são interessantes pelas imagens que sugerem e pela pesquisa histórica.
Clarissa Pinkolas Éstes: O livro Mulheres que Correm com os Lobos e suas histórias bem narradas e aprofundadas nos comentários da autora psicanalista e catadora de histórias ancestrais, ajuda-nos a projetar mais longe tanto os personagens que surgem nas cartas, como a própria narrativa da vida do consulente. Além de ser uma excelente ferramenta de auto descobrimento, especialmente para as mulheres, as grandes guardiãs da arte do tarô ao longo dos séculos.
Marion Zimmer Braddley: não vou negar a influência da Marion, apesar de algumas ressalvas atuais. Seu As Brumas de Avalon e as demais obras que narram a vida das sacerdotisas que aparecem em muitas versões do tarô ajudam-nos a imaginar a velha, a donzela, o velho, o sábio, a rainha, o rei e toda a sorte de imagens relacionadas a uma corte real envolvida com magia, que é, por exemplo um tema tradicional do tarô como o de Marselha. Passei anos encantada com a obra dela e sua versão da lenda do Rei Arthur.
Cecília Meirelles: eu entendo que a linguagem que a Cecilia Meirelles (neossimbolista) adota em muitos dos seus poemas, ajudam na leitura do simbólico contido no baralho. Ela me inspira na poesia, além do deleite- eu não leio poesia visando nada além de ler a poesia, mas que bom que veio esse bônus e posso compartilhar.
Por acaso, o meu estilo de poesia evoca o simbólico, a natureza e as emoções, todos artigos muito caros para quem lida com o tarô. Se você quiser dar uma olhada, é só correr os olhos no blog. Eu aposto que quase toda taróloga ou todo tarólogo é, no fundo uma poeta, um poeta.
Por falar em bônus e em natureza: livros que evoquem nosso contato com os elementos naturais são interessantes. Talvez o Bachelard ajude nisso, mas também o Walt Whitman, a Emily Dickinson e o Thoreau contribuam em construir uma boa atmosfera interior para quem não teve esse contato direto com a natureza, ou quem, como eu mencionei antes, está com uma formação mais enrijecida, meio “cartesiana”. Se você já tem um contato profundo com essa natureza não humana, aproveite, pois ela é uma biblioteca espontânea do imaginário e do sensível que importa para o tarô, a sensibilidade para perceber e ampliar essa percepção da vida em seus ciclos são fundamentais para essa arte.
A internet está cheia de sites com modelos de baralhos e de jogos, você pode recorrer a vários deles, como eu faço e aprender, treinando com o que mais se identificar.

Carta da Cavaleira, naipe de copas, tarô cigano.


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Diário da Dora

Dora tem que lidar com suas próprias angústias de filhote: nem sempre querem brincar com ela; a gata não deixa que se aproxime; a cachorra mais velha é impaciente; nem todas as meias foram eliminadas; não pode retirar toda a areia do vaso de planta. 

Pelo menos deixam que fique num cantinho mais frio do quarto, para um suspiro profundo e sua sonequinha. 





sábado, 30 de novembro de 2019

deslocamento urbano




A criança está doente 
a cabeça no ombro da mãe
proteção contra a enfermidade
e ao sacolejo do busão.





terça-feira, 26 de novembro de 2019

Nasce o Instituto Esperança Garcia

Deixo um convite bonito e importante aqui no blog:

Nessa sexta-feira, nascerá oficialmente o Instituto Esperança Garcia. O Instituto é abrigo-andante de projetos-sonhos de educação em Direitos Humanos feminista, antirracista, contra-colonialista e anticapitalista. O encontro-anunciação será das 19h às 22h, no auditório da OAB/PI. Será gratuito e contará com o lançamento da quarta turma da Pós-graduação em Direitos Humanos Esperança Garcia com a Faculdade Adelmar Rosado; o lançamento do livro “A negação da liberdade: direito e escravização ilegal no Brasil oitocentista (1835-1874)” de Gabriela Sá; e da Campanha Esperançar com a Defensoria Pública do Piauí. 

Sua presença é muito importante.

 Até lá <3


domingo, 6 de outubro de 2019

Estou doente porque a palavra está doente

Estou doente porque a palavra está doente
Tento esquivar-me, esconder-me, calar-me
Sinto-me caçada pela doença da palavra
Entro num beco escuro
Refugio-me na sombra
Tento respirar mais baixo
Para não lhe chamar a atenção

Acamada, finjo que durmo, quando vens me visitar
Pinto, fotografo, escrevo versos em outras línguas, compartilho experimentos oníricos e planto sementes andinas.
Agarro isso num feixe, meu patuá, contra a sua palavra adoentada. 
 
Lilo para quebrar o meu drama

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