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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A Marvellous Light - Freya Maske

 




Uma luz maravilhosa


Fiz questão de escrever esse pequeno comentário, porque fui surpreendida positivamente pelo livro "A Marvellous Light", de Freya Maske


Apesar de usar um pano de fundo parecido com Harry Potter (da finada Jennifer Katarina), em parte da construção da magia e no modo com as famílias mágicas se apresentam, a autora supera essa inspiração nos melhores momentos. É tudo o que eu queria de Peças Infernais da Cassandra Clare na ambientação e nas relações dos personagens principais. Robin e Edwin são muito queridos e até os defeitos desse último compõem muito bem a complexidade da personalidade de alguém que foi tratado (e maltratado) como alguém fraco, mesmo sendo um dedicado autodidata. Já Robin, um homem sem magia, que estava perdido na vida, quando arranja esse emprego muito estranho, por conta do qual descobre que a magia existe, reage de um modo que foge um pouquinho ao clichê.


A propriedade, o terreno que aparece como parte central da história e sua relação com os proprietários é para mim o ponto alto da construção de mundo de magia da autora.


O vilão é odioso, mas não tem tanto espaço, o que eu gosto. Ele nem mesmo é o grande vilão, que ainda vai aparecer em outro livro, ao que parece. Foi aí que eu descobri que se trata de uma trilogia.


Robin e Edwin juntos formam uma boa dupla de investigação, a relação entre eles vai se aprofundando a partir disso- é muito orgânico e bonito. E, sim, tem partes apimentadas. Confesso que eu cortaria a metade do hot para incluir mais conversa entre eles, preciso que a autora entenda que esse é o ponto forte dos dois.

No mais posso dizer que recomendo a leitura para quem gosta de fantasia urbana, uma fantasia numa Inglaterra do iniciozinho do século XX. E de acordo com a nova gíria literária dos jovens, é uma romantasia

O maior problema do livro, é que ainda não foi traduzido para o português. Espero que entre no radar das editoras que publicam o gênero aqui no Brasil.





sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Lendários: resenha e comentários

 

Capado livro Legendários, de Tracy Deonn

Vim aqui falar BEM de um livro jovem que terminei essa semana. Esse aí da capa, que infelizmente não encontrei em um formato maior, por que merecia, heim? 🔍

Na capa, como vocês devem imaginar, temos a personagem principal: sim, Bree, uma garota negra. Não sei se foram os elogios dos booktubers, instagramers da vida, ou se foi essa capa linda que sugere magia e algo mais que me atraiu. Um pouco de tudo, além de ficar sabendo que o nome desse volume faz referência a Lenda do Rei Arthur. SIIIM!!! Eu fiquei louca quando descobri isso "como assim uma menina negra e a távola redonda?? amei!!". 😍

Um dos temas mais sagrados de muita gente otária no mundo dos romances épicos de cavalaria e seus filhotes contemporâneos da fantasia, romance histórico (?) e afins, que por acaso também me agrada. Mas quero pensar que não estou no grupo dos otários. Pelo menos com certeza não dos otários brancos. 😎

Piadas à parte, Tracy Deonn convida a lenda europeia a conversar com nossas tradições americanas, formadas desde os 1500 e todas as contradições e dores que subjugaram inúmeros povos tanto originários, como aqueles trazidos contra sua própria vontade para essa terra. Sua riqueza cultural e sabedoria vieram junto, a despeito do que os colonizadores pensavam. 💪

Apesar de todo esse peso, Deonn consegue escrever seu livro de quase 600 páginas de uma forma muito dinâmica e com muita leveza, adequada para seu público alvo inicial (pessoas de 14/17 anos). Ela é tão bem sucedida nisso, que cá estou, com muito mais de 14 anos, tecendo loas a sua bela obra. 📚

Quem foi da geração Harry Potter, antes que a autora mostrasse suas garras transfóbicas, e sente falta daquela dinâmica dos primeiros livros, as descobertas, tudo muito sério, mas não tão sério quanto iria ficar, vai simplesmente AMAR. Bree começa suas aulas do programa de iniciação na Universidade da Carolina do Sul (onde a Deonn também estudou) e a partir de lá, carregando o luto recente pela morte de sua mãe começa sua jornada com a amiga de infância Alice. Enquanto Alice se dedica de modo bem caxias às regras do curso, desde o início Bree é levada, digamos assim, a ver coisas que outras pessoas não viam. Inclusive ver outras pessoas estranhas fazendo coisas que ninguém acreditaria se contasse. 👹

Bree decide tentar entender o que está acontecendo, especialmente quando começa a descobrir, com seu novo amigo, lindo, alto forte, loiro e paquera Nick, que a morte de sua mãe estava cercada de elementos estranhos. Nick é extremamente gentil e protetor e parece ter fugido da influencia familiar, depois do desaparecimento da própria mãe. Mas não é só dessa influencia que ele tenta fugir, sua antiga "sociedade anônima" parece sentir sua falta. Bree acredita que algo naqueles edifícios antigos nos quais essa sociedade estranha se localiza, existe algo que ajude a explicar o que aconteceu no dia da morte de sua mãe. Sua incursão ao prédio, obrigando seu amigo a retornar a um lugar que tentava esquecer. 🏢

Ao longo da obra, vamos compreendendo que o temor de Nick e as suspeitas de Bree convergem. Entre eles um ser bastante poderoso vai se revelar um aliado complicado, que ambos não sabem se amam ou odeiam: Sel, o Mago-Real aparentemente criado com Nick. Bree terá que aprender muitas coisas ainda sobre seus novos amigos e especialmente sobre si mesma. 💡

Para não alongar mais ainda a resenha, alguns pontos que chamar a atenção e que o livro contém (ao meu gosto, claro): 💁


- amizade é uma relação tão importante quanto o amor romântico; 👫👬👭

- relações de ancestralidade da Bree; 🌳

-poderes mágicos vindos também da tradição africana;🌿✨

-mulheres fodas; 💪

-jovem que se comportam como jovens quando se frustram; 💥

- Rei Arthur, Lancelot, Merlin ; 👑

-diversidade lbgtqia+; 🏳️‍🌈

-crítica social à colonização e seus desdobramentos no campus; 🎓


É isso. Já estou com o volume 2 para ler, que ainda não foi traduzido para a português, mas esperamos que venha pra cá em breve! 🤩


Ps. Acho que nunca fiz uma postagem sobre isso, mas sou apaixonada pelas histórias arthurianas, consumindo desde livros, filmes, séries e até CDs de música que falam do tema. E foi uma grande alegria conseguir me perceber nesse livro da Tracy, que ainda era possível sim uma identificação aos muito mais sofisticada da obra com a nossa vivência aqui nessa terra complicada. Pra mim ela melhorou o cânone. 📜



Bree vestindo blusa azul e calça jeans clara e tênis branco


quinta-feira, 23 de junho de 2022

Livros Leves: lista amiga I

Dicas Livros Leves 🌿

 

Hoje começo a mostrar a primeira parte da lista de livros leves que uma das pessoas que eu conheço que mais entende de livros, traduções e Simone de Beauvoir, minha amiga Heci Candiani. Curiosamente nessa lista, não há nenhum livro da Simone, haha! Mas vamos lá. que as dicas são preciosas!💎


um cocker spaniel cor de mel fofo na capa


🐶Flush: Uma biografia, Virginia Woolf 

O livro famoso trata do cãozinho Flush, publicado em 1993. Virginia Woolf deu-lhe vida, dotando o Cocker Spaniel de complexidade acessível aos humanos, ganhando vida, enquanto tenta entender a si mesmo e o mundo. (ver o link da LP&M no título)

Eu dei uma olhada nas resenhas e sites que editoram e vendem o livro e descobri que existem versões para todos os bolsos, de 0,00 reais a muitos reais. . E, além das imagens fofas de cachorro, encontrei esse comentário sobre o livro, que me deixou mais interessada.

"O livro continuou relegado ao porão das curiosidades literárias pelas décadas seguintes até ser redimido, no final dos anos 1990, pelo florescente campo acadêmico dos “Estudos animais”. Mas não sem algum reparo: embora alguns lhe atribuam o mérito de certo pioneirismo ao assumir uma visão menos antropocêntrica do mundo, outros criticam-no por perpetuar a tendência antropomorfizante que caracterizaria a literatura em geral. De qualquer maneira, a renovada importância dada ao livro no contexto da chamada “virada animal” significou uma espécie de vingança da divertida paródia biográfica de Virginia." (resenha tag:livros)

🌹A Princesa de Clèves, Madame de La Fayette

Capa da Edição da Edusp- parece ilustração dos 1500


Graças a essa lista da amiga Heci, pude saber da existência dessa obra, que é um marco para o romance como gênero literário. Escrita em 1678, pela Madame de Lafayette (1634- 1693), o livro, até onde eu entendi, inova no enredo, que, apesar de falar de amor, foca no mundo interior das personagens, em vez de mergulhar no estilo das novelas de cavalaria, com desafios externos em cascatas a serem superados. Encontrei preços entre 17 e 50 reais, o livro tem cerca de 164 páginas, em pelo menos duas editoras aqui no Brasil: a da Folha de São Paulo, uma edição em ebook na Amazon, outro livro físico pela Record, e uma da EDUSP, que vocês encontram aí nas próprias editoras ou nos grandes sites. 


O auto da maga Josefa, Paola Saviero

Até aqui esse foi o que mais me atraiu. O que li dele, já me fez rir e me deixou curiosa para saber o que Toninho, caçador de demônios e sua mula "Véia" vão fazer nas suas empreitadas contra mal, junto com a companheira de caçadas, a maga Josefa, a própria filha do sete-peles. Paola Saviero lançou a curiosa obra no ano passado (2021), pela editora Gutemberg, com uma capa lindíssima e pela editora Dame Blanche, que tem uma capa bonita, mas eu gosto de coisas bem coloridas. Tem essa resenha aqui, no blog Ficções Humanas e, aqui, no blog Dei Um Jeito. A obra tem 250 páginas e cerca de 33 reais. 😎

Capa da Editora Gutemberg: adoro!


💟Uma ideia toda Azul, Marina Colasanti

Uma ideia toda Azul vem conversar com crianças e jovens, mas não só! Se tratando de fábulas e contos de fada, eu mesma me incluo nesse público. Personagens aparentemente solitários, sejam gente, sejam bicho, parece que querem compartilhar um segredo mágico com quem lê. É um livro que ganhou o prêmio da crítica em 1979, ilustrado pela própria escritora (eu acabei de lembrar que tenho um livro dela ali na estante cheio de poemas). Encontrei o livro para vender em ebook, livro físico, só em sebo. Acho que vale muito ter em casa. O conto do rei, que é o primeiro capítulo, tem de graça na Amazon e é cheio de imagens, sensações, poesia. 👑

Essa é a capa de 1979, feita pela autora.



E por enquanto aqui termina a primeira parte da lista que ganhei das amizades. Na próxima postagens, as últimas 5 obras indicadas pela tradutora, pesquisadora & minha amiga pessoal Heci Candiani. 💙

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Dia de Ursula K. LeGuin

foto da ursula leguin já idosa

Hoje seria aniversário da grande escritora de fantasia, ficção científica e ensaios Ursula K LeGuin. Esse aí na fanart é Ged, maior mago de Terramar/Earthsea.


Ged e a dragão

Sabe Hogwarts, escola de bruxaria etc? Ce vai entender de onde vem a inspiração lendo a história de Ged. Existem algumas coisas datadas, talvez, mas são importantes para a fã da ficção científica acompanhar as diferenças nas épocas- no futuro, também seremos julgadas, rs. Ainda assim, há muito mais a aprender e se encantar com aquele mundo misterioso criado pela autora. [spoiler ou não] No meu caso, adoro a relação do protagonista com os dragões e mesmo o modo como ele vai amadurecendo e especialmente como não é perfeito; e ainda a existência de um outro tipo de vida e religião, quando Tenahu aparece [fim do spoiler]. Também me encanta acompanhar Ged desde muito jovem e a passagem do tempo até uma idade bem madura, os encontros que ele tem ao longo da sua jornada e os lugares que visita são sempre envoltos em uma aura que cativa quem lê.

Ursula k LeGuin jovem- foto preto e branco


Por falar nisso, existe uma adaptação dos studios Ghibli do Ged já maduro, onde na verdade ele não é o personagem principal, mas que talvez valha a pena assistir. Não ficou excelente- como é o costume das coisas que o estúdio produz-, mas dá pra aproveitar a beleza da animação e usufruir de elementos queridos da história em uma mídia diferente. (Tem na Netflix)

Ged e o futuro príncipe das ilhas


E aqui duas obras da Ursula, que nossa amiga Heci Candiani traduziu "Floresta é o nome do mundo" e "A curva do sonho" e que não estão esgotadas- sim, porque os Contos de Terramar não são facilmente encontrados em português, infelizmente. Você encontra circulando com facilidade também "A mão esquerda da escuridão" e "Os despossuídos", traduzidos por Susana l. de Alexandria (obrigada a Heci e a Fabi pela informação, no twitter).

a capa do livro: floresta é o nome do mmundo

E tem esse maravilhoso episódio do Podcast Benzina, sobre a mestra Ursula K LeGuin: "A literatura xamânica de Ursula K. LeGuin", no qual Orlando Calheiros e Stephanie Borges, apostando que os livros de Le Guin é capaz de nos lembrar que existem muitas vidas possíveis, para de um Brasil em escombros. Lá, como a própria chamada do episódio diz, eles vão "traçando relações entre a literatura, o xamanismo, os sonhos e a capacidade de criar outras realidades. Alienígenas andróginos e colônias anarquistas na lua rendem histórias maravilhosas e podem nos dizer muito sobre as pessoas e as vidas da Terra e outros futuros possíveis." É muito gostoso de ouvir, recomendo fortemente o episódio e o podcast (além dos demais trabalhos da dupla).

banner do podcast benzina em laranja no spotify


E é isso. Ainda não li tudo o que essa grande mestra produziu, mas é bom saber que existe tanto material ainda a percorrer. Espero ter conseguido convencer mais uma ou duas pessoas a ler a Ursula, também. 💜

terça-feira, 18 de maio de 2021

Romances & Fantasias que saem da caixinha

 

bandeira do orgulho lgbtqi+
Arte da Bandeira do Arco-Íris

Depois de muuuito tempo, senti vontade de escrever uma postagem longa. Chega mais! 😉

Aproveitando o dia internacional de combate à lgbtqi+ fobia (17 de maio!), cumpro um desejo de fazer essa postagem falando de alguns livros queridos que andei lendo ultimamente. Lembrando que aboli quase todas as leituras distópicas e que tirem o pouco de esperança que me resta- vocês entendem, né? Talvez viver sob pandemia e no Brasil tenha algo a ver com isso. Infelizmente, ainda não consigo cobrir toda a bandeira, mas, ao final, tem uns links de outros blogs muito mais avançados nesse quesito. Bora lá!

Os três livros da trilogia as peças infernais
As peças infernais. Por acaso os três personagens das capas são representações jovens Will, Jem e Tessa, que você conhece logo de cara na obra

No meio das minhas leituras de romances e históricos e livros de fantasia (escrito por mulheres), que tem sido meu foco de leitura desde o ano passado- tipo, exclusivamente MESMO- terminei esbarrando na trilogia PEÇAS INFERNAIS, da maravilhosa escritora estadunidense, mas nascida no Irã, Cassandra Clare*. A história é envolvente, os personagens são adoráveis e mesmo se tratando de adolescente, são poucos os momentos em que eu perdi a paciência com as teimosias que as escritoras de ficção fantástica impõem às heroínas e heróis para darem a impressão de que tem a personalidade forte. É um mundo cheio de figuras fantásticas como lobisomens, vampiros, fadas, feiticeiros e os Caçadores das Sombras, quase sempre o foco de suas trilogias. É curioso o modo como um triângulo amorosos (mas eu confesso que detesto livros com triângulos amorosos em um mundo em que existem outras possibilidades de relacionamento) é desenvolvido lá, além disso, não me escaparam a percepção de que a classe que tem o digamos “Poder estatal dos anjos”, pode ser sim um tanto fascista.

As Crônicas de Banes, que já está traduzida para o Brasil 😋

Bom, mas não sendo esse o meu foco, passo adiante, no meio de toda a confusão desta trilogia, conhecemos o poderosíssimo feiticeiro indonésio Magnus Bane! E foi ele que me cativou e me chamou a atenção para as obras que indico a seguir. Tudo isso porque Magnus Banes é um imortal bissexual que tende a tragicamente a se apaixonar por mortais. 

Magnus, com seus olhos de gato em destaque e uma chama azul nas mãos- olhando de lado
O feiticeiro maravilhindo Magnus Bane. Sim, eu gosto muito dele

Fui completamente arrebatada por ele! Mais uma prova do poder de gerar empatia da literatura. A série de TV na Netflix cumpre bem o papel de apresentar o personagem, ainda que peque em outras coisas (efeitos, simplificação de tramas mais densas etc), é fato que Harry Shum Jr., valeu à pena demais a audiência que eu dei, não me arrependo de NADA!

uma sala com um sofá escuro, flores no canto esquerdo, Alec, um homem branco alto, beijando um homem moreno com traços asiáticos (Magnus Bane), nesse sofá
Nenéns- Sim, nosso ship MALEC, no início da relação dos dois 😍

O melhor de tudo é que ao mesmo tempo que fui assistindo a série fui descobrindo (e lendo!), que a autora também é fã de Magnus Bane- inclusive lutando para sua permanência nas bibliotecas escolares dos EUA. Ela escreveu um livro que é mencionado na mais famosa trilogia INSTRUMENTOS MORTAIS, convertido n’As CRÔNICAS DE BANE, e, como o nome diz, trata da episódios da vida do feiticeiro cheio de malemolência, glitter e um maravilhoso topete. Também está saindo no Brasil (até a data desta postagem) a trilogia AS MALDIÇÕES ANCESTRAIS, com ele e seu par romântico mais popular, o Caçador das Sombras Alexander Gideon Lightwood, tendo dos livros já traduzidos. Enquanto tentam se acertar na relação, os dois lutam pela aceitação no meio da resistência da Clave (a entidade que manda nos Caçadores das Sombras) e até entre os ditos “submundanos”, além de enfrentarem a resistência ao fato de serem de “grupos” diferentes (feiticeiro, portanto filho do demônio e caçadores das sombras, filhos do Anjo Raziel), precisam enfrentar a homofobia até de pessoas próximas, como a família de Alec. E autora não se esquiva de tornar isso uma questão. E tem mais casais lgbtqi+ lá, mas ainda não terminei a leitura de todas as trilogias da Cassandra (confesso que meu foco vinha sendo o ship MALEC- com as melhores fanarts e fanfics, procurem aí, não tem erro). Eu comentei no Clube de Profecias, que "Instrumentos Mortais" e seus derivados são "Harry Potter" com diversidade (Dumbledore adoraria Magnus). 

Capa do livro- os pergaminhos da Magia, volume 1 da trilogia mencionada
A capa do volume 1

Eu achei esses dois tão queridinhos, fiquei tão encantada, que fui atrás de mais livros, de outras autoras, com uma pegada parecida- sempre lembrando que não fosse tão horrivelmente pesado. Então achei mais dois (na verdade três), mais românticos, pois agora sou dessas. Um deles foi o “Vermelho, Branco, Sangue Azul”, que é muito adolescente ou jovem adulto e tão incrível, o casal lá é simplesmente o filho mais velho da presidenta dos EUA e... o príncipe da Inglaterra! Tem uns trechos sobre a pragmática da política estadunidense que acontece lá que me entendiou um pouco, mas a história deles é simplesmente fofa. No caso do príncipe, ele já havia assumido para si que era homoafetivo, o problema que ele enfrenta é parte da sua família (novidade), e o “primeiro filho” americano, ainda passando pelo processo de se compreender como lgbtqi+. E o percurso que eles fazem, cheio de altos e baixos, é muito cativante e a gente vira facilmente uma torcida desse casal. Fica aí minha dica! 💙💓

A capa do livro Vermelho, Branco e Sangue Azul- um desenhp de um rapaz moreno bonito e despojado e um príncipe loiro
Uma capa bonita dessas no meio da nossa biblioteca heteronormativa né meninas 👑💘👬

E, por último, mas não menos importante, uma duologia que também achei que merecia estar nessa postagem, chama-se ELE e NÓS, conta a história de dois amigos jogadores de hockey que, enfim, tinham tudo para ser um casal desde muito cedo, na adolescência, mas um mal entendido, ou mal conversado fato, atrasa esse encontro. O desenvolvimento do reencontro e do tempo que perderam foi bem escrito e eu adorei acompanhar- entre deliciosas cenas para maiores de 18 anos- estão de parabéns, aliás. ⛄💥👬

Capa (que capa!) do primeiro livro 


Como eu tinha prometido, aqui estão colegas blogueiras que são muito melhores que eu e com muito mais dicas de livros de romance LGBTQI+. Inclusive agradeço a elas abrir mais essa portinha para que eu pudesse diminuir minha defasagem nisso. Tenta ai! Quem sabe alguma dessas histórias de surpreende e você nota que amor é amor e a resistência é só manifestação da nossa ignorância. FORA QUE VOCÊ AMA LIVROS COMO EU E ATÉ MAIS, NÃO É MESMO?? 📚

Ps. Eu ia colocar na lista "A quinta estação", mas eu achei que precisava de uma postagem só para ele, porque aquilo ali é uma tratado brilhante! 

https://www.reviewbox.com.br/livros-lgbt/

https://www.laoliphant.com.br/resenhas/resenha-radio-silencio-alice-oseman

http://leitoracretina.blogspot.com/2020/08/new-adult-com-personagens-gays-lesbicas.html

https://lgbteca.com.br/gratuitos

https://blog.estantevirtual.com.br/2019/03/12/os-melhores-livros-com-tematica-lgbt/


sábado, 30 de janeiro de 2021

N. K. Jemisin: sobre agradecer e continuar

 

N. K. Jemisin de blusa amarela, em uma rua (Crédito da imagem: John D. & Catherine T. MacArthur Foundation)

Terminei hoje a trilogia Terra Partida da grandiosíssima, brilhante e importante N.K. Jemisen. Trata-se de ficção científica de alto nível e ao mesmo tempo é um tratado de tantos temas importantes e delicados para o hoje e para o amanhã. Mas aqui agora eu trago os Agradecimentos do terceiro e último livro "O céu de pedra" e o discurso que a autora fez quando finalmente foi receber o prêmio Hugo (ela ganhou 3, um para cada volume da trilogia, mas só apareceu no terceiro- o que eu compreendo). O Hugo é a principal premiação mundial nos gêneros Fantasia e Ficção Científica e vergonhosamente ela foi a primeira pessoa negra a ganhá-lo (com recordes). Eu chorei litros com o final da história e para completar, chorei mais com esses dois textos curtos que trouxe. Eis as palavras dela:

 

Agradecimentos

 

Ufa. Isso levou um tempo, não levou? O céu de pedra marca mais do que apenas o fim de mais uma trilogia para mim. Por vários motivos, o período durante o qual escrevi este livro acabou sendo o momento de mudanças tremendas na minha vida. Entre outras coisas, saí do meu emprego formal e me tornei escritora em tempo integral em julho de 2016. Bem, eu gostava do meu emprego formal, no qual eu podia ajudar as pessoas a fazerem escolhas saudáveis – ou, pelo menos, sobreviver por tempo suficiente para fazer isso – em um dos pontos de transição mais cruciais da vida adulta. Ainda ajudo as pessoas, eu acho, como escritora, ou pelo menos essa é a impressão que tenho daqueles de vocês que me mandaram cartas ou mensagens online me contando o quanto a minha produção literária os tocou. Mas, no meu emprego diurno, o trabalho era mais direto, assim como suas agonias e recompensas. Sinto muita falta dele. Ah, não me entendam mal: essa era uma transição de vida boa e necessária a fazer. Minha carreira como escritora explodiu da melhor forma e, afinal, eu amo ser escritora também. Mas é da minha natureza refletir em tempos de mudança e reconhecer tanto o que foi perdido como o que foi ganho. Essa mudança foi facilitada por uma campanha de Patreon (financiamento coletivo para artistas) que eu comecei em 2016. E, tocando em uma notícia triste... esse financiamento via Patreon também foi o que me permitiu me concentrar totalmente em minha mãe durante os últimos dias de sua vida, no final de 2016 e início de 2017. Eu não falo com frequência de coisas pessoais em público, mas talvez vocês consigam ver que a trilogia A terra partida é minha tentativa de lidar com a maternidade, entre outras coisas. Os últimos anos de minha mãe foram difíceis. Acho (tantos dos alicerces dos meus romances se tornam claros em retrospecto) que, de algum modo, eu suspeitava que a morte dela estava chegando; talvez eu estivesse tentando me preparar. Ainda assim, não estava pronta quando aconteceu... mas ninguém jamais está. Então sou grata a todos: à minha família, aos meus amigos, à minha agente, aos meus patrocinadores, ao pessoal da Orbit, inclusive a meu novo editor, a meus antigos colegas de trabalho, à equipe da casa de repouso, a todos, que me ajudaram a passar por isso. E foi por isso que trabalhei tanto para que O céu de pedra saísse no prazo, apesar das viagens e das hospitalizações e do estresse e de todas as mil indignidades burocráticas da vida após a morte de um dos pais. Eu definitivamente não estava no meu melhor momento enquanto trabalhava neste livro, mas posso dizer uma coisa: onde há dor no livro, é dor de verdade; onde há raiva, é raiva de verdade; onde há amor, é amor de verdade. Vocês vêm fazendo esta viagem comigo, e sempre terão a melhor parte do que eu tenho. É o que minha mãe ia querer.

 

 

 

 

DISCURSO DE N.K: JEMISIN CERIMÔNIA DE PREMIAÇÃO DO HUGO WORLD DE 2018

 

Eu comecei a cultivar toda uma superstição de que só ganho prêmios quando não apareço [na cerimônia]. [...] Este tem sido um ano difícil, não é? Alguns anos difíceis, um século difícil. Para alguns de nós, as coisas sempre foram difíceis e escrevi a trilogia A terra partida para falar dessa luta e do que é preciso para viver, quem dirá prosperar, em um mundo que parece determinado a quebrar você. Um mundo de pessoas que constantemente questionam sua competência, sua relevância, sua própria existência. Eu recebo muitas perguntas sobre de onde vêm os temas da trilogia A terra partida. Acho que é bem óbvio que tirei inspiração da história humana de opressão estrutural, assim como meus sentimentos sobre este momento na história americana. O que talvez seja menos óbvio é o quanto da história deriva dos meus sentimentos sobre ficção científica e fantasia. Por outro lado, ficção científica e fantasia são microcosmos do mundo mais amplo, de modo algum excluídos da mesquinharia e do preconceito do mundo. Mas outra coisa que eu tento abordar com a trilogia A terra partida é que a vida num mundo difícil não é nunca apenas uma luta. A vida é família, de sangue e encontrada; a vida são aqueles aliados que se provam dignos por ações e não apenas discursos; a vida significa celebrar cada vitória, não importa quão pequena. Então, enquanto estou aqui diante de vocês, sobestas luzes, eu quero que vocês se lembrem que 2018 é também um bom ano. Este é um ano em que recordes foram estabelecidos, um ano em que mesmo os privilegiados mais cegos entre nós foram forçados a reconhecer que o mundo está

quebrado e precisa de conserto, e isso é uma coisa boa, porque reconhecer o problema é o primeiro passo para consertá-lo. Eu olho para a ficção científica e fantasia como o ímpeto de ambições do zeitgeist. Nós, criadores, somos os engenheiros da possibilidade. E à medida que esse gênero finalmente, embora relutantemente, reconhece que os sonhos dos marginalizados importam e que todos nós temos um futuro, o mundo também fará isso. Em breve, espero. Muito em breve. E sim, haverá contraposiçõs. Eu sei que estou aqui neste palco aceitando este prêmio por basicamente o mesmo motivo que todos os vencedores de melhor romance anteriores: porque eu trabalhei para caramba. Eu verti minha dor no papel quando não podia pagar por terapia, eu estudei uma ampla gama de obras de literatura e me aprofundei nelas para aprender o que podia e refinar minha voz; escrevi um milhão de palavras de merda e provavelmente um milhão de palavras de meh. E, além disso, eu sorri e acenei enquanto editores de revistas bem-intencionados me aconselharam a moderar minhas alegorias e minha raiva. Não fiz isso. Eu cerrei os dentes enquanto um escritor profissional estabelecido me fez uma diatribe de 10 minutos, basicamente como uma representante de todas as pessoas negras, por mencionar a falta de representatividade nas ciências. Eu continuei escrevendo embora meu primeiro romance, The Killing Moon, tenha sido inicialmente rejeitado sob a suposição de que apenas pessoas negras iriam querer ler o trabalho de uma escritora negra. Eu ergui minha voz para rebater outros convidados em mesas que tentaram falar acima de mim sobre minha própria vida. Eu lutei contra mim mesma e a vozinha dentro de mim que constantemente, e ainda, sussurra que eu devia manter a cabeça abaixada e calar a boca e deixar os escritores de verdade falarem. Mas este é o ano em que eu posso sorrir para todos os contraditares; cada um deles, medíocres, inseguros, aspirantes, que abriram a boca para sugerir que eu não pertenço a este palco, que pessoas como eu não podem merecer tal honra, e que quando eles ganham é meritocracia, mas quando nós ganhamos é por política de minorias. Eu posso sorrir para essas pessoas e erguer um dedo enorme, brilhante, em forma de foguete na direção deles[1].Então, quantos de vocês viram Pantera Negra? Provavelmente, minha parte preferida é a canção tema de Kendrick Lamar, “All the Stars”. O refrão diz: “Esta pode será noite em que meus sonhos vão me dizer que as estrelas estão mais próximas”. Que 2018 seja o ano em que as estrelas ficaram mais próximas para todos nós. As estrelas são nossas. Obrigada. N.K. JEMISIN

 

 

[1] O troféu do prêmio Hugo tem o formato de um foguete

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