Hoje eu trago mais uma das nossas entrevistas com autoras piauienses (é só clicar na palavra chave referente aí embaixo para ver as demais). Hoje é a Daniely Marques, que até já teve postagem aqui sobre o lançamento de um dos seus trabalhos, que ela menciona (
clica aqui). Aproveitem a entrevista:
1.
Dani, obrigada pela alegria de estar aqui no
blog concedendo essa entrevista. Já tem um tempo que era para isso ter
acontecido. Fala um pouco de você, apresente-se para nossas leitoras e
leitores:
Olá,
Nay! Agradeço a oportunidade de falar de mim e do zine “Desembucha,
mulher!”. Bom, eu me acho um mix, sempre curiosa, logo porque já tentei várias coisas nessa
vida, e só agora me encontrei um pouco – espero que não seja tardiamente. Fiz
duas graduações, e não trabalho em nenhuma das duas, me descobri mesmo
trabalhando com a escrita. Teresinense, 33 anos, mãe solo de uma menina de 5
anos. A escrita foi o refúgio para me encontrar depois da maternidade, e ajudar
outras a se encontrarem.
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Dani e a segunda edição do zine |
2.
Como surgiu esse plano de trabalhar com cultura,
uma área tão bela, tão importante e tão subestimada no país?
O
zine tem um lance místico, talvez tenha nascido da vontade de dizer uma basta a
uma série de silenciamentos que eu sofri ao longo da vida. Nós mulheres somos
feitas para aceitarmos tudo bem caladinhas, algumas conseguem, outras não. Quem
não consegue, adoece, sente que existe um incomodo, e a fala, antes sufocada,
acaba que necessitada de gritar. E como é que funciona esse grito? Através da
arte, da cultura. Eu me identifico com a escrita, e vi que outras estavam no
mesmo barco que eu. Por que não nos juntarmos? Daí a coletânea de textos,
organizada de forma underground . E
foi aí que eu vi que é tão complicado trabalhar com cultura, de certa forma,
você incomoda
3.
E o “Desembucha, Mulher!”? Como um zine
conseguiu alcançar tanta relevância no cenário local? O que você acha que ele
significa nesse contexto de levante de mulheres historicamente silenciadas? Você
sente que falta alguma coisa para que seu projeto se complete, ou ele alcançou
um estado ótimo, dentro do que você tinha sonhado?
Todo
o alcance do zine foi uma total surpresa pra mim. Eu não imaginava que ele
teria esse alcance, e foi muito bom. O combustível que me dá força pra
continuar com ele são os relatos de mulheres que sentiram contempladas de terem
seus escritos publicados, impresso numa folha de papel, onde elas poderiam
manusea-los, mostrar. É a concretização de uma ideia. Além de tudo é
empoderamento, é não precisar de validação masculina. Tudo isso casa com esse
momento do feminismo atual. No mais, eu queria ampliar, publicar mais autoras,
lançar mulheres ótimas que estão por aí e sem oportunidade. Meu sonho é que
quando alguém for citar autorxs piauienses pelos menos metade dos lembrados
sejam mulheres.
4.
Você também é uma das mediadoras locais do grupo
de leitura mais popular da atualidade no Brasil, o “Leia Mulheres”. Você pode
resumir um pouco da proposta para a gente, incluindo aí sua própria experiência
no grupo?
O
“Leia Mulheres” é um clube de leitura que também combate essa predominância
masculina nas nossas estantes. É triste constatar que a maiorias dos autorxs
que falamos, que usamos como referências, são homens. E a proposta do clube é
essa, tentar, nem que seja de forma mínima, tirar esse desequilíbrio, nos fazer
consumir autoras, saber da existência delas. Nossa! Depois do clube já conheci
tanta autora bacana.
5.
O que você diria para mulheres que tem filhos
para criar (muitas vezes sozinhas, como é o seu caso) e que são diariamente
desencorajadas pelo mundo a seguirem seus sonhos?
Nada
é fácil para uma mãe, principalmente se for solo. Eu vivo vários dilemas,
tentando me livrar de várias culpas que o sistema diz que são minhas. Ser mãe
solo é você pegar dupla responsabilidade, assumir pelos erros de alguém omisso, e ainda ser mal vista aos olhos da sociedade.
Sonhar, trabalhar, realizar algum feito diante desse contexto é ser a própria
resistência. Não posso garantir que todas nós vamos conseguir romper algum
paradigma, ou que vamos alcançar nossos sonhos de forma integral. Não temos
controle de nada, mas podemos começar a nos livrar do estigma da mãe perfeita,
seria um ótimo primeiro passo. Não damos conta de tudo, e jamais esquecermos
que antes de sermos mães somos mulheres.
6.
Quais seus próximos projetos? Pode compartilhar
conosco?
Muitos
projetos, mas tudo a seu tempo. Como respondi na pergunta anterior, sou mãe
solo, e alguns acidentes acontecem ao longo do caminho. Risos. Mas assim que
puder, de forma lenta e gradual, lançar uma coleção de autoras piauienses, a
terceira edição do zine, continuar nas reuniões do “Leia Mulheres”, e sempre
trabalhar ajudando outras mulheres a se sentirem encorajadas e motivadas a
escreverem, ou fazer qualquer outra manifestação cultural.
Obrigada, mais uma vez, pela gentileza da entrevista, Dani.
Espero em breve fazer outra postagem com o seu mais novo trabalho!
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A Dani também é uma excelente jardineira <3 |