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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Mudando a narrativa: sobre DeepSeek e IA. (tradução)

o logo da deepseek é uma baleia em azul


Por Karen Hao/@karenhao.bsky.social

27 de janeiro de 2025 às 11:12

(de um fio do bluesky)


Como alguém que cobriu o tema da Inteligência Artificial por 7 anos e os assuntos de tecnologia da China também, acho que a maior lição a ser tirada do DeepSeek são as enormes rachaduras que ele ilustra, diante do paradigma dominante atual do desenvolvimento de IA. Um longo tópico. 

Primeiro, o que é a DeepSeek? É uma empresa chinesa que foi capaz de produzir um modelo de IA de código aberto com aproximadamente 1/50 dos recursos dos modelos de última geração, mas ainda assim superou o 01 da OpenAI em vários benchmarks [indicador de desempenho]. 

Grande parte da cobertura [jornalística] tem se concentrado na competição tecnológica EUA-China. Isso ignora uma história maior: a DeepSeek demonstrou que escalar modelos de IA implacavelmente, um paradigma que a OpenAI introduziu e defende, não é a única, e nem de longe a melhor, maneira de desenvolver IA. 

Até agora, a OpenAI e seus peers scaling labs [grupos de influência da área] têm procurado convencer o público e os formuladores de políticas de que o escalonamento é a melhor maneira de atingir o chamado AGI (Inteligência Artificial Generativa).

Este sempre foi mais um argumento baseado em negócios do que em ciência.

Existem evidências empíricas de que o escalonamento de modelos de IA pode levar a um melhor desempenho. Para as empresas, essa abordagem se presta a ciclos de planejamento trimestrais previsíveis e oferece um caminho claro para vencer a concorrência.

O problema é que há uma miríade de enormes externalidades negativas ao adotar essa abordagem, e a menor delas é que você precisa continuar construindo enormes data centers, o que exige o consumo de quantidades extraordinárias de recursos. Muitos jornalistas escreveram extensivamente sobre essas externalidades [esse é um termo usado na economia e na ciência do clima, por exemplo].

Quando esses enormes data centers são instalados na cidade, eles consomem muitos recursos. Eles pegam água potável- sim, ÁGUA POTÁVEL, por conta da qualidade da água exigida para resfriar esse avanço tecnológico que ameaça aumentar o preço da água para as famílias...

Esse modelo estende a vida útil da indústria de carvão e petróleo, piora na qualidade do ar (segundo @evanhalper.bsky.social do @washingtonpost.com) - não apenas porque os combustíveis fósseis são a maneira mais rápida de aumentar o fornecimento de energia, mas porque as instalações têm que funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana, e isso não é possível apenas com energias renováveis intermitentes.

Depois, há os impactos globais. Mais carvão e gás significam mais emissões de carbono, acelerando nossa crise climática. Daí o motivo pelo qual o Google e a MSFT tiveram um salto de ~50% e 30% nas emissões desde 2019 e 2020, respectivamente (de @darakerr.bsky.social em @npr.org). 

OpenAl & co criaram um argumento engraçado sobre o porquê de aceitar essas externalidades: sim, infelizmente, há perdas no curto prazo, eles dizem, mas elas são necessárias para atingir a chamada AGI; a AGI então nos ajudará a resolver todos esses problemas! Então as perdas vale a pena.

Esta linha de pensamento tem sido tão eficaz em capturar a atenção dos poderosos, que o presidente Trump anunciou na semana passada o Projeto Stargate, um investimento privado de US$ 500 bilhões em data centers e outras infraestruturas de computação para a OpenAI.

Se a Stargate seguir adiante com US$ 500, será o maior gasto em infraestrutura da história e acelerará significativamente o ritmo já assustador do desenvolvimento de data center pós-ChatGPT. Por sua vez, isso acelerará significativamente as consequências mencionadas anteriormente.

Agora, além das externalidades negativas sobre o poder do povo, água, ar e clima global, temos outra: a cessão de mais e mais controle sobre a infraestrutura crítica de energia e água para o Vale do Silício. Escrevi sobre isso na semana passada em @theatlantic.com.

Mas o DeepSeek mostra, no mesmo momento do anúncio do Stargate, que a troca do OpenAI & co frame como totalmente necessária na verdade não o é

Espere um minuto. Você quer dizer que não precisamos cobrir a Terra com data centers e usinas de carvão e gás para talvez chegar a um futuro onde podemos acenar uma varinha mágica AGI para fazer todas as consequências disso irem embora? Sim. Essa é uma falsa troca. Vamos deixar essa ideia amadurecendo.

Como eu disse antes, escalar sempre foi mais sobre negócios do que ciência. Cientificamente, não há nenhuma lei da física que diga que os avanços de IA devem vir da escala em vez de abordagens que usam os mesmos ou menos recursos. Escalar é apenas uma fórmula incrivelmente fácil de seguir.

O DeepSeek agora também enfraquece esses casos de negócios que pretendem escalar na infraestrutura. O OpenAI tem queimado somas impressionantes de dinheiro para manter o paradigma de escalonamento e ainda precisa descobrir como equilibrar seus talões de cheque e acontece que nem precisava gastar tanto dinheiro. 

Então, não importa se você é uma empresa nos EUA, China ou outro lugar. O DeepSeek deve ser uma sinal para mudarmos a rota, com toda a força, em direção ao investimento em métodos muito mais eficientes de desenvolvimento de IA. Mesmo que você não se importe com os impactos na comunidade e no clima, é simplesmente um negócio muito melhor.

E se uma empresa não fizer essa alteração da rota, isso deve ser um grande sinal de alerta para sua capacidade de inovar. E não me refiro à inovação de produtos, mas à inovação em como desenvolver modelos de IA. A base de tudo.

Quando trabalhei em uma startup do Vale do Silício, costumávamos chamar um investimento do SoftBank de beijo da morte. O SoftBank injetava tanto dinheiro em startups que isso acabaria completamente com a necessidade dessas startups de inovar ou desenvolver um negócio financeiramente sustentável.

Eles poderiam mascarar toda a instabilidade em suas fundações com as hilariantes e imensas injeções de dinheiro por um bom tempo, mas eventualmente tudo ruiria. A necessidade é a mãe da inovação. Sem necessidade, o impulso existencial para inovar desaparece. 

Estamos basicamente vendo isso de novo. A OpenAI com Sam Altman é tão boa em levantar capital (inclusive agora do SoftBank), que está encobrindo as fraquezas técnicas e comerciais da empresa.

Veja este relatório do @ainowinstitute.bsky.social do @bcmerchant.bsky.social [todos os links ao final].

DeepSeek é o outro lado da mesma moeda: ela inovou por causa das restrições e não a despeito delas. E agora que ela pôs de cabeça para baixo as assunções do paradigma dominante da Inteligência Artificial, nós deveríamos rejeitar esse custo e procurar novas maneiras de desenvolver IA sem tantos danos.


segunda-feira, 10 de junho de 2024

Humor Myiazakiano


Não sei quem mais faz barulho: a máquina revirando o concreto lá fora ou o cio dos pardais escandalosos no meu quintal.

 

O cio é força mais potente que máquinas humanas, mesmo que vindo das menores criaturas!


É o grito de guerra da vida! Ou grito de vida da vida!

 

Afasto-me de ambos: um porque me irrita, o outro, porque me constrange o coito alheio. Não tenho talento para voyer. Pode chamar-me de velha, só peço que seja gentil ao evitar mencioná-lo na minha frente.


Baseado em "Castelo no céu"- arte de Celine Kim


quarta-feira, 7 de junho de 2023

página do diário: as morsas

 

ícaro do chagall

Aqueles corpos imenso caindo do céu, não eram bailarinas, nem anjos, eram bebês e meus irmãos, que não sabiam que suas decisões não estavam mais mediadas por um deus bondoso, com presas imensas e muito tecido adiposo, mas sim por um vazio conjurado por uma entidade maléfica, despertada pelo mais egoísta dos seres: o homem branco capitalista que apostou tudo no petróleo 50 anos atrás, convencendo a sua própria espécie por bem ou por mal. (Sobre a queda das morsas)  


domingo, 17 de outubro de 2021

ipepoca- em construção

Ipê branco florido não calçada de uma casa grande
foto tirada pela amiga Jeany


                                                     Pequeno ipê

Pipoca estourada

Perto do seu apê.

 

Pequeno ipepoca

Pede pipoca

Vai de doce ou salgada?


Ipepoca, fabuloso dente-de-leão,

boca gigante

te assopra.

 

Ipê encanecido

esmago com os pé

os seus brancos cabelos caídos.


[e segue o cardápio]

Ipê florido

Cuscuz de arroz

Ou cuscuz de milho?





Para a Malú e para a Jeany.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

mitologia arrancada de um fim de tarde (e de um tuíte)

o corpo de um deus tem um amplo espectro de células
com diferentes tamanhos,
mas se você procurar pela maior e pela menor delas,
seus melhores exemplares constituirão a pipa e o sol,
cujas respectivas proporções relativas
são verdadeiramente notáveis
por isso, é justo afirmar
que a poeta faz seu registro com acurácia:

"hoje eu vi uma pipa
fecundando o pôr-do-sol"



segunda-feira, 20 de abril de 2020

Nota a respeito da delicadeza

É incrível que, num mundo extremamente duro, seres delicadíssimos persistam!



asa de borboleta em bolso translúcido de agenda

sexta-feira, 20 de março de 2020

Copernicia prunifera

Sabe como um pé de carnaúba cresce?
Como se junta aos outros irmãos e irmãs
Para compor uma paisagem
Altaneiro e coroado
Habitando os campos?

Diz-se que à noite
Num céu sem lua e anuviado
Uma mão gigantesca, grossa pele, puxa-lhe pelos cabelos
de uma vez só! Copernicia prunifera!

Ocorre que, às vezes, o espécime é tímido...
Ou teimoso...
e esperneia debaixo da terra, fincando mais fundo as fasciculadas raízes...
e consegue mais uns dias enfurnado
e, então, você vê: só parte do tronco, uma coroa quebrada, as folhas meio enterradas
o que já intrigou mais de uma trupe de viajantes

pelas bandas de Campo Maior.



 Destacam-se carnaubeiras e uma silhueta que se banha num rio 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Conversa com Blake

Toda noite e toda manhã
Algo de miserável nasce bom
Cada manhã e cada noite
Algo de bom nasce da doce pernoite
Algo de bom que nasce da eterna noite*



*Tradução adaptada e alterada de propósito, como é de praxe aqui.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

A lição do milho no vaso

Mais ou menos no meio desse ano, recebi em casa uns cartões com receitas que eu havia pedido no site da minha amiga Carla, criadora do blog Outra Cozinha, que fala de plantas comestíveis não convencionais e de um viver mais simples e não violento. Junto com os cartões, a Carlinha colocou umas sementes de milho preto de pipoca. Eu nunca tinha ouvido falar de um milho preto de pipoca e fiquei muito contente. Já sabia que existiam muitos tipo de milhos, mas não havia me permitido imaginar que cada um fosse melhor para essa ou aquela comida. Isso me lembrou dessa bela foto de batatas peruanas em sua diversidade, que suspeito tenha sido até maior um dia.



Batata, assim como milho, são desses alimentos base, quase unanimidade entre as populações descendentes de ameríndios e mundo afora. Mas como o milho, a batata também foi standartizada, homogeneizada na figura de um único tipo, ou dois únicos tipos, a inglesa e a doce. Imagina aí a perda nutritiva e cultural. Quanta comida e quantas histórias essas cores dessas batatas carregam, como as dos meus grãos de milho preto?

Grãos do milhinho e a letra da Carla ^^


Daí que plantei alguns grãos num vaso grande do quintal da minha mãe. Dia 14 de agosto, deixei registrado na agenda/planner. Do tempo que passou até aqui, em meio a um br-ó-bró daqueles, que é um sol de rachar por meses a fio, bem difícil das plantas que não sejam cactos ou árvores de raízes bem profundas prosperarem, insisti no plantio do milho. Ele de fato cresceu, o que nos deixou muito maravilhadas aqui em casa, porque nunca tínhamos visto milho dando em vaso. 

Quatro meses depois, contamos cerca de 10 espigas, algumas geminadas (milhos gêmeos). O que era bem louco, porque era uma única plantinha, com um monte de milhinho nascendo. Mesmo com o adubo sendo constantemente renovado, a bichinha não conseguiu encher o suficiente as sementes, nem alcançar a sua tonalidade característica.  No entanto, eu considero a experiência desse plantio muito bem sucedida. Fiz sem esperar muita coisa e terminei tendo uma vivência de espera, de paciência, de frustração, de embevecimento ao longo desses meses. A Carla fala um pouco disso ao longo dos textos que ela compartilha. A finalidade não era comer um milho e apenas isso. Todo o processo acrescentou algumas linhas na minha sensibilidade e me ensinou algumas coisas que posso aplicar às demais sementes que restaram e que esperam serem plantadas (agora num período com mais chuva e sol ameno).

Lidar com outros seres, sejam animais de estimação, sejam as plantas da nossa casa, amplia nossa percepção de mundo, se estamos abertas a isso. Lendo e ouvindo sobre o pensamento indígena, especialmente o Yanomami, sinto que a familiaridade e a sabedoria que eu tinha quando crianças com esses seres e que foi afastada ou fragmentada pela vida adulta, é novamente "autorizada". A crise climática vai nos exigir uma nova ética, uma que inclua um retorno a esse tipo de vivência (que inclua um resultado de alimentação do corpo físico, também), que resgate saberes antigos das sementes ignoradas pelo latifúndio, que residiam nas memórias das nossas avós, que resgate a sabedoria de povos que estão há muito tempo preservando essas sementes e a arte de lidar com elas, a arte de conviver com outros seres como seres tão importantes como nós mesmos, de um outro modo, um menos utilitário. É uma transformação epistemológica em direção a uma outra ética. Em outras palavras, saber conhecer de um jeito que não nos destrua a todos e quem sabe, salve a maioria dos seres desse cataclisma provocado por nós (ou alguns de nós).

Essa foi a lição que tirei das espiguinhas de milho. Seguem as fotos.








Ps. Chamo insistentemente de espiguinhas, porque elas não são daquele tipo do milho amarelo/branco que não crescem muito.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Há uma raiva de fundo


Há uma raiva de fundo
Como o clarão de um incêndio ao horizonte
A substituir a aquosa angustia
Lembra um sol velho
Que já se ergueu e se deitou tantas vezes
E que faz uma última aparição.



sexta-feira, 30 de agosto de 2019

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Extintos


 
Gritador do Nordeste

Ontem fui dormir triste. Li numa página da internet que nosso país perdeu dois passarinhos. Para sempre. O gritador-do-nordeste e o limpa-folha foram extintas em 2018, de acordo com a Bird Life Internacional. Ambos endêmicos do nordeste, da ameaçada região de Mata Atlântica remanescente entre Alagoas e Pernambuco. 

Acordei no dia seguinte e vi mais notícias a respeito. No mesmo estudo, ainda temos a confirmação do desaparecimento de espécies conhecidas:

“Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii): que agora passa à categoria de ‘Extinta na natureza’. A data estimada da extinção, calculada pela época em que um indivíduo da espécie foi observado pela última vez por um ornitólogo, é o ano de 2000;

Caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum): ‘Extinta’ desde 2001

Gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti): ‘Extinta’ desde 2007

Limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi): ‘Extinta’ desde 2011

Arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus): ‘Possivelmente extinta’ desde 1998”

O desaparecimento dessas espécies está diretamente ligado ao desrespeito ao seu habitat natural, invadido pela urbanização e agronegócio. É inconcebível que essas atividades continuem acontecendo sem qualquer respeito pela vida já existente ali e ainda por cima venha um presidente eleito mentir que existe uma indústria da multa. Se houvesse, certamente esse desastre ecológico não teria acontecido.

“Em razão desse cuidado e da falta de regularidade nas observações – que depende da existência de recursos e demais condições de pesquisa em cada país – é comum que uma espécie leve mais tempo para ser declarada extinta, mesmo sem ter sido vista durante décadas.” Ou seja, as espécies vão enfrentar mais um problema: o descaso explícito do governo, que fantasia a injustiça cometida contra desmatadores e caçadores. Stuart Butchart, diretor da Birdlife Internacional, afirma que: “Nossas evidências mostram que há uma onda crescente de extinções se espalhando pelo continente, causada pela perda de habitat devido à agricultura, drenagem e extração de madeira insustentáveis.”

Aqui no país, de quase 2000 espécies de aves, 173 delas estão ameaçadas. Apesar dos esforços de pesquisadores, o cenário não é dos melhores.


Ps. A melhor matéria que li sobre isso foi a do Nexo Jornal, do qual eu retirei os excertos mencionados.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Flor de cacto



Há paz e alegria no
amarelo macio da flor do cacto que
 consegui cultivar-
no descanso da janela do quarto.

A abundância das águas de janeiro
nesse meu quadrante
tão ressequido
realiza o processo alquímico:
transmuta o quase-morto,
em plena-vida,
compondo o cenário
que atravessa o céu, a nuvem,
e a árvore do quintal,
no silencioso movimento
das partículas ignoradas
do universo do sem- fim.



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