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terça-feira, 3 de maio de 2022

Journaling: Emily Dickinson

  

🕮 Journaling 🖊


 Na última folha do diário eu tive um pouco mais de paciência e enfeitei mais com poemas e umas aquarelinhas. Emily Dickinson é a referência de tudo aí. Um dos poemas:

Bem pouco a fazer tem o pasto:

Reino de irrestrito verde,

Só tem borboletas para criar,

E abelhas para entreter-

Odilon Redon- Cinco Borboletas

 

Dicas para começar um diário ou incrementar o que já existe: 

Um diário como ASMR https://youtu.be/3XPf7RNgd0s

Um diário com tutorial de desenhos simples de plantas

https://youtu.be/3tKo1kqMfJY




segunda-feira, 5 de outubro de 2020

O que pode conter uma página de diário- parte 3

Estou pensando aqui que essas postagens que estão falando sobre o que pode conter um diário é o meu metadiário. Um (quase) diário do meu diário. Um todo sobre fragmentos de diário. Enfim. 

No diário você desabafa coisas rápidas. Ou coisas demoradas, dependendo do seu estado de espírito. O meu com certeza é muito mais composto de muitas notas velozes e até sem sentido, numa leitura posterior, mas que no momento da escrita é tão necessário, que é como se meu existir dependesse disso. Depois, passa. Às vezes. Outras tantas, eu mal consigo retornar ao que escrevi, porque me dói lembrar, porque me constrange, porque já estou arrependida da escrita, do ato, do dito. Porque passei a odiar as personagens do meu monólogo. Algumas vezes, salvo uma frase mais inspirada e retorno ao ensinamento daquele dia. 

Risco, borro, testo arabescos, letterings. Mas isso vai em outra postagem da série.

Até lá.

 

 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O que pode conter um diário: página 2



 Duas fotos da mesma página do meu diário físico atual. Nem sempre estou disposta a cuidar da estética dele, porque em geral recorro  ao livro quando estou apressada em desabafar minhas impressões sobre o que quer que seja. Normalmente a organização vem num segundo olhar para o que já foi escrito. 

Mas essa página aí cai na exceção, como decidi que terei um novo caderno de diário ano que vem (esse já dura dois anos), escolhi passar a exercitar meus anos de apreciação de journaling gringa nele, quando a necessidade distração se unir a qualquer coisa relevante pra mim e quase sempre indiferente pro mundo. Assim é um diário. 

Uma nota em papel azul, que diz em cima “Melhor lugar para ir” assinalo “para ter sossego” e respondo: o quintal de casa ou qualquer lugar que tenha árvores e o silêncio humano. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Vinte e seis apontamentos e meio

1. Muitas manchas saem com limão- e é preferível estar à sombra;
2. Cuidado com a fome da alma;
3. A metade da laranja é uma mandala;
4. Manoel de Barros também costurava seus próprios cadernos;
5. A rua está vazia;
6. As confianças podem ser horizontais e verticais;
7. Consertar teorias nossas que não praticamos;
8. O julgamento é uma das expressões do animus;
9. Dançar é importante;
10. O passarinho azul é o pássaro da alma;
11. A tendência ao devaneio excessivo empobrece a vida;
12. Depressão é retenção de afetos;
13. O ridículo é necessário para o redimensionamento do desejo;
14. O salmão precisa da água limpa;
15. Abraços demorados desencadeiam a conversa do inconsciente com a alma;
16. Não entendo a linguagem dos relacionamentos amorosos;
     16.1. Se vivêssemos 1000 anos saberíamos disso.
17. É preciso admitir quando nossa paisagem é monótona;
18. A internet pode embotar os instintos;
19. Aprendi com a Dr. C.:" a vergonha te afasta do convívio social, mas nada está fora das fronteiras do perdão. As mulheres não estão fora da fronteira do perdão";
20. E com A.F. que “a inspiração se convoca”;
21. A vida tem uma magia própria que independe do nosso esforço de controle;
22. Al Green é música da alma;
23. E minha indignação não cabe no meu ethos;
24. "Direitos humanos é muito sobre ouvir as pessoas";
25. Peixes é um signo prático a partir do sentir;
26. Criar um estoque de ervas curativas;
27. Um ano depois e ainda sangro.
28. Deveríamos dar menos importância ao cargo de presidente;

Um ano novo melhor ;)


terça-feira, 1 de outubro de 2019

Marielle e o Canto das Três Raças

Acordei com o “Canto das Três Raças” na voz de Clara Nunes na minha cabeça.

Essa música, que por si só parece ecoar algo ancestral naquela que ouve, em mim ganhou o significado particular de lembrar o dia da morte de Marielle- um dia triste, no qual perdemos duas entidades poderosas (Stephen Hawking também havia partido). Conhecia a Marielle por acompanhar a divulgação de seu trabalho e de outras políticas voltadas para as periferias e as negritudes que ganhavam voz Brasil afora. 

Quando tudo aconteceu, eu estava na ilha de Florianópolis e, agora com mais de dois anos depois do ocorrido, venho aqui revisitar um pouco o modo como senti aquela perda. Vaja o paradoxo dos afetos: perdi alguém que parecia próxima e, assim, era preciso algo, um rito, para expressar aquela dor que, ao mesmo tempo, parecia tão alienígena, tomando conta de mim, do luto pela morte de alguém distante. 

Mas como se elabora um ritual para uma perda dessa importância? Que funde a distância física e a  proximidade de sonhos? Foi então que nos dirigimos para o lugar que acolheu nossas esperanças frustradas e nossas dores da política recente, desde o impeachment: o centro antigo da cidade. As pessoas foram se reunindo ao lado do mercado, com fotos dela e com velas. Uma manifestação artística acabara de acabar. Os tambores chegaram, o sol se punha: era hora. Seguimos em cortejo e alguém, no meio da multidão, puxou o "Canto das três raças", os tambores seguiram, a multidão acompanhou a letra. Sim, nós éramos muitas. 

Surpreendentemente (aquele meu eu ingênuo pensando...), a morte de uma mulher distante, negra, vinda da favela, abalara o coração da antiga ilha de Nossa Senhora do Desterro (e, antes, Meiembipe). E foi uma surpresa tão triste e tão linda... Uma irmandade fugaz que condensou em si todas as manifestações que participei no ano anterior (e antes), nas quais, nós brasileiras lutamos por nossos direitos, inclusive o de uma democracia aprofundada, uma democracia além. O "Canto das três raças" acontecia. Numa terra que trata seus indígenas como mendigos e seus mendigos como menos-gente. Aquelas vozes era uma só voz. Aquelas lágrimas, os abraços ao pé da escadaria e as lágrimas, era o que deveria restar depois de tantos reveses, povos que se sensibilizam e se unem pelas causas mais justas. Como Marielle.

Do lamento que é o "Canto das três raças", da terra queimada do fogo e da bala, a morte é transmutada: de Marielle já tínhamos seu exemplo de vida e seus projetos; ela deixou muita coisa apontada. Tirei fotos daquele dia de lamento coletivo. Não lembro se antes havia dito tanta coisa sobre aquele dia. As fotos  foram parar numa exposição acadêmica no final do mesmo ano, mas na cidade de Teresina. 

Marielle não está sendo esquecida. Está sendo multiplicada.


Pequeno altar com fotos impressa de Marielle sempre sorridente (parede verde escuro, velas e flores brancas)

No mesmo altar improvisado, uma mulher acende sua vela.



O traçado de um corpo humano no chão, rodeado de velas, indicando um assassinato. Mulheres ao redor acendem suas velas. Flores ao centro do desenho.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Nota sobre estrutura e destino

O nosso desafio à estrutura é nosso eterno desafio ao destino, como em uma tragédia grega reconfigurada, onde é dever saber afrontar os deuses. 

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Um trecho de diário da filha não nascida de Darwin


Hoje acordei lembrando de quando eu vivia nas profundezas dos oceanos. minhas escamas prateadas refletiam o ondular das águas sob o sol. o dom da memória me fez agradecer ao peixe que fui.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Página do diário quando adoeço

Ando doente (de novo!) desde sábado (bem que o horóscopo tinha avisado). Mas é um resfriado, então imagino que antes do final da semana a febre deve passar e a garganta melhorar. Assisti filmes, séries, ou tentei. Comecei a ler uns livros, mas só um me cativou. Depois escrevo mais sobre, porque é um assunto que merece ser compartilhado. Li uns artigos de revista on-line, revi uma TEDX sobre ensino de arte.

Não pintei, nem desenhei nada, mas consegui brincar um pouco com meu sobrinho. Tirei tarot várias vezes. Eu uso isso como uma conversa direta com o invisível que reside em mim e com o invisível que vem. Mas daí eu fico meio compulsiva e acabo confundindo o que cada jogo diz, pela quantidade de vezes que tento dialogar comigo mesma por meio do oráculo.

Tem muita coisa bonita no mundo. Preciso exercitar mais o agradecimento e o reconhecimento de certos fatos, pessoas e objetos na minha vida. Sei lá. Acho que isso é o certo e que nos empurra para adiante.


domingo, 22 de janeiro de 2017

Notas do diário

Eu adoeci nos últimos dias, mas acho que a doença terminou me salvando de algumas coisas. Me deu algum tempo para pensar no que só é possível pensar estando doente, porque doença é um tipo de desaceleração forçada.

Para o ano de 2017, eu ando concluindo que vou deixar esse blog de lado. No final das contas, eu passei mais tempo motivada por uma inspiração que me abandonou já faz uns meses. O que eu postava ainda eram resquícios, lembranças dela.

Talvez eu refaça o blog ou crie um outro blog. Ou talvez aqui se encerre minha excursão nesse pequeno pedaço de mundo virtual.

Ah, e quinta-feira é meu aniversário. E ando tão melancólica...

sábado, 20 de fevereiro de 2016

uma página de desamor à cidade no meu diário

"Os dias passam serenamente vazios..." H. Dobal, sobre Teresina

Esse vazio que Dobal menciona, sinto o peso dele desde a infância, forçando a intensidade do meu eu interior como se dependesse exclusivamente de mim preencher a ausência exterior vazio externo e poderoso. É um vazio de cor suave nesse instante, que não se altera, sua única intenção é não ter intenção. Não... Na verdade sua intenção é fazer vingar o que há de obscuro em meu país interior, me tornando parte de sua unidade vazia. O que há de mais vivamente intensamente colorido em mim sufoca, não encontra expressão; transborda numa massa amorfa e me afoga sua possuidora.

O vazio dessa cidade labuta sem pressa, tingindo vagarosamente, definitivamente, cada ser que o destino a fatalidade fez que aqui permanecesse, seja  por nascimento ou por outro motivo qualquer. Um existência monocromática, da qual mal dão contas os viventes, ou quase-viventes -o vazio agia enquanto essa página era escrita. São quase-inocentes de tudo isso. Quase.
........

Teresina é esse deserto amarelo. Não de um amarelo suave, como o das chananas, mas de um amarelo feio e pegajoso. Some-se a isso o fato de ser bruta e monolítica. Cidade que expurga quem ousa alterar seu tipo de eternidade. Aliás, Teresina é uma cidade de eternidades. Eternidade vazia. Eternidade seca. Eternidade oca. Eternamente a negar seus vícios. Eternamente isenta. É eterna morada de vilanias esquecidas. Além de eterna morada de pássaros pardais, com seu marrom e cinza e negro e sinceramente desconfio que sejam de fato seus únicos viventes. Eternidade plana. Teresina também é labiríntica, mas labirinto de um só corredor e que não chega a lugar algum. É linha do horizonte infinita que não comove, que não causa vertigem, mas que deve gozar na indiferença. Talvez seja isso mesmo e eu tenha descoberto seu maior segredo: o gozo na indiferença. Inclusive, ainda sobre a linha do horizonte, é essa linha do horizonte que faz a cidade pairar sobre um certo tipo de infinito. O tipo de infinito sobre o qual ela não vai fazer nada a respeito, não vai dizer nada a respeito, porque é exatamente isso o que ela faz conosco: nada, absolutamente nada. E aí está mais um segredo revelado da cidade: a aspiração ao nada é a maior ambição de uma cidade-deserto como a que nasci. E sobreviva quem puder a ela, porque viver, viver, aqui não é território para isso.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Um monte de mulher poderosa qualhando minha mesa

... de trabalho e a Ana Akhmátova (sim, mais uma Ana) entre elas. Olha só que beleza:

"Há, entre seres que estão próximos, uma fronteira sagrada"

E imaginar o que há além dessa fronteira e ser surpreendida pelo que há além dessa fronteira, parece que nisso reside um tanto do frescor das boas relações.

Possibilidade de reinvenção infinita.

Ana Akhmátova, sobre Matilde Campilho e ao lado de Ana Cristina César, diário da Jane Austen (e Manoel de Barros)

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