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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O rio estava cheio de histórias (parte 2)

Águas que correm,
claras,
do escuro dos morros,
cantando nas pedras a canção do mais-adiante,
vivendo no lodo a verdade do sempre-descendo...
Águas soltas entre os dedos da montanha,
noite e dia,
na fluência eterna do ímpeto da vida...
Qual terá sido a hora da vossa fuga,
quando as formas e as vidas se desprenderam
das mãos de Deus,
talvez enquanto o próprio Deus dormia?...
E então, do semi-sono dos paraísos perfeitos,
os diques se romperam,
forças livres rolaram,
e veio a ânsia que redobra ao se fartar,
e os pensamentos que ninguém pode deter,
e novos amores em buscas de caminhos,
e as águas e as lágrimas sempre correndo,
e Deus talvez ainda dormindo,
e a lua a avançar, sempre mais longe,
nos milênios de treva do sem-fim... 

(Magma- Águas da Serra- João Guimarães Rosa)

Águas da Serra é um dos meus poemas favoritos. E vem bem a calhar nesse momento em que uma filha do Rio Parnaíba e do Rio Poti encontrou o Velho Rio Santo.

domingo, 24 de julho de 2016

Guimarães Rosa

Estamos comemorando 60 anos do "Grande Sertão: Veredas". Guimarães Rosa conseguiu coser caminhos no invisível dos rincões do sertão; do mato, das veredas, dos pássaros, dos outros bichos e do bicho homem; desvirou as palavras conhecidas, as esquecidas e as inventadas para encher de sentimento e beleza a dureza dos sertões do país. Uma sapiência brutadelicada de se beber em delírio de tanta lindeza.

Aí embaixo o link da reportagem da EBC sobre a comemoração na cidade de Três Marias, nas Minas Gerais. Ainda vou lá e volto vestida de bordado rosiano das bordadeiras de André Quicé, que também aprenderam a coser o visível invisível do Sertão.

E, também,segue um trecho do final da obra, lido por Maria Bethânia.

https://vimeo.com/175308788

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