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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

A dor da separação - Yuan Zhen

Poema

É um poema de um mestre chinês, que viveu durante a dinastia Tang. É um dos muitos que escreveu para a esposa morta. Também é mencionado na literatura contemporânea em Tian Gian Ci Fu (livro 3), em uma situação adequada, que é reforçada pelo contexto original do texto antigo.

trecho da abertura de heaven official's blessing



A dor da separação

Depois de ver o vasto mar, nenhum veio d'água pode se comparar
Dispersas, perto do topo do Monte Wu, não há iguais nuvens
Muitas vezes passei pelas flores e não lhes poupei um olhar
Pois metade do meu destino está no cultivo e, a outra metade, em você.


_________________________________________________________________________________________

Versão em inglês (de onde veio a tradução)

 After seeing the vast sea, no water can compare;

Scattered from the peak of Mount Wu, there are no other clouds;

Many times I've passed through the flowers, yet I spare them no glance;

For half my fate is in cultivation, and the other half in you.


*Original (eu conferi nas páginas de nativos):

离思 - 元稹
曾经沧海难为水,除却巫山不是云。 取次花丛懒回顾,半缘修道半缘君。


Aqui tem um blog comentando o trabalho de tradução dos poemas chineses para o português e nele tem algumas dicas. É claro que nele aprendemos com profissionais, o que não é o meu caso, que consigo brincar com o inglês, mas até a presente data, não com o mandarim.

=>  https://www.germinaliteratura.com.br/2011/literatura_mar11_ricardoportugal.htm

sábado, 9 de setembro de 2023

poema do dia

Esperança - Microcentrum rhombifolium


a nuvem


não adianta insistir com sua nebulosa história

não me preocupo com os desejos dos Gafanhotos

satisfeita, entrego minha dádiva preferida a

uma Esperança que salvei dos (seus) perdigotos

e se o verde resistir

tenho para mim a maior vitória.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Mátria - Laís Romero

🐳 Cachalotes - a foto sobre o belo poema

Por muito tempo, eu desejei ter um livro de uma das escritoras que me inspirou a ser poeta. Apesar de aparecer em publicações diversas, Laís Romero decidiu trabalhar com muito cuidado e durante muitos anos, o seu primeiro livro de poesias, pouco tempo depois do lançamento do seu primeiro conto. O que escrevo aqui são as impressões que eu tive ao ler o livro pela primeira vez e também as que tive ao conviver com Laís ao longo dos anos- ela pode me culpar de qualquer leitura controversa dos fatos e da vida, hehe! 🌻

Acredito que apesar da grande agência que uma mulher como minha amiga pode ter, o atraso, com algumas aspas, daquilo ao que tanto dedicou a alma, diz muito de uma estrutura capenga e rota, que é tão difícil atravessar e, sempre que acontece, saímos sempre muito adoecidas e pior, sem esperança. Mas como disseram Victoria Santa Cruz e Maya Angelou, não retrocedemos e nos levantamos sempre que conseguimos acessar nossa rede de cuidados. 💪

Então, eu acredito que esse livro, como um livro escrito daqui do Piauí, por uma mulher negra, parda, de origem indígena- resultado de violência e apagamento das nossas ancestralidades, sobram-nos os fenótipos e o resto de memória oral, mas a terra conta sua história e ela existia antes de nós, com os nossos-, eu acredito que esse livro e os demais que vem saindo dessa mente sensível e criativa, fazem um grande movimento geral, dentro de mais um grau de liberação das mulheres, tão heterogêneas. 👩‍👩‍👧

Mas se eu fosse escolher um poema para ilustrar Laís, seria justamente Mátria, onde acompanhamos abrigo e percurso, onde nele ela insiste na coragem. Mesmo maquiando olheiras. Além dele, escolhi alguns dos meus favoritos, contudo, a verdade é que cada um deles mereceria uma postagem própria. Por enquanto, são esses: 📚

Alguns dos meus poemas favoritos de Mátria:



Percurso do silêncio


O nervo nu lambido

nervo nu tocado

vibrato

corda do acaso


o nervo nu imposto

nervo da margem

nervo açoite

nervo automático


mais dia 

menos dia

o nervo nu combate

...................................................

Credo


Eu acredito na poesia


Coisas incontornáveis e inúteis

Creio na palavra

Nos tambores versos guiados

Espelhos da realidade


Flecha

do gesto ancestral

............................................................


Antes de ser mulher,

meu amor,

nada era meu


............................................................

Debaixo dos meus pés

as mortas falam

amenidades e comentam

tantos prejuízos


Confundem meus segredos

com as belezas do passado

trançam iniciais da família

nas raízes das árvores


Uma madrugada suada

me abordam nos sonhos

acariciam meus cabelos

e me acordam mais um dia.


......................................................

Esta poesia tacanha se arrisca:

vai sozinha às ruas

metafísica de garagem

feito irresponsável de mulher


Uma poesia tímida e vadia

que se arrisca


Há fogo e valsa nestas linhas



- Convido a todes, todas e todos a ler essa belezura! 😊

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Nós já trouxemos antes a Laís Romero aqui: 📑

https://diariocriativopassarim.blogspot.com/2018/01/lais-romero.html

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Onde encontrar a produção efervescente da Laís Romero? ❤️‍🔥


🔴 MÁTRIA: https://www.lojadaclara.com.br/produto/matria-lais-romero.html

▪️ Amora https://www.amoralivros.com.br/post/novas-autoras-contos-ineditos

▪️ O instagram da diva: https://www.instagram.com/l4isromero/

▪️ Blog http://humanahumana.blogspot.com/

▪️ Poemas https://www.yumpu.com/pt/document/view/13051477/6-poemas-de-lais-romero-desenredos

▪️ Mais poemas https://revistaacrobata.com.br/demetrios/poesia/2-poemas-de-lais-romero/

▪️ Memória: https://poesiatarjapreta.blogspot.com/search/label/La%C3%ADs%20Romero


segunda-feira, 19 de junho de 2023

Laura Gilpin: poesia

Como alguém que gosta de poesia, a emoção que ela traz, é sempre algo que me captura primeiro. A ironia dessa constatação, é ter entendido que isso é a coisa mais difícil do mundo: encontrar uma poesia que caiba exatamente na minha capacidade de me comover e empatizar com os versos. Além disso, eu nunca tive pressa para buscar essas pequenas preciosidades. Mas, ontem, no lugar menos propício, eu ganhei esse presente: (seguem 3 versões: em inglês, português e em quadrinho)


O bezerro de duas cabeças 

Amanhã, quando os rapazes da fazenda encontrarem essa aberração da natureza,
Eles vão enrolar seu corpo em um jornal e carregá-la para um museu.
Mas hoje à noite ela está viva e com sua mãe, no norte do pasto.

É uma perfeita noite de verão: a lua nascendo sobre o pomar,
o vento sobre a grama,
e como ela admira o céu
existem duas vezes mais estrelas que o normal.

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Two-Headed Calf
Laura Gilpin

Tomorrow when the farm boys find this
freak of nature, they will wrap his body
in newspaper and carry him to the museum.

But tonight he is alive and in the north
field with his mother. It is a perfect
summer evening: the moon rising over
the orchard, the wind in the grass. And
as he stares into the sky, there are
twice as many stars as usual.

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Essa imagem ilustra o poema acima. Há um bezerrinho deitado no campo e sua mãe próxima. A lua no céu e estrelas nos olhos negros do filhote.
Poema de Laura Gilpin e Desenho de @adamtotscomix

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Ps. Talvez eu tenha chorado lendo esse poema. Pensei muitas coisas e tive que falar dela para algumas pessoas da minha família que tem alguma paciência com essas minhas coisas, rs. Eu a encontrei em um meme artístico do twitter, ontem. 

Eu fiz algumas escolhas pessoais nessa tradução, sempre pensando no original. Depois eu vi que existem outras em português, claro, que essa postagem seja pelo menos uma placa de indicação para a obra da autora. =)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Como um círculo ou uma lemniscata

Eu Investigo Qualquer Coisa Sem Registro: Thaís Campolina


🏡 No início do ano eu li um livro de poesia que me deixou confortável, me senti visitando uma casa que, se eu não conhecia, já havia visto algo muito próximo das minhas próprias emoções, sensações e até mesmo das manias que a gente nunca compartilha muito, porque pode parecer muito esquisito. Claro que essa é uma impressão muito particular minha. A autora desse livro me convidou no início do ano, para um bate-papo no Clube Cidade Solitária (ver instagram), abrindo esse ano que está quase dizendo adeus. 

Foi um modo muito gentil de começar esses 365 dias de muita luta, mesmo das posições mais precárias em que estivemos. 


A luta pode dar-se na cozinha...

FAHRENHEIT FAMILIAR 🍷🍦

minha mãe

me disse

que eu deveria ter lido pouco 📚

seria mais fácil viver

se eu soubesse menos


nesse caso

sentaríamos na cozinha ☕

e que conversa seria?


Ou em algo mais abstrato, o tempo...


SERRA DO CURRAL 

estruturas firmes

ruínas habitadas

dinâmicas ao mesmo tempo

se deterioram

e são deterioradas 


os cupins são grandes arquitetos 🐜


Na justiça, mesmo atrasada...

UMA HISTÓRIA PARTIDA AO MEIO 🕙

um safanão

diante do não 

outro

corretivo futuro

a mesa não foi posta na hora

soco na boca do estômago 💢

choro silencioso

um pedido  de perdão

dessa vez não


a polícia entra em cena 🚨

78 minutos depois

encontra a mulher sozinha

ensanguentada, mas viva 🌼


No mundo insignificante (não pra mim e nem pra Thaís e nem para os biólogos)...

PEQUENA EVA


um piolho de cobra entra pela porta da sala 🚪

chega chegando

com suas mais 400 patas

percorrendo o piso recém-limpo

(...)

outro piolho de cobra entra na casa pela garagem 🐛

guiado pelo cheiro de terra do quintal dos fundos 

morre também

pelas patas de uma gata chamada Eva 🐈

que não perdoa ninguém


📌 Eu ganhei um exemplar da própria autora, que faz parte de um projeto de da prefeitura de Belo Horizonte. Thaís  Campolina e mais 11 autoras e autores foram selecionadas para a publicação. E nós saímos ganhando.

📌 Pensem nos emojis como grifos meus que compartilho com vocês.

📌E emendando um dia no outro, um poema no outro, a gente faz um livro, um ano, a vida. Encerrando 2022 com alguns poemas nesta e nas próximos duas postagens. ✉

livro da thais com recortes de janelas sobre um fundo cinza sobre uma caderneta rosa e uma caneta rosa sobre a mesa
Meu livro autografado



terça-feira, 3 de maio de 2022

Journaling: Emily Dickinson

  

🕮 Journaling 🖊


 Na última folha do diário eu tive um pouco mais de paciência e enfeitei mais com poemas e umas aquarelinhas. Emily Dickinson é a referência de tudo aí. Um dos poemas:

Bem pouco a fazer tem o pasto:

Reino de irrestrito verde,

Só tem borboletas para criar,

E abelhas para entreter-

Odilon Redon- Cinco Borboletas

 

Dicas para começar um diário ou incrementar o que já existe: 

Um diário como ASMR https://youtu.be/3XPf7RNgd0s

Um diário com tutorial de desenhos simples de plantas

https://youtu.be/3tKo1kqMfJY




segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Ridículas mensagens

No final de 2021, além de participar do projeto BREU, Laís Romero, que escreve poesia desde muito cedo e é referência para muitas mulheres escritoras da sua geração, tanto por sua poesia, como pelos projetos culturais que integra, lançou um Zine seu muito delicado, breve e acolhedor: "Trechos para ridículas mensagens de amor."

a capa do zine digital

Está para baixar gratuitamente e aparece como projeto 00 do Breu. ❤

Sinuoso Azul

Meu primeiro poema de 2022, que vem bem acompanhado. E uma citação da autora favorita da vez, que pretendo deixar como uma constante. 💜



§ Sinuoso Azul §

 

desviar-se do curso,

ao rio das emoções,

ver o dragão azul,

o retorno do menino

para este reencontro,

de volta ao leito:

familiar e tranquilo,

onde meus pés descalços o esperam,

onde espero que traga na boca, meu nome,

       meu segundo batizado.

 

 

Suas escamas flutuam, como brancas mariposas

                    Seu azul se converte em céu

        Escorrega o pequeno corpo dali

E pousa levemente no meu peito

Com um suspiro.

Estamos seguros.

  
 

aquarela de jaqueline ignada representando uma praia, uma visão também do fundo com sombras de vegetação e o céu nublado 
autora: Jaqueline Inagda





 autora favorita diz:


 
Pessoas que negam a existência de dragões
são frequentemente devoradas
por dragões. Dragões interiores.- Úrsula K. LeGuin. 
 
(não encontrei o autor da imagem, mas creditarei assim que descobrir)









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