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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

onipresente

eu lembro de um dia, em que pude escapar de uma recém instaurada rotina

em que mergulhei num mar gelado e fiquei boiando no raso

não tinha ninguém na praia

só um pescador bem longe

eu olhava o céu e sentia o mar imenso oceano

eu tocava as geleiras ao sul

o continente distante ao alcance da minha mão esquerda

outro roçando meus frios pés

eu era a fina liga que unia

céuemar

eu era imensa e leve e total

 

homem pescando no mar- foto alterada- eu sou a autora

 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

a outra estória I

O corpo tem história.
Não a História do Corpo,
mas cada corpo tem sua história.
Portanto, soa tão absurdo
o juízo alheio,
formado em alicerces de ignorância
sobre o corpo da moça,
do velho,
do jovem com a mão ausente.
O corpo tem história,
sua própria história.
Aquela barriga saliente,
um sinal grande demais,
a perna torta, a ruga, a cicatriz - a estria 
- têm história.
A turba anseia
fazer desaparecer esta pequena
e importante história
de mim e do meu corpo,
a conversa do meu corpo com o tempo,
com a dor, com o mundo,
com o outro corpo - 
mas a turba passa,
meu corpo, não.



quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Escavei seu túmulo

Escavei seu túmulo
unhas cheias de terra pútrida
sacudindo aquele corpo semi-decomposto
exijo verdades sobre os vivos

sua língua há muito levada
pelos vermes
o que restava dos olhos
portas d'alma
dois buracos
duas fendas para o novo mundo
longe de tudo o que um dia 
importara.


domingo, 9 de junho de 2019

Brené Brown: Vulnerabilidade e Coragem

Escutando o meu podcast favorito Talvez seja isso, que abordou pausadamente a mágica contida nas páginas do livro Mulheres que correm com os lobos, uma das sugestões extras das locutoras/criadoras Bárbara Nickel e Mariana Bandarra que se repetiu e chamou minha atenção foi a menção a Brené Brown (pelo modo afetivo que a Bárbara falava dela). Descobri o Ted da Brené Brown e vi que era um carinho e um puxão de orelha nas nossas almas aquilo ali.

Brown fala sobre vulnerabilidade, seu objeto de pesquisa há mais de 20 anos na academia. E ao contrário do que poderíamos pensar, ela não é uma mulher fofinha que defende a vulnerabilidade como uma coisa fofinha. Há uma mente bastante pragmática e eu diria até excessivamente disciplinada que se esforça em passar uma mensagem (sem usar a linguagem acadêmica, expondo-se) a quem se propõe a ouvir: não há criatividade, não há relações que valham, não há solidariedade sem exposição, sem vulnerabilidade. Não à toa Brown se tornou dessas autoras que persistem na lista dos 10 livros mais vendidos do The New York Times, além da sua palestra do Ted Talks ser das mais acessadas do mundo.(10 milhões de acessos até aqui).

Por isso, ter encontrado seu rosto nas novidades do Netflix esse ano foi uma surpresa muito encantadora e essa é minha sugestão dessa postagem: "O chamado à coragem". Eu ri e chorei e pus a mão na consciência e, acredito que se nos propormos a crescer como seres humanos, na vida pessoal, na vida profissional, como sociedade, tem muita coisa ali que merece um ouvido atento. Bora se dar uma chance? 



Uma das Ted Talks da Brené Brown


Ps. Essa é uma das postagens com mais tags que já fiz e é tudo de propósito ;)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Para a amazona que me habita


E depois da xícara pousada sobre a mesa
Ela veio
Galopante, em seu vestido florido
Aquele de sempre
Mas o sorriso era diferente
o cavalo acompanhava no passo a gargalhada que ouvia
os cabelos rebeldes
ignoravam os carros
em linha reta na direção oposta
visão que vinha do território que pulsava fora das janelas levantadas
logo abaixo da ponte
na beira do rio
foi de onde ela veio
toda em desafio ao dia cinza
com sua alegria desfraldada
em todos os brancos dentes
que estavam a vista- todos, um a um.
Escandalosa, voltava a cabeça para trás em desafio debochado
Aos que não ousaram encarar
 O vasto horizonte do desconhecido
Logo além da ponte proibida.

o cavalo acompanhava no passo a gargalhada que ouvia- pégasus colorido com essa frase sobre ele

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

De eros e de tânatos no cu do mundo


Me sinto uma grande privilegiada (finalmente! chegou o meu dia!), por sofrer por amor em meio a um país mergulhado em luto e sofrimento. Essa minha ferida imensa e particular, que encontrou espaço em outras tantas feridas imensas e particulares que colecionei aqui dentro, me garante um tipo de insanidade prática, uma que me permite fazer alguma coisa a respeito. A minha loucura precisa dessa fresta de liberdade. Nas demais tragédias, amplas, de multidões, talvez rezar. Mas estou achando que o Deus que costumo rezar, não tem nada a ver com aquilo. O pacto que vocês fizeram esses últimos anos foi com Tânatos, que envolve a morte pela morte, a não ser que você considere que a totalidade do Deus cristão é apenas a sua versão Jeová, Tânatos não tem muito a ver com ele. A não ser quanto ao seu próprio filho. Mas ali é morte com esperança e não sei se nos sobra alguma. Morte com esperança também é a da velha dos ossos, da mulher lobo e a da mulher esqueleto. Os ossos depois da morte tendem a persistir ainda por muito tempo. Podem servir ainda para outros usos, até nobres.
Sofro por amor e, me desculpe a cultura da culpa e da aversão a esse tipo de sentimento vindo de uma uma mulher intelectualizada, mas negra, lascada e periférica- sentindo a si mesma-, mas esse sofrimento paradoxalmente arrisca e garante a minha existência de verdade. O restante é paisagem que me atormenta, me atomiza e me tira a chance de fazer algo concreto, a não ser lamentar. O sofrimento por amor me dá a possibilidade final da minha própria morte. Estaria fazendo algo.
Coitados dos humanos que amam assim. Ignorantes, mas plenamente convencidos de que sabem o que estão fazendo, com que tipo de feitiços antigos e ritos esquecidos estão brincando. Sorte a dos cínicos e dos bon vivants e a dos ascetas. Sorte de quem não encheu a cabeça com o excremento da liberdade dos grandes centros, vivendo no cu do mundo. Cu realmente é uma palavra linda, Adélia. Carlos não gostava muito dela, apesar de apreciá-lo.

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