Mostrando postagens com marcador passarim. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador passarim. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

sinal da cruz

Sua frase cínica afiada jogada assim sem ter cuidado com quem passava, cortou meu sentimento bom do dia. Foi preciso vir aqui deixar registrado para, quem sabe, salvar o dia de alguém. Sem cortes superficiais, desses que saem pouco sangue e ardem muito. Eu estava disposta à felicidade, mas tive que refazer teus planos: eu permaneci disposta. Ainda que não exista felicidade sozinha que dure, aprendi a cantar alto como o passarinho no fio do poste, em frente ao enquadro da janela do quarto. (1) Aviso dos predadores a quem estiver atento e que (2) às vezes até faz-se de convite para mais pétalas esvoaçantes, a celebrar a flor azul, no bico da silhueta da revoada

 no arrebol.



sexta-feira, 12 de julho de 2019

A galinha gigante

A galinha gigante d'O Filho de Mil Homens poderia ter outro destino que não a panela. Façamos de conta que ela, sendo uma galinha gigante, detinha poderes especiais para atravessar as dimensões. Bicando aqui e ali, acabou rasgando a página certa do livro, aterrissando em outra fábula: a Terra Brasilis. Bicando tudo que é porcaria no chão, acabou engolindo o presidente do país, seus filhos e todo mundo por perto deles. A pobre galinha não teve culpa, aqueles sujeitos realmente pareciam com sua ração. Mais tarde, amuada porque alguma coisa não ia bem no intestino, esperou quietinha, debaixo de uma árvore, a comidinha assentar. No dia seguinte, a galinha, já boa da saúde, continuou a ciscar por aí, soltando um cocozinho molhado aqui e acolá, reciclando e renovando a vida, esse trem bão de nosso Deus!

aquarela de uma galinha

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Lembrança Alada- Mia Couto

Em alguma vida fui ave.

Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpar em voo rasante.

E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.

Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura

Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.

Guardo a pluma
que resta dentro do peito
como um homem guarda o seu nome
no travesseiro do tempo.

Em alguma ave fui vida.


Uma garrincha (ave)

AS MAIS LIDAS