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terça-feira, 30 de março de 2021

LIVROS! LIVROS! LIVROS!

 Hoje a postagem é para lembrar que tenho alguns livros que escrevi ou colaborei que estão disponíveis para compra. Dois deles você encontra na Amazon. Mas confesso que recebo ALGUMA COISA (rysos) quando compram comigo.

Infelizmente com a pandemia e meu desemprego por motivos de "ainda não entreguei a tese" (dentre outras questões particulares), não tenho como me organizar para enviar as obras por aí. Esse modelo só vai poder ser adotado depois da pandemia, de fato. 

MAS você que mora em Teresina, se realmente quiser algum deles, pode vir pegar comigo, na casa da minha mãe. É só pedir por email o/os exemplares: naybsousa@gmail.com.

Vamos aos meus queridinhos, então!


1. FILOSOFIA e um monte de outras coisas:

O primeiro! Tem alguns ensaios meus nesse livro bonito que organizei junto com os amigos José Elielton e José Vanderlei. Mas além de mim, tem muitas pessoas encantadoras nele, como a Ananda, Dani Marques e Laís Romero, que já apareceram aqui no blog. 

Olha que fofo!


Ele está por 20 reais comprando por email comigo. Também tem disponível na livraria Anchieta da Zona Leste, em Teresina. Não tem na Amazon, mas os próximos que apresento aqui, sim. 💟

2. FEMINISMO COMO METÁFORA: autocriação e política

O mais novo dos três, apesar de ter sido escrito primeiro. O "Feminismo como metáfora" é o resultado da minha pesquisa no mestrado, alguns anos atrás. Publicação viabilizada por meio de uma vaquinha, minha intenção lançá-lo estava em ajudar no cenário de "mulheres acadêmicas que publicam livros". Ainda estamos bem aquém em algumas áreas e entendi como algo importante para quem vem depois de mim entender que essas pequenas vitórias são possíveis, mesmo diante da violência que o mundo acadêmico pode ser. Há muita mais beleza a compartilhar, quando deixam.

No mais, já aviso que a linguagem é realmente bem técnica, mas do meio para o fim se torna bem mais fluida quando eu descaradamente lembro de algumas poetas que gosto para fundamentar minhas ideias. 😇


Com a publicação desse livro eu senti realmente que livro é sempre uma coisa coletiva

Meu filho mais novo tem o preço sugerido pela editora de 40 reais e é esse valor que você pode adquirir comigo (ao vivo, com álcool em gel e máscara). Na amazon você encontra para receber em qualquer lugar do país por 46 reais até a data dessa publicação (mas tem promoção de vez em quando, fica de olho). Quando a pandemia der um tempo (oi? espero que um dia isso ocrra), poderei diminuir o valor e fazer os sorteios e doações que gostaria. 😪


3. DECLARAÇÕES de uma alquimista sensível:

Declarações de uma Alquimista Sensível


Por fim, um tanto de poesia minha publicada pela Caneleiro Editora, da Dani Marques. Ele está disponível, por ora, apenas on-line na Amazon, onde você pode adquirir gratuitamente pelo Kindle Unlimited, ou ajudar a autora e a editora, adquirindo (também pela Amazon), pela bagatela de 12 reais.

Desse valor, a Amazon fica com cerca de 3 reais e o restante é dividido entre nós duas. Sim a multinacional se comporta como se tivesse algo a ver com igualdade entre sujeitos (no caso, ela).

Informo, ainda, para o caso de alguém quiser enfrentar esse monstrengo internacional e publicar seus livros por lá, a Caneleiro Editora faz esse trabalho com menos dor de cabeça para as escritoras e escritores. 😉


É isso, pessoal!

E vamos de comprar os livros, heim? Hahaha! 😂



quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Reminiscências, filosofias e palestra: bloqueando o raio homogeneizador

Uma das coisas que sempre me encantaram com a internet, foi ter acesso a um tipo de conhecimento que eu dificilmente teria, se ela não existe ou até teria, mas com com muito mais sacrifício. Faço parte da geração de transição do mundo analógico para o digital, que já na infância viu o computador (ainda na escola), na adolescência frequentou as lan houses, mesmo que só fosse ter o seu só depois de entrar na universidade. Na universidade, terminamos restritas ao saber que oferece  um corpo docente muitas vezes precarizado pela própria instituição, ou pelo habitus [Bordieu] bem distante de uma vivência acadêmica de pesquisa e de crítica de fato, como no curso de direito da minha época. Depois, na filosofia, ainda que tivéssemos um ou outro professor bastante dedicado ao seu trabalho, a escassez de espaço e de recursos (humanos, inclusive, não tive aula com uma professora mulher no mestrado), talvez tivessem deixado árido demais o ambiente. Fora as boas almas que compartilham conosco dessas vivências no imediato e amenizam o cenário- pelo menos o suficiente para não desistir, coisa que acontece bastante-, a janela da internet e das redes sociais que começavam a se afirmar, me aproximaram não só do lazer e de contatos outros, mas também me permitiram saber e aprender com a produção de outros tantos centros desse país e de fora dele.

Não está no lattes, mas eu devo minha formação a muito mais instituições que as que oficialmente me matriculei. Todas as vezes que eu sentia a epistemologia dominante me sufocar, eu recorria a outros livros, outras revistas, outras palestras e a conversar com outros professores. Hoje os feminismos e outros tantos movimentos sociais vem se tornando presentes nas ferramentas de mídia mais avançadas, disponibilizando uma maravilhosa vitrine de possibilidades para quem não se encaixa, para quem sente uma necessidade de uma outras crítica, um viés que não os ignore- e para convidar quem parece estar encaixado, também. É importante que se compreenda que isso é novo, se veio um tanto com o governo do PT e sua abertura (que poderia ter sido bem melhor), sobreviveu a ele e na verdade floresceu depois da queda.

E que bom que as novas gerações tem essas opções. Eu sou mais da geração imediatamente anterior[geração se tornou essa coisa tão variável], ainda estou tendo que lidar com os velhos sábios, que hoje a gente compreende que nem eram tão sábios assim para tantas questões relevantes como racismo, misoginia, escravidão, homofobias, desconsideração por vidas não humanas e um monte de coisa. É aqui que eu me localizo e eu considero um lugar estratégico, talvez menor, mas importante, porque as perguntas que aqueles senhores fizeram e tentaram responder ainda movem as grandes instituições e poderes que ignoram o meu mundo (e muitos outros mundos). As perguntas deles tem que mudar dentro deles, dentro dos sistemas que eles criaram, também. As contradições estão lá e vão cumprir sua missão, sendo de se transmutar, numa outra síntese, ou de se destruir e fazer-se desaparecer no que não cabe mais.

A filosofia é duríssima. Muitos dizem que ela deveria desaparecer- eu poderia dizer isso de outras tantas coisas, mas sou apegada demais à noção de caos e sistemas-, outras estão tentando mostrar que já existiam outras filosofias, quando só um tipo era escutado. Eu tendo a esse grupo, desejar desaparecer o que há de ruim em uma área, não faz desaparecer suas consequências milenares no mundo e muito menos na prática do dia a dia. Então, recomendo um site, que ainda está começando, com muitas coisas a aprender, mas que já é bastante, pois não tínhamos nada, é o site Rede de Mulheres Filósofas. Ainda não estou lá, mas quem sabe uma hora apareço? Meu livro, fruto de um mestrado e de uma vaquinha realizada on-line e, certamente só possível por isso, sai ainda este ano- em 2011 tava eu lá tentando falar de feminismo no deserto do programa. 

Então, em lembrança às minhas escolhas, eu posto aqui uma palestra de filosofia feita por um antropólogo. Para quem não é da área eu aviso, de antemão, que isso é um tipo de heresia; mas eu reafirmo mais explicitamente: o professor Eduardo Viveiros de Castro é um filósofo, também. A sua palestra me deu os insights e a energia para escrever essa postagem para o blog, do mesmo modo que cerca de 4 anos atrás, me ajudava a sobreviver nas horas mais chatas e pouco estimulantes da pós. Essa palestra, que é uma belíssima metafísica, usando do seu perspectivismo ameríndio, aprendido também dos indígenas, me parece um palco argumentativo suficiente para introduzir a defesa das verdades culturais profundas de tantos grupos homogeneizados pelo raio homegeneizador* da modernidade capitalista. Aí eles aparecem como interlocutores tão fortes quantos, numa arena que costuma rir do poder do maracá**. Talvez seja uma das vantagens da antropologia, isso que na filosofia nós acusamos horrorizados de relativismo (eu não!). De todo modo, veio a mim que ainda que as primeiras e últimas questões sempre retornem, as perguntas precisam urgentemente alterarem seu formato.

Individualmente, não pretendo subestimar a força conservadora do habitus acadêmicos e institucionais em termos gerais por meio de um moralismo (apesar de achar que tem lá sua força), aponto as rachaduras e aproveito as frestas, quem está numa condição parecida com a minha: doente, vivendo aqui e ali, com raiva, inserida num jogo que entra em desvantagem, com dificuldade de apelar para uma formação que faça uma mínima crítica por questão de vida e morte, eu reitero: temos as frestas. Imagine, se eu acredito que até existam matemáticas e matemáticos dispostos à crítica, a que leitura fodona da área apelariam? Há se pensar nisso. Deixo aí minhas divagações para o ar, que eu não ando com o espírito para responder- espírito que é sopro que não deixa de ser ar.  Acho que isso também faz parte.

Por fim, lembro que essa palestra foi feita em 2017, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, mas promovida no Youtube em nome do Museu Nacional, onde Eduardo era professor. O Museu, incendiado em 2018, num desses anos difíceis, na sequências de anos dificeis dessa nossa vivência coletiva brasileira recente, onde se perdeu o registro de várias línguas indígenas raras, ou que não tem mais falantes vivos, por exemplo, ou o registro de migrantes nordestinos da década de 1960, além de estudos e pesquisas em outras tantas áreas. Ficam aí alguns pedaços da ruína dele, memórias de coisas mortas, mas acreditando que elas retornam, como novas vidas ou como assombração mesmo- pra puxar o pé e levar embora quem deixa essas coisas acontecerem. #pas 



* Eu tenho quase certeza que esse termo da ficção científica meu inconsciente trouxe de algum episódio do primeiro semestre de 2020 do podcast Benzina- que eu recomendo sempre.

** O maracá é um instrumento importante para muitas etnias indígenas tanto pela sua musicalidade, como para seu uso nos mais diversos rituais. É uma palavra que no presente pandêmico e de governo fascista vigente, vem sendo utilizado para reunir algumas diretrizes internas de organização e cuidado de muitas comunidades. Conferir: https://racismoambiental.net.br/2020/08/30/maraca-emergencia-indigena-veja-os-quatro-primeiros-episodios/

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Margareth Atwood: A Odisséia de Penélope

Mais conhecida pelo sucesso do livro e da série "O conto da aia" (Handmaid's Tale), Margareth Atwood elaborou essa pequena obra de arte: "A Odisséia de Penélope: o mito de Penélope e Odisseu". Se você, como eu, já estava cansada dos mitos gregos serem apresentados sempre pelo viés do herói, a imaginação de Atwood nos empresta a possibilidade de refletir a respeito da condição de Penélope, a esposa deixada solitária em Ítaca por anos, esperando seu esposo retornar de suas aventuras em alto mar. 
Tendo que cuidar do reino e da família em um mundo já ostensivamente patriarcal, destaca-se a relação de Penélope com sua prima Helena, bem como e, principalmente, com suas escravas. Particularmente, o coro com as vozes das escravas e as cenas finais da história são de uma potência que reinaugura a interpretação de que a Odisseia representaria o marco ocidental do fim do que restava do matriarcado. 
Melancólico demais, bonito demais o coral das mulheres esquecidas- e somos muitas ao longo da história. 

Recomendo fortemente a leitura. 

Comprei por 10 reais na Amazon. (159 páginas)

sexta-feira, 29 de março de 2019

Sugestões: histórias para não morrer

Neil Gaiman- Alerta de risco. Tem Shadow Moon (dos Deuses Americanos), tem Dr. Who, tem Sherlock Holmes, muito folclore e mitologia.

Neil Gaiman- O oceano no fim do caminho. Reler para reencontrar as mulheres Hempstock.
Apesar da imagem, o conto da minha sugestão se encontra no livro "Mulheres que correm com os lobos", que traz uma linda análise mitológica e psicanalítica dessa história trágica e bela.


Deuses Americanos- a série. Mais Neil Gaiman, agora na narrativa do áudio-visual. Deuses novos e antigos tentando caber no nosso mundo.



Podcast que acompanha o livro "As mulheres que correm com os lobos", para a gente não se sentir tão só ao entrar nas páginas da dra. Clarissa. (clica)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Playlist do Espaço Sideral

Não lembro de ter feito aqui alguma postagem a respeito de uma das minhas principais distrações nos últimos anos: filmes de super heróis. Para começar a compensar essa lacuna, trago esse textinho sobre uma das consequências bacanas desse longo hype nesses filmes: o pessoal investe bem nas trilhas sonoras, que eu adoro demais acompanhar. Pego uma playlist no dente e escuto por meses a fio! De longe, a que eu mais ouço (inclusive agora enquanto escrevo aqui) é a do filme "Guardiões da Galáxia"- dos dois filmes.

Peter Quill, o herói espacial (ou quase isso) e personagem principal dessa linha da Marvel, foi uma criança abduzida da Terra no dia da morte de sua mãe, em algum momento da década de 1980 e o vínculo que mantém com suas lembranças terrestres é justamente seu walkman, com os sucessos das décadas da juventude da progenitora, até o momento da separação dos dois- o que nos dá o melhor do pop internacional, do punk, do blues, do rock e ritmos afins (em língua inglesa, claro). São duas fitas, a primeira vai junto com o Walkman na abdução; a segunda, é o último presente dado por sua mãe no leito do hospital, que Quill abre no final do primeiro filme, quando começa a se reconciliar com as memórias do seu passado ao desenrolar uma empreitada de furto e heroísmo (a contragosto) com seus novos parceiros e amigos, já no espaço.

Você pode escutar essa playlist no spotify, caso prefira. Comecei aqui por uma do 10cc:

 
I'm not in love- 10 cc

sábado, 29 de dezembro de 2018

3 anos de blog de poesia


Quando criei esse blog, o primeiro que criei e continuei, a intenção era desabafar e compartilhar sem muitas intenções coisas que, por algum motivo banal (ou não), eu não conseguiria expor em nenhuma rede social em primeira mão. Com o tempo, o blog se tornou não só um lugar no qual eu poderia me olhar com outros olhos, ou olhar com outros olhos algumas vivências pessoais, ele se tornou ferramenta e também resultado de muito da minha vida criativa, coisa que eu não dava a devida atenção, mas que foi responsável por sustentar alguma vitalidade minha em anos interiormente muito difíceis. Já pensei em excluí-lo algumas vezes, mas curiosamente, bem menos do que eu acreditei que pensaria. Eu trago aqui, em números, uma amostra de que não estive só ao longo desses 3 anos. Um blog que fala de poesia, de arte e de cultura, eventualmente de questões existenciais e que apresenta poesia autoral de uma neófita sem muita habilidade no mundo das blogueiras, enfim, não é lá um locus que eu esperava receber muitas visitas. Mas recebi algumas e agradeço sinceramente a olhadinha rápida ou demorada que cada uma e cada um de vocês deram. Agradeço também às autoras e aos autores que participaram das postagens. Um 2019 maravilhosa para nós! Não somos muitas e nem muitos, mas somos fortes e sensíveis. Eu acredito nisso. ;))





sábado, 1 de dezembro de 2018

Palavrançar

Convidei a Lara Matos, advogada e escritora que já apresentei aqui no blog (clica aqui), para fazer uma postagem sobre mulheres escritoras negras da preferência dela. O pedido foi uma referência ao novembro negro, que acabou ontem e ao movimento nacional que busca incentivar a leitura de mulheres negras, que no Piauí, ganhou força na Campanha Esperançar (clica aqui e aqui), incentivada pela professora da UESPI Andreia Marreiro.

Seguem a postagem e as dicas:


A maior parte dos livros que vão estar na lista dos melhores do ano, uma tradição minha das festas de Natal e Ano-Novo, foram escritos por mulheres, e deste universo, muitos por mulheres negras. Hoje eu vou falar sobre as melhores leituras de autoras negras que fiz ao longo da vida, e comentar minha lista de desejos (meu aniversário é dia 09 de dezembro, oie). Minhas leituras de ficção são bem maiores que as de não-ficção, e por isso vou me concentrar na primeira modalidade.

I-A Cor Púrpura, Alice Walker: quando eu tinha 11 anos, meu livro didático de inglês propunha que escolhêssemos um filme dirigido/produzido por Steven Spielberg de uma lista. Eu escolhi a Cor Púrpura pelo título, aluguei o filme e quando descobri que Cellie existia em livro, e ainda mais, que tinha este livro em casa, me entreguei às páginas. Minha infância e adolescência foi meio assim mesmo, lendo coisas não tão apropriadas para a minha idade mas que me deram uma visão de mundo mais humana. Cellie, uma mulher negra, lésbica, que nunca entendi como ela se dizia, feia, com um coração tão bonito, foi a primeira personagem que despertou minha curiosidade.




II-Amada, Toni Morrison: É um dos meus livros preferidos de sempre, mesmo porque o começo enigmático, descrevendo a ação de um fantasma, me intrigou bastante. Demora um pouco até você entender o que está acontecendo, mas quando o enredo se mostra, é de uma grandeza e de uma potência absurda. A relação da mãe Sethe com os filhos ainda hoje me dá nós na garganta. Em algum momento, filhos que lêem est livro verão suas mães, seja de modo positivo ou não.  De Toni, até ler Amada, eu havia tido contato apenas com Jazz, um livro curto que dá conta de muito da dinâmica urbana dos negros dos EUA e cuja personagem principal, Violet, me causou uma profunda empatia; não gostaria de estar em sua pele novamente, embora já tenha estado, e a entendo demais. Na verdade, eu poria tudo de Morrison nessa lista, inclusive meu desejo Deus Ajude Esta Criança, seu livro mais recente traduzido no Brasil pela Companhia das Letras.



III-O Ódio que Você Semeia, Angie Thomas: Eu levei esse livro para votar, só para vocês terem um ideia, e foi o destaque dos meus livros preferidos de 2017.  Poucas vezes eu li algo tão bom com a temática de raça quanto ele, que inclusive zomba na cara de alguns curadores que dizem que romances YA estão fora de um espectro artístico. Nunca leram Angie Thomas, Jacqueline Woodson ou Nnedi Orokafor. Coitados. As palavras de Angie na estreia do filme baseado em O Ódio que Você Semeia “eu fui assistida pelo seguro social, vim de uma periferia violenta e cheguei a achar que não terminaria a escola; hoje, na estreia do filme baseado no livro em que escrevi, eu digo: tudo é possível”. Angie é uma voz negra intelectual com uma relevância enorme, pois como mulher jovem, é a prova viva de que a juventude negra precisa de ações afirmativas e, uma vez tendo acesso a elas, é capaz de alçar voos inimagináveis para elas mesmas. É uma reconstrução não só de uma autoestima individual, mas de toda uma comunidade.



IV-O Caminho de Casa, Yaa Gyazi: a diáspora africana com todas as dores, alegrias e anseios. Eu gostaria de dar este livro para cada um que fala “negros escravizavam negros”, porque as páginas dissolvem esse preconceito ignorante com um lirismo belíssimo, explicando toda a complexidade de relações do colonialismo escravagista. Você aprende a não falar besteira com uma história bem amarrada e com imagens deslumbrantes. Além disso, personagens como Marcus situam a compreensão de uma questão ainda muito pouco abordada: a saúde mental de pessoas negras, em especial dos homens negros; a incursão nas drogas desse personagem, inclusive, é uma descrição que gera muitas nuances de análise, exigindo um texto próprio.
Antes de falar da poesia, gostaria de falar sobre um incômodo: a mulheres poetas, em especial mulheres negras poetas, é negado o dom à exatidão e à observação. Mulheres são seres empíricos, levados por paixões, e não racionais e cognoscíveis: é um preconceito velado ou muitas vezes até manifesto mesmo em muitos ensaios críticos. Uma mulher negra que escreve, se instrui e aprende o letramento em formas de prosa e poesia com técnica, ritmo e lirismo impecáveis, então, uma afronta. Algumas mulheres que entram chutando as portas do formalismo branco da poesia hermética estão aqui:



I-Lívia Maria Natália de Souza: O Poema As Mãos de Minha Mãe me leva às lágrimas toda vez que leio. Durante o Colóquio de Gênero realizado na Universidade Estadual do Piauí, no mês de setembro deste ano, a própria poeta recitou esses versos, que falam sobre sua mãe com mal de Alzheimer. Minha avó foi levada por esta doença, também, e a dor profunda de sentir o fio da vida de alguém que amamos escoando aos poucos pesa ao mesmo tempo que encontra alívio nas palavras dessa poeta, que tive a honra de abraçar e conversar. Meu livro preferido de Lívia é Correntezas e Outros Estudos Marinhos, mas indico todos. 



V-Eliane Marques: Para escrever poesia é preciso ler poesia. Para versificar bem, é preciso ver a prática de versificação. Eliane Marques me ensinou lições preciosas que acredito que não extrairia de tratados de poética. Há uma precisão nos versos que fez com que eu recitasse fragmentos espontaneamente apenas algumas leituras depois. Uma amostra:
e se irene não-à-lei
e se irene não-sinhô
e se não-tão-preta
e nem-tão-boa
e se ainda aos piores mortos
o amém das moças



VI-Não Vou mais Lavar os Pratos, Cristiane Sobral: Uma mulher negra que resolve se instruir. A afronta que uma pessoa sempre relegada aos bastidores e aos cuidados rudimentares lendo, escrevendo, pensando, criando e sendo protagonista altiva não só da própria história, mas inventando novos mundos líricos. Esta é Cristiane.



III-Bone, Yrsa Daley-Ward: tenho minhas ressalvas em ler poemas em línguas estrangeiras traduzidos; por isso, geralmente me atenho a versos escritos em inglês ou espanhol, idiomas que domino e sei traduzir. Digo isto para marcar minha ignorância acerca de poetas cujos versos só conheço por traduções em português ou inglês que de certo modo me parecem estranhas, com algo fora do lugar, seja a estrutura da versificação ou as imagens obtidas. Ah, e outra coisa: Daley-Ward é modelo e atriz também; artista da cabeça aos pés. Abaixo, um dos poemas dela, que eu mesma traduzi.
Nada é dito na mesa de jantar
Porque todo mundo tem raiva
O único barulho é o tilintar dos talheres de prata na porcelana chinesa
E o som das brincadeiras dos filhos de outras pessoas lá fora
Mas isto te dará poesia
Na cozinha não há faca
Afiada que possa cortar a tensão
E as mãos de sua avó tremem
A carne e o inhame entalam na garganta
E você nem ousa mais sussurrar “passe o sal”
Mas isto te dará poesia
Seu pai está bufando
Ele poderá extrair toda seu viço esta noite
Por razões que nem ele mesmo sabe
Ainda
Você sairá machucada
Você sairá machucada
Mas isto lhe dará poesia
A ferida irá se espalhar
Dispersar até ser
um diamante negro
Ninguém sentará ao seu lado na aula
Talvez sua vida dê certo
Embora de primeira
Não pareça:
Isto lhe dará poesia



Maya Angelou: Olha ela de novo! O gênio que foi Angelou é uma coisa rara. Eu me atrevi a traduzir alguns poemas dela, e aqui está o meu preferido, Mulher Fenomenal. Não pus um livro em especial porque sempre consumi Maya de maneira dispersa, e já mencionei o I Know why the caged Bird Sings. E o “Mamãe e Eu e Mamãe”, que ainda não li porque sou muito sensível a histórias que tratam das relações entre pais e filhos: mesmo depois de três anos ainda tento me recuperar da última leitura deste tipo que fiz, Patrimônio, de Philip Roth. Aqui está minha tradução de Mulher Fenomenal (poema que Angie Thomas, em o Ódio que você semeia, diz descrever totalmente sua avó):

Mulher fenomenal
Lindas mulheres perguntam
Que segredos escondo
Não sou adorável ou feita
Para envergar um traje de modelo
Se eu começasse a contar sobre mim
Diriam que minto
Se disser que está no movimento dos meus braços,
No sacudir do meu quadril
No molejo dos meus passos
Na curva dos meus lábios:
Sou fenomenalmente
Uma mulher fenomenal
É quem sou
Quando entro em um recinto
Fresca e cheia de graça
Faço homens e seus companheiros
Levantarem ou caírem de joelhos
Eles me cercam
Sou uma colmeia vazando mel
Digo:
É no fogo dos meus olhos, no brilho dos meus dentes
Minha cintura malemolente
A alegria dos meus pés
Sou uma mulher fenomenalmente
Fenomenal
É quem sou
Homens perguntam a si mesmos
O que veem em mim
Eles até tentam
Mas não conseguem tocar
Meu mistério interno
Quando eu tento lhes mostrar
Eles inda não veem
Eu digo
É na curvatura das minhas costas, no sol do meu sorriso
No elevar dos meus seios
Meu estilo impecável
Uma mulher fenomenalmente
Agora você entende
Que é minha mente errante: não grito, salto
Ou preciso falar alto
Quando você me vê passar, deveria se orgulhar
Eu afirmo:
É no som dos meus saltos altos
Meus cabelos penteados
A palma da minha mão
A necessidade do meu cuidado
Fenomenalmente
É quem sou
fenomenal





Lista de desejos e leituras futuras/em andamento:

I-Filhos de Sangue e Osso, (Série Legado de Orïsha #1), Tomi Adeyemi: Tenho verdadeira paixão por autores que estudam religiões e mitologias a fundo para criar suas próprias versões em histórias originais. Exemplos conhecidos dessa capacidade de “aprender tudo como um especialista e recriar como artista” são Neil Gaiman e Maggie Stiefvater. Tomi foi além deles. Toda a pesquisa minuciosa se descortina numa história cheia de alegorias e imagens que parecem sonhadas. Estou no início da leitura e espero conseguir terminar logo, porque este livro merece estar numa lista de melhores pelo fascínio que me induziu, estou obcecada! Este livro, inclusive, vem com um guia de pronúncia Iorubá, GENTE!!!!!!!!!

II-Fique Comigo, Ayòbámi Adébáyò: Margaret Atwood, autora de O Conto da Aia e Vulgo Grace, é uma autora ativa nas redes sociais, e partilha suas leituras para os seguidores. Foi assim que tomei conhecimento deste livro de Adébáyò, uma jovem escritora que teceu um romance a partir da experiência com violência, exílio, costumes e particularidades de relacionamentos amorosos. Não falo mais porque ainda não comecei a leitura de fato, porém mal posso esperar.

III-Bruxa Akata, Nnedi Okorafor: Chimamanda plantou sonhos na Nigéria ao riscar seu país com  palavras. Nnedi, ficcionista exímia, fala da realidade na Nigéria a partir do olhar de uma garota albina. Mal posso esperar para começar a leitura do novo romance da autora de Quem Teme A Morte, a única ficção distópica que conseguiu prender minha atenção. Agora, com um tema ainda mais cativante, vou pular uns livros da minha fila de leitura (desculpa Becky Albertalli).



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