as coisas estão ficando super estranhas- é o meu momento* |
A mulher cética
O mundo se torna uma grande repetição de romances
românticos entre personagens melosos e possessivos. Os sentimentos são
reduzidos àqueles que se encontram nas páginas desses livros e das fanfics
feitas sobre esses livros. O número de suicídios e assassinatos por motivo
passional se eleva. Suicídios quase sempre duplos, ou triplos, diga-se.
Como resolver esse caso, que só poderia ser um primo distante e pobre de um enredo de Saramago?
A mulher cética está ali para ajudar.
Apenas a mulher filha do verdadeiro feminismo do século
XX pode resolver o problema e salvar as civilizações humanas de um
colapso.
Se ela chegar a se convencer que isso é algo ruim…
Porque no meio do caminho, ela descobriu que nem todos
os grupos humanos haviam sido afetados pela contaminação. E eles não eram
céticos.
Isso deixou a mulher cética bastante curiosa - porque
ela era cética e não cínica.
Ela compreendeu que as chamadas das redes sociais e os
jornais provavelmente tenham sido sensacionalistas quanto ao alcance do
problema. O que faz muito sentido, pois o drama faz parte do enredo daquelas
histórias.
Preferiu essa explicação a qualquer outra que a fizesse
pensar demais nessa questão, o seu ceticismo é bom para poupar ATP.
Ou talvez ela tenha depressão.
Depois de muitos dias, não se sabe quantos, ela decidiu
visitar esses outros humanos que desviavam do padrão.
Spoiler: ela concluiu que o padrão era algo muito
relativo.
As ruas não eram das melhores para quem anda à pé, as
margens dos rios estavam distantes dos leitos.Havia pouco cimento. A mulher
ficou contente de ter vindo com uma bota velha.
Esses foram os melhores lugares que ela foi. Não há
registro a respeito dessa experiência na internet.
Ela afirma que seus novos conhecidos foram os
responsáveis pelos seus passos seguintes.
Foi uma experiência horrorosa. Ela decidiu não
descrever o que viu - de propósito.
Nela, ela descobriu que não era assim mais tão cética e
que todas essas vivências haviam mudado-lhe.
Ela havia ido parar em ****. Ali as emoções humanas
também estavam em alto volume, como nas civilizações, mas ela nunca havia
sentido nenhuma delas antes. Não é que ela não tenha ouvido falar delas, mas
ela aprendeu, por repetição, que as ditas cujas haviam sido extintas.
Um lado da mulher feminista sorriu malevolamente. Ela
sabia que a mulher cética estava mentindo.
A mulher cética não demorou muito em ****. Ela nem
mesmo sabe como conseguiu sair de lá.
Voltou correndo. Mas o ouvido ficou treinado para a
histeria das novas emoções. Ela conseguiu lembrar delas, mas preferiria: não.
A praga amorosa não retrocedeu. A esperança de parte
das pessoas sobre a missão da cética não durou um punhado de dias e na verdade
ela logo foi esquecida. Mas o esquecimento deles não fez desaparecer nossa
heroína.
Ela é que vagava, esquecida de si. Estava quase
maltrapilha, o que era algo bom, porque ser ignorada era melhor do que ser
notada naquele lugar.
A mudança da estrada asfaltada para a estrada de terra,
causou o efeito de um despertador distante. A mulher cética percebeu que estava
em um território com um cheiro diferente. Melhor. Os melhores lugares estavam
de volta.
A mulher cética se tornou a mulher cuidada.A mulher
cética tornou-se muitas outras mulheres, além da cética, da feminista e da
cuidada. Elas viviam juntas. Elas nunca desapareciam. Elas estavam nas outras
pessoas e no mundo. E era engraçado, de um jeito triste, olhar pela janela do
seu antigo mundo, lugar de pragas estranhas e esquecimentos trágicos. Ainda era
o seu mundo, mas agora ele era bem maior do que aquele que haviam lhe postos
nas mãos num momento de desespero deles. E o que tinha ela a ver com aquilo?
Fim da parte 1
suave. mas não disponível a maus-tratos. |