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domingo, 4 de agosto de 2019

Sites de cultura recomendados pelo passarinho

Uma das coisas que eu gosto de fazer, tem alguns anos, é "frequentar" os sites das revistas que eu eventualmente compro, ou que assino. Somo a eles sites de revistas que não tenho acesso pelo meio físico, apenas pelo virtual. Apesar do papel ter perdido a rodada para o meio eletrônico, ainda gosto de ter alguns números de publicações culturais, sempre que posso. Com o meio eletrônico, me permito descansar na procura por colunas interessantes desses veículos famosos e outros nem tanto. O descanso pode vir sob a forma de provocação, como é de se esperar de meio de comunicação de cultura. Não importa. São bem-vindos. E em meio a este momento que o mundo quer trazer de volta o abuso fascista, fico satisfeita em perceber que os jornais, as revistas, as colunas que eu mais gostava nenhuma preferiu esse caminho violento e fácil (fascio), ainda que uma ou outra seja mais tímida em deixar explícito isso.

Mas vamos aos sites/jornais/revistas?

1. REVESTRÉS:

Revista do meu estado natal, Piauí, de qualidade excelente, pelos temas nacionais e locais, pelos convidados, pelas entrevistas, pelo cuidado dos editores, dos jornalistas e a linda fotografia. Certamente é revista-afeto e revista-memória para piauienses e agregados que quiserem se sentir dentro da roda. No site, você pode conferir muitas entrevistas que saíram na revista de papel (um tempinho depois de cada edição), como essa do Torquato Neto aí embaixo e também conteúdo exclusivo como o blog Br-ó-bró do qual tive a alegria de participar (e que teve até um livro lançado recentemente), a coluna da Sérgia A. do professor W. Soares (editor) e do André Gonçalves (editor-chefe), dentre outros colaboradores de alma inquieta e sensível.

Ah e lá tem as crônicas do Rogério Newton, que são apenas lindas demais.

A revestrés pode ser adquirida em bancas de Teresina e Brasília. E você pode assiná-la, como eu: https://loja.revistarevestres.com.br/produtos/assinaturas 

"Revestrés recupera a última entrevista de Torquato Neto, com texto novo de Menezes Y Morais"


2. SUPLEMENTO PERNAMBUCO:

Provavelmente o suplemento cultural mais famoso do nordeste (e acredito que fora dele), o Suplemento tem a facilidade da gratuidade e é  uma publicação da Companhia Editora de Pernambuco - CEPE, editora do Estado de Pernambuco. Você pode baixar as páginas que são um primor graças aos competentes artistas convidados para ilustrar cada nova edição. Se você tiver como assinar o suplemento, vai ter em mãos toda a beleza desse jornal cultural (eu fiz isso por um ano e foi muito bom!). E é de se notar que sempre tentam valorizar o trabalhos das mulheres de hoje e de ontem e também de negros e outros grupos marginalizados pelo discurso cultural rotineiro. A Adrienne Rich vira e mexe aparece lá traduzida e eu acho lindo.

De vez em quando, eles enviam também documentários e livretos juntos com o suplemento. As apreciadoras agradecem. 

Algumas colunas e matérias instigantes que você pode encontrar lá (foco nessa colagem do Euclides)



Outra publicação de terras piauienses. Tem um projeto gráfico que me agrada, desde o papel até as ilustrações que costumam aparecer por lá. A descrição da revista pelos próprios criadores já é por si só, pura poesia: "Pode ser uma revista, um livro, um objeto não identificado. Trata de audiovisual, literatura e demais artes, nossos outros desequilíbrios."

Daí você tem entrevistas e material literário de qualidade, tratado com o maior carinho. E para completar, você pode folhear as páginas de algumas edições pelo ISSU (por isso que estão aqui nessa lista). Mas, caso você deseje tê-la impressa em sua casa, também pode entrar em contato com os editores, ou comprá-la em livrarias ou eventos culturais da cidade de Teresina.

Clica aqui para folhear o material bonito 


4. CONTINENTE: 

Quando você esbarra no Suplemento Pernambuco, fica aberto a drogas mais pesadas (brincadeiraa) como a digna Revista Continente (que sempre é divulgada na irmã), ambas integram a editora CEPE, assim como o Suplemento, é uma revista mensal, que publica fisicamente, mas que mantém um site muito interessante. Você clica lá em "seções" e se esbalda de tanto texto inteligente e belo. Tem muito orgulho de ser nordestina, como também de ir além dessas fronteiras. Muita gente que balança o mundo das artes já deu entrevista por lá.

Clica aqui para acessar a entrevista com a Marin Alsop


Seus textos são cuidadosos, sem muitas experimentações. O conteúdo é, geralmente, excelente. Entrei em contato com ele quando tive a oportunidade de fazer doutorado em Santa Catarina- eles tiveram origem em Curitiba e têm colunistas reconhecidos nacionalmente. Muito material de qualidade, ensaios que costumam me agradar demais.

O jornal rascunho é enviado pelos correios, bastando a interessada ou interessado entrar em contato.


Algumas das recomendações do jornal (clica aí)



O jornal quatrocincoum agora está hospedado como um blog da Folha de São Paulo. Talvez o maior tenha percebido que precisava tratar de literatura com mais carinho- ao contrário de outro jornalão. O quatrocincoum é uma pérola maravilhosa de se acompanhar e agora tem até podcast. Toda estratégia razoável é bem vinda para encararmos tempos de escassez material e miséria de parte da alma coletiva.









quarta-feira, 10 de julho de 2019

Margareth Atwood: A Odisséia de Penélope

Mais conhecida pelo sucesso do livro e da série "O conto da aia" (Handmaid's Tale), Margareth Atwood elaborou essa pequena obra de arte: "A Odisséia de Penélope: o mito de Penélope e Odisseu". Se você, como eu, já estava cansada dos mitos gregos serem apresentados sempre pelo viés do herói, a imaginação de Atwood nos empresta a possibilidade de refletir a respeito da condição de Penélope, a esposa deixada solitária em Ítaca por anos, esperando seu esposo retornar de suas aventuras em alto mar. 
Tendo que cuidar do reino e da família em um mundo já ostensivamente patriarcal, destaca-se a relação de Penélope com sua prima Helena, bem como e, principalmente, com suas escravas. Particularmente, o coro com as vozes das escravas e as cenas finais da história são de uma potência que reinaugura a interpretação de que a Odisseia representaria o marco ocidental do fim do que restava do matriarcado. 
Melancólico demais, bonito demais o coral das mulheres esquecidas- e somos muitas ao longo da história. 

Recomendo fortemente a leitura. 

Comprei por 10 reais na Amazon. (159 páginas)

domingo, 9 de junho de 2019

Brené Brown: Vulnerabilidade e Coragem

Escutando o meu podcast favorito Talvez seja isso, que abordou pausadamente a mágica contida nas páginas do livro Mulheres que correm com os lobos, uma das sugestões extras das locutoras/criadoras Bárbara Nickel e Mariana Bandarra que se repetiu e chamou minha atenção foi a menção a Brené Brown (pelo modo afetivo que a Bárbara falava dela). Descobri o Ted da Brené Brown e vi que era um carinho e um puxão de orelha nas nossas almas aquilo ali.

Brown fala sobre vulnerabilidade, seu objeto de pesquisa há mais de 20 anos na academia. E ao contrário do que poderíamos pensar, ela não é uma mulher fofinha que defende a vulnerabilidade como uma coisa fofinha. Há uma mente bastante pragmática e eu diria até excessivamente disciplinada que se esforça em passar uma mensagem (sem usar a linguagem acadêmica, expondo-se) a quem se propõe a ouvir: não há criatividade, não há relações que valham, não há solidariedade sem exposição, sem vulnerabilidade. Não à toa Brown se tornou dessas autoras que persistem na lista dos 10 livros mais vendidos do The New York Times, além da sua palestra do Ted Talks ser das mais acessadas do mundo.(10 milhões de acessos até aqui).

Por isso, ter encontrado seu rosto nas novidades do Netflix esse ano foi uma surpresa muito encantadora e essa é minha sugestão dessa postagem: "O chamado à coragem". Eu ri e chorei e pus a mão na consciência e, acredito que se nos propormos a crescer como seres humanos, na vida pessoal, na vida profissional, como sociedade, tem muita coisa ali que merece um ouvido atento. Bora se dar uma chance? 



Uma das Ted Talks da Brené Brown


Ps. Essa é uma das postagens com mais tags que já fiz e é tudo de propósito ;)

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Zaz- Le long de la route



Ouvindo a Zaz e o último CD da Validuaté esses dias. Compartilho aí em cima essa música, que é das minhas favoritas da cantora francesa. A Validuaté vem depois. ☺️

sexta-feira, 29 de março de 2019

Sugestões: histórias para não morrer

Neil Gaiman- Alerta de risco. Tem Shadow Moon (dos Deuses Americanos), tem Dr. Who, tem Sherlock Holmes, muito folclore e mitologia.

Neil Gaiman- O oceano no fim do caminho. Reler para reencontrar as mulheres Hempstock.
Apesar da imagem, o conto da minha sugestão se encontra no livro "Mulheres que correm com os lobos", que traz uma linda análise mitológica e psicanalítica dessa história trágica e bela.


Deuses Americanos- a série. Mais Neil Gaiman, agora na narrativa do áudio-visual. Deuses novos e antigos tentando caber no nosso mundo.



Podcast que acompanha o livro "As mulheres que correm com os lobos", para a gente não se sentir tão só ao entrar nas páginas da dra. Clarissa. (clica)

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Indicação: Neil Gaiman



Estou lendo esses contos do Neil Gaiman e pensei que alguém mais poderia se interessar. Suspense fantástico está sendo o melhor tipo de escapismo esses dias, quando uma caverna escura nas Montanhas Negras parecem mais convidativa que nosso cenário político. Logo abaixo (a partir de 2'42''), um pequeno trecho da apresentação que o escritor de Coraline e Oceano No Fim do Caminho realizou na Sydney Opera House, com o ilustrador Eddie Campbell e o quarteto de cordas chamados FourPlay, tendo por tema justamente o conto ao qual fiz referência. Além dele, mais 23 contos compõem a obra "Alerta de Risco: contos e perturbações".


domingo, 12 de agosto de 2018

Sr. Sherlock Holmes- filme


Ian McKellen no cartaz do filme Sr. Sherlock Holmes

Como ando absorvida pelo mundo do detetive mais famoso da ficção, aqui vai mais uma postagem sobre ele, dessa vez indicando o filme que tem o maravilhoso Ian McKellen encarnando Sherlock Holmes. Em "Sr. Sherlock Holmes, o detetive está no fim da vida e tenta lembrar dos detalhes do seu último caso, com a ajuda de um singular assistente que não é mais John Watson.
Com uma narrativa mais lenta do que estamos acostumadas com o Sherlock das séries e filmes do século XXI, McKellen nos traz a personagem de modo bem mais melancólico e cheio de fios a serem amarrados, por conta de sua escolha por uma vida regulada apenas pela lógica, com poucos laços afetivos. No fim, temos o detetive tentando dar um novo sentido aos seus últimos dias, para que eles não se percam no remorso da solidão.

E, sim, tem no seu serviço de streaming favorito. Segue o trailer. ^__^



segunda-feira, 23 de julho de 2018

Sherlock (a série)

Mês passado parei para assistir a ótima série Sherlock, da BBC, que já está em "cartaz" pelo menos desde julho de 2010. Por que demorei tanto tempo para assistir? Não sei. O fato é que a produção estrelada pelos premiados Benedict Cumberbatch (Sherlock Holmes) e Martin Freeman (John Watson) e ambientada não num distante século XIX, mas num atual século XXI, me cativou imediatamente. 

Adaptando personagens, lugares e casos retirados do cânone de Sir Arthur Conan Doyle, a série, com uma dinâmica mais acelerada que a das páginas do livro, consegue em um pouco mais de uma hora em cada capítulo, apresentar, em casos que beiram ao bizarro, a genialidade do detetive consultor- segundo a personagem, o único do mundo. Lá  ele é retratado como um sociopata altamente funcional, auxiliado pela lealdade e a coragem do ex-soldado da Guerra do Afeganistão e médico, dr. John Watson. 

Até agora tivemos 4 temporadas, em oito anos. Diferentemente de outras séries, parece que a BBC preferiu apostar em mini-filmes por capítulos, três em cada ano da produção (mais o capítulo especial entre a terceira e quarta), do que estender por inúmeros capítulos curtos- levando em conta que os atores estão no centro de produções hollywoodianas e é uma verdadeira ginástica fazer coincidir suas agendas, além da própria produção estar envolvida em outros trabalhos, como as últimas temporadas de icônico Dr. Who. Como devem ter feito as contas, nem todo anos tivemos uma temporada e nem se sabe no momento quando ou se ela retornará.

Com a habilidade de um roteiro que consegue prender nossa atenção na apresentação dos casos, a história trata principalmente da relação de amizade entre os dois homens. A sintonia é tanta que eventualmente terceiros o tratam como um casal (na série), o que é sempre veementemente rebatido pelo John Watson de Freeman- fazendo parte do fandom lamentar. Também há o desafio do médico e das outras personagens em manter a afeição pelo detetive, mesmo quando ele vibra diante de um assassinato, ignora as necessidades das outras pessoas ao seu redor- enquanto espera ter todos os seus desejos atendidos-, ou some por anos sem dar satisfação, o que Cumberbatch interpreta de um modo, a meu ver, carismático. 

Deve dar um grande alívio aos ingleses, saber que a Scotland Yard e até mesmo os MI5 e MI6 podem contar com Sherlock Holmes e John Watson, na rua Baker, 221B, de Londres.

Quanto a mim, aproveitei minha recente obsessão para adquirir o box completo dos livros de Doyle sobre o detetive e os mangás publicados em português pela Planet. Também comecei a assistir Elementary, uma outra produção sobre o detetive, mas que apresenta Watson como uma mulher. 

Agora só me faltam o chapéu deerstalker e o cachimbo. 


segunda-feira, 21 de maio de 2018

Qual o lugar na mulher na produção cultural piauiense?

Gostaria de compartilhar com vocês essa bonita reportagem. Ela fala de duas iniciativas belíssimas de promoção cultural liderada por mulheres: o "Leia Mulheres", Teresina e o "Zine Desembucha, Mulher!".




Infelizmente não foi ao ar [edit. foi transmitido na semana seguinte]. Seja lá quais tenham sido os motivos, é importante frisar que para começarmos a criar um novo vocabulário, que promova uma ruptura no foco das reportagens locais em apresentar mulheres apenas em papéis tradicionais, ou como corpos assassinados por seus companheiros (feminicídio, com números a não serem ignorados no nordeste), é preciso que não seja tão fácil assim cortar a divulgação das muitas iniciativas femininas, em ambientes marcadamente dominado por homens. Limitando-me a pensar o espaço da escrita e do seu reconhecimento, ainda que as mulheres tendam a ser maioria em cursos como o de Letras, por exemplo, os cargos de poder nas universidades, as cadeiras das academias de letras e os escritores convidados como estrelas dos eventos literários continuam sendo homens (e homens brancos). Por esses lapsos estruturais, que terminam excluindo as mulheres de modo institucional e também, por conta das falácias imediatistas da moda, que tentam desmerecer os dados e as políticas públicas já plenamente justificadas por décadas mundo afora sobre as questões de gênero, é que se torna dever de cada uma de nós e cada um de nós, nos esforçarmos para termos nossas vozes ouvidas e as das demais mulheres e também dos homens que entenderam que o mundo agora é outro. 

Na terça-feira, dia 22 de maio, às 18:30h estarei compondo a primeira mesa de um ciclo de conversas que a Revista Revestrés promoverá para dialogarmos sobre as diversidades que são as bases do nosso mundo e sobre o papel da mídia e do jornalismo em meio a tudo isso, incluindo aí as tentativas de retrocesso, backlashes esperados de quem ainda não entendeu que seu tempo passou.


quinta-feira, 8 de março de 2018

Oito de março: dicas

Lou Andreas- Salomé, Carolina de Jesus e Alice Walker. Nomes imensos e ainda por serem devidamente conhecidos e reconhecidos.

A primeira, Lou Andreas- Salomé (1861-1937), psicanalista, romancista, filósofa e poeta. Interlocutora de muitos e inspiração para outros tantos, como Nietzsche, Rilke e Freud. Teve um filme sobre sua vida lançado ano em 2016 e que nos ajuda a compreender um pouco dessa brilhante mulher, que viveu o mundo de modo tão intenso. Assisti-lo não deixa de ser um exercício para que comecemos a tirá-la da sombra dos homens ao seu redor, colocando-a ao lado deles- no mínimo. Em português, há uma pequena biografia lançada pela LP&M pocket.



A segunda, Carolina de Jesus, é autora do primeiro livro que li numa das vezes que consegui participar do Leia Mulheres de Teresina. Quarto de despejo é sua obra mais conhecida, um marco na literatura brasileira, que apresenta, com crueza e realidade, o dia a dia numa favela brasileira na década de 1950, em forma de diário, com uma linguagem bastante característica. Testemunha que vive na pele de mulher negra e pobre, o esquecimento social e a luta para uma existência que lhe permita perceber em si uma dignidade inimaginada pelo meio literário da época. É daquelas leituras obrigatórias para nossa formação. Aqui embaixo segue um curta de 14 minutinhos sobre a autora:


A última, Alice Walker, escreveu o livro mundialmente aclamado "A cor púrpura" (1982), filmado por Steven Spielberg e estrelado por Whoopi Goldberg, Danny Glover e Oprah Winfrey. O livro, que é um romance epistolar, trata da separação de duas irmãs que se perdem ao longo de suas vidas, pelas violências que as acompanham desde o ambiente familiar. É uma obra chocante, especialmente em sua primeira metade e que trata da violência contra as mulheres, de misoginia, racismo e colonialismo. O livro ainda nos brinda com um ousado e inesperado casal de mulheres, que se unem para lidar com todas essas dores e aprender a criar alegrias no meio de tudo aquilo. Outro livro imprescindível. O canal "Curta!" já apresentou o episódio da série "Impressões do Mundo" com a autora. Se você puder, vale a pena conferir.












terça-feira, 6 de março de 2018

Tipografia- Paula Scher

Um dos episódios da série Abstract (Netflix) é sobre uma das mais famosas criadoras de design gráfico do mundo e que usa por base a tipografia, que ela ama e eu ando apreciando. É a genial Paula Scher, responsável pelo design gráfico de marcas como windows, tiffani, citi bank e coisas que me interessam mais como teatros, discos e livros. É o sexto episódio. Vale a pena conferir!




quinta-feira, 1 de março de 2018

O reencontro com uma certa terapêutica




Nunca morei no interior e nem estive por mais que alguns minutos em uma roça. Apesar disso, fui uma criança e uma adolescente sempre próxima de plantas, animais e outros reinos. Eu sabia sem saber, que me fazia muito bem estar perto desse mundo. Tantas foram as vezes que me imaginei como alguém próximo ao natural que, a uma certa altura, tive a certeza de que queria ser bióloga.
Fui aprovada no vestibular de biologia: primeiro lugar da turma. Uma festa! Mas como é até bastante comum na vida, nem tudo se segue como nos nossos primeiros planos- e isso pode ser muito bom, inclusive. Minha experiência com a biologia acadêmica se encerrou cedo, por volta do terceiro ano do curso, que não cheguei a concluir. Foi uma rica vivência que até hoje rende bons frutos distintos e distantes de certificados e diplomas e à qual sou grata. Mas de algum modo, a aparente suspensão desse primeiro caminho, não foi suficiente para extinguir um certo tipo de necessidade: a necessidade do mundo natural.
Por isso, esse texto nasce da necessidade de um resgate ativo e afetivo ao que nasce, ao que brota, ao que germina ao meu redor. Certamente estar morando na verdíssima ilha de Florianópolis teve sua quota nisso. Estar lá, reforçou o desejo, já meu discreto amigo, de me sentir cultivadora de alguma planta, de flores, de ervas, de alimentos, uma necessidade que entendi como tal desde os já longínquos dias da minha infância em Teresina, em que travava uma disputa silenciosa- e às vezes nem tão silenciosa- com minha mãe, pela permanência do meu canteiro de quebra pedras ao lado da casa, a“florestinha”, com o tempo tão espertamente cultivado, mesmo às escondidas, com as sementes jogadas aos montes por cima da terra, a cada vez que ela o condenava à capina.
Eu me agarrava àquelas ervas. Elas eram as grandes amigas da criança tímida que eu era, por muito tempo.
Recentemente, terminei de ler um livro que descobri ser uma referência da psicanálise voltada para os arquétipos femininos associados aos mitos e fábulas transmitidos pela história oral. É este “As mulheres que correm com os lobos”, da psicanalista junguiana Clarissa Pinkola Estés, de 1992 e que ganhou uma nova edição brasileira pela Rocco, em 2014. Compartilho com vocês o alívio que me foi encontrar uma autora que fizesse um uso tão pedagógico do melhor dos estudos de Jung sobre arquétipos e a experiência das mulheres, porque não é de hoje a crítica aos marcos da área e uma certa misoginia que os cerca. Eu diria que Estés-Jung trouxeram para mim um dos melhores diálogos interiores para o cuidado de si enquanto conhece-te a ti mesmo, segundo aprendi com Sócrates, com os estoicos e suas reverberações modernas-  nas aulas do professor Luizir.
Estés proporciona essa reaproximação da mulher que eu chamo aqui de suas primeiras experiências histórico-arquetípicas e corpóreo- arquetípicas. A mulher que faz nascer, a mulher que cria enquanto ser criativo, a mulher astuta, a mulher que renasce todos os meses. Para mim, tão próxima academicamente do pragmatismo, corrente que se não nega, pelo menos evita o vocabulário essencialista, ou do eterno, me senti pragmaticamente convencida da utilidade desta obra para a minha vida.
Plantar, de algum modo, ativa uma memória coletiva em mim guardada e não ensinada na esfera prática individual. As mulheres foram as primeiras agricultoras, sabemos disso. E existem muitos bônus ao nosso bem estar no cultivo: a germinação da planta tem seu tempo próprio. Ela me obriga a desacelerar minha ansiedade. Ela precisa de cuidados, sol, terra e água, numa certa medida. E ela é vulnerável: pode ser que algum fungo a ataque, ou um sol mais forte a resseque em demasia (e esse é um risco sempre possível em Teresina). É manifestação da vida-morte-vida, seguindo a linguagem de Estés. Numa outra linguagem: é terapêutica, palavra derivada do grego therapeutike, aquela que cura. Lá na minha infância eu já sabia onde procurar a cura.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Beatrix Potter


Beatrix Potter

Semana passada adquiri um livrinho que nunca pensei ter em mãos: "As aventuras de Pedro Coelho", de Beatrix Potter. Estava lá na estante, filho único da livraria que fica logo embaixo da escola de yoga- que também descobri na mesma semana.

Edição de 2015 da Companhia das Letrinhas (essa foi a edição que adquiri para meus sobrinhos- sei)

Seu nome se tornou conhecido por mim por conta daquele filme tão gracinha, de 2006, que trata da biografia da autora: Miss Potter. Renée Zellweger e Ewan McGregor estrelam o filme. Terminei  assistindo anos depois do seu lançamento, porque o julguei apressadamente pelos primeiros minutos (um tanto bobo, mas que depois se desenvolve bem). Quando consegui avançar na película, vi, claro, que como apreciadora de livros de fantasia, fábulas, contos de fada. folclore e mitologias, eu tinha cometido um grave erro. Segue o trailer dessa belezura:


No livrinho, "As aventuras de Pedro Coelho", temos a chance de ver o melhor das fábulas do século XIX e início do XX, com direito a lindas ilustrações de animaizinhos vestidos e de ar matreiro, com pais e mães preocupados e pouco pacientes para suas desobediências- ou excesso de curiosidade, vendo por outro lado.

Beatrix Potter tem provavelmente um dos traços mais conhecidos do mundo da ilustração de livros infantis, é só dar uma olhadinha no Pedro Coelho aí embaixo. Vale a pena conhecer a história de Pedro Coelho, da sua família e da sua vizinhança. Recomendo igualmente  o filme que trata da vida de Beatrix Potter, que dá uma boa ideia de como mesmo para uma mulher nascida em uma família com boas condições financeiras liberdade não era algo muito comum. E miss Potter consegue utilizar bem as ferramentas que a vida lhe dispôs para isso, dando conta de seus desafios.





sábado, 20 de janeiro de 2018

Mulheres Que Correm Com Os Lobos I

Semana animada no blog, vamos para a nossa terceira postagem da semana.




Decidi por mais essa, por conta de uma indicação de um podcast sobre um livro que vai merecer mais postagens que é esse maravilhoso "Mulheres Que Correm Com Os Lobos", da Clarissa Pinkola Estés. (Veja no final da postagem)

Ter encontrado esse livro é como ter encontrado finalmente a minha versão para mulheres do melhor do Jung. Como é isso? Um livro onde a experiência do universal é nossa, sem que eu precise fazer um exercício de imaginação "como seria isso se meu corpo e minha herança de sujeitos históricos mulheres fosse levada em conta nessa vocabulário?". Enfim, é um livro especialmente para as mulheres que de algum modo se achavam perdidas e solitárias em suas vivências muitas vezes nunca compartilhadas com ninguém, sem parecerem malucas ou sem serem desmerecidas. É um grande exercício de autoconhecimento e de prática da liberdade, eu diria.

Sim, por acaso a Estés é psicanalista junguiana e combina isso divinamente com sua atividade de coletora e contadora de histórias. Também é um resgate dos resquícios da narrativa oral de muitos povos, que são os propulsores das reflexões que o livro contém.

Quando eu terminar de ler, estou em 73% dele no kindle, falo mais um pouco. Por enquanto, agradeço a Lara Matos (um das nossas sugestões de escritoras piauienses, clica aqui), que me mostrou a Carla Soares (que é uma linda, clica aqui para ver o blog dela sobre PANC) avisando sobre esse podcast. Sobre a Carla e as PANCs eu falo em outra postagem, que também acho que vale a pena. 💗

CLICA AQUI PARA OUVIR O PODCAST: http://www.talvezsejaisso.com/

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Laís Romero


A postagem de hoje é para apresentar o trabalho de uma amiga querida e talentosa, que eu tive a grande felicidade de conhecer em meio às aflições do mestrado, alguns anos atrás. 

Laís Romero amiga é essa com quem a gente sempre pode contar para aconchego e boas risadas, mesmo que passemos um longo tempo sem nos vermos. Espirituosa, inteligente, sedutora, eu não tive muito como escapar dessa amizade. Ainda bem. O amor pelos livros nos aproximou e continuou sendo uma ótima desculpa para festivos reencontros. 

Laís Romero poeta é paixão, é angústia e bons momentos de uma serenidade cheia de sabedoria. Ela é poeta de poesia, de cartas, de ensaios, de contos. Eu diria que Laís é bem herdeira desta terra de Torquato Neto e Da Costa e Silva (o escritor).

Desde os 10 anos, segundo seu próprio blog diz, veio cultivando essa arte que é difícil de ser assumida por quem a leva a sério. A poesia é levada tão a sério em seus escritos, que se torna o próprio o tema de boa parte dos poemas encontrados no "Alecrim e o sufoco atmosférico"
 
Estudo nº9
No ato de minha morte
perpetuem fora de meu peito
o coração já cansado
está rôto, tem um defeito
marcado
nunca fucionou direito.

Sempre vistoso rumo à prosa
este órgão, sem remorsos,
ainda há de viver poesia
Envergado de pena e agonia
acostumou-se a trabalhar em silêncio
viciado em lento lamento
condoía-se de café e cansaço

Foi o mais tímido fracasso
que colecionei em vida.

Piada pronta
Um poema me consome neste instante.
Sacudo os pés em angústia
e minhas vísceras se retorcem
de ansiedade.
Mas eu não sei como fazê-lo...
Só sei sorrir essa mesma
velha história de sofrer
pelo poema que não se pode parir. 
     
Além do metapoema, ou do poema que trata do poema, os temas da paixão muito humana, a experiência da maternidade, as questões sobre nossa condição frágil de animais humanos, a depressão, os sonhos, todos são temas-estradas para vivenciarmos seus versos.

Perpendiculares
Desafiar o novelo
num grito
nesta linha
perigo .

desfiar o caminho
aviso !
preciso parar
de correr o risco
da vida.
 
Água viva
Sob o peso da atmosfera
temos a certeza de um sussurro
ao pé do ouvido
O vento mordido
repete os mesmos verbos:

Somos os mortais perdidos
com medo do infinito
sorrindo diante do hediondo

Somos os meninos
carregando baldes vazios
rumo ao poço dos desejos
fragmentados pelo sol

Somos enfim solitários
vadios e canalhas
presos às insinuações diárias
aos ditados desmerecidos

Continuamos de terno
soltos no meio da rua
sorrindo, patéticos e belos,
inconscientes que estar vivo,
realmente, não tem de quê.

Na primeira década e no início desta que finda, Laís foi participante ativa de muitas iniciativas dos grupos de poetas da cidade. Da Academia Onírica, da Trimera, um tipo de antecessora da primeira, ambas movimento cultural e revista, de publicações como a Desenredos, que ainda é ativa online- além de outras experimentações. Ela também colabora com o SALIPI desde os primeiros anos do evento, junto com tantas outras apaixonadas por livros. 

Questão de perspectiva

Alguns dizem que meu filho é pequeno.
Discordo. Como sempre o olho de perto, o vejo enorme.
O maior!

Eu digo amor
e meus lábios se entregam em febre e reticências. Antes a palavra escrita ante o desespero de não ser. Sempre espero alguma coisa além e sempre me perco nos ilimitados detalhes das texturas incandescentes. O fogo. Eu digo amor. Desta vez grito para que o sangue corra rápido, para que o medo estremeça e para que meu rosto assuma nova cor. Eu sempre digo amor. É que me repito em parágrafos infinitos, me suplico para que eu pare e não atendo meus pedidos. Ah!... eu digo amor! Eu digo e não funciona, minhas pernas somem e eu morro quando a alma abandona, o vento me carrega e é quase sempre o espírito. Eu digo amor, eu digo.

 Passageira



Nada pode me matar
nem o sumiço das horas
passatempo tão pesado
nem a neblina nos olhos
amargor fechado
nem as agulhas espalhadas
gritando em minha pele
nem o sussurro tangível
de quem atravessa o labirinto
e nele se consome.

Nada pode me matar
ouço o despertar felino
das moças prostitutas febris
ouço o semáforo em amarelo
das madrugadas solitárias
meus músculos ouvem
e repelem cada centímetro.

Nada pode me matar
nem a minha insegurança
meus braços maiores que tudo
o sufoco que impus ao mundo
as trapaças na roleta russa
Nada
o frio que me enreda
e devolve meu ser azul
não pode alcançar meu peito.

Nada pode me matar
nem os tiros de glória
de um passado inexistente
nem os hermetismos de outrora
serenas madrugadas sombrias
álcool e poesia
desejo e repreensão.

Nada pode me matar
eu grito isso há tanto tempo
reviro páginas
deito espalhada
e penso se vou ficar aqui sozinha
pelo resto dos dias
sem me levantar.
 
  

Ato máximo
atirei meu coração aos lobos
e
por puro prazer estético
eles o mantém ainda vivo 
 

Atualmente é professora de português no IFMA e pesquisadora e mestre na área de literatura. E além do blog Alecrim, você pode encontrá-la no Medium.



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