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sexta-feira, 27 de março de 2020

O conceito de humanidade em tempos de pandemia


Esses dias a noção de humanidade foi renovada. Não é todo dia que isso acontece. No dia a dia somos pouco coesos, tanto pela pluralidade como pela divergência. Uma historiadora que costumamos utilizar na especialização em direitos humanos Esperança Garcia (PI), chamada Lynn Hunt, defende a ideia de que a auto evidência (a obviedade, digamos) desses direitos foi algo construído com o tempo, às custas de um trabalho intenso do exercício de empatia e solidariedade, estimulado na esfera pública: mercados, cafés, ou qualquer local que as pessoas se reunissem para contar histórias e se condoer com as personagens delas, sendo reais ou não, sendo da sua classe social ou de outra, de seu gênero ou de outro, de sua raça e etnia ou outra- aí eu incluo até a fofoca de boa fé. O Rorty, que é um cara que eu estudei na filosofia, vai dizer que a humanidade não existe. A leitura que eu faço é que, nesse sentido, a humanidade não existe a não ser que você diga que grupo de humanos é esse- brasileiros ou chineses? Sempre achei um pouco pobre essa saída do Rorty. Não sendo a humanidade uma abstração permanente e distante, ela é, contudo, uma REALIDADE manifesta em nossa contiguidade como espécie. E eu invoco a pandemia do coronavírus como fundamento para essa afirmação. Se havia alguma dúvida de que havia uma humanidade entre todas e todos nós, o vírus veio tirá-la da frente. A característica da sua aleatoriedade, ainda que tomemos muitas precauções, exige que seja repensado a absurda continuidade da aplicação do neoliberalismo nas economias dos países: eu preciso salvaguardar a todos, já que não sei quem poderá ser atingido (um desconhecido, ou meu pai?). Basicamente um véu da ignorância de John Rawls, liberal que faz muita falta aos liberais do Brasil. Pensar cada ser humano como parte dessa humanidade nos ajuda a levar adiante iniciativas que mitigam os efeitos danosos dessa aleatoriedade da doença (que, contudo, afeta mais gravemente pessoas já debilitadas), como a renda básica universal, que está em vias de aprovação no congresso nacional, uma da poucas medidas de amplo alcance que estão sendo aplicadas. Infelizmente, o líder da nação e as pessoas que o seguem, não se reconhecem nessa noção de humanidade compartilhada. Acreditam pertencer a uma casta superior aos meros mortais, por isso não se protegem e ainda atrapalham quem tenta se proteger da pandemia. Acreditam-se inatingíveis. Eu suspeito que o COVID-19 não foi avisado a respeito dessa pretensa blindagem e vai continuar lendo “humanidade” escrito na testa deles. Muitos serão forçados a lembrar da nossa contiguidade como espécie. E não vai ser bonito.

Harmonia Rosales- Mulher vitruviana [uma outra humanidade é possível]


quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Harmonia Rosales


O nascimento de Eva (atualmente é o meu papel de parede do celular)

No ano que eu tive a sorte de assistir a melhor exposição de todas, segundo o New York Times (e eu, também), "Histórias Afro Atlânticas", eu fico feliz em deixar registrado no blog uma indicação de artista plástica afro cubana que passei a apreciar: a Harmonia Rosales. Além do nome poético, Harmonia recria e cria obras de arte a partir de clássicos da pintura europeia, fazendo com que elas revivam a partir de sua condição de mulher negra. Emocionante.

A criação de Deus

A mulher virtuosa

O nascimento de Oxum


Abaixo, você pode conferir um vídeo da própria Harmonia Rosales tratando da sua criação e também alguns links em português, falando sobre a obra dela:



 https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/08/08/A-pintora-que-recria-obras-cl%C3%A1ssicas-trocando-pessoas-brancas-por-negras

https://designculture.com.br/harmonia-rosales-substitui-personagens-de-obras-classicas-por-mulheres-negras

https://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/Must-Share/noticia/2018/08/artista-recria-obras-classicas-trocando-personagens-brancos-por-negros.html

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