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domingo, 14 de junho de 2020

coronavírus: uma meia entrevista com Elias

Como as crianças pequenas estão encarando a pandemia e a redução do seu espaço de contato com o mundo? O diário quis ouvir um dos pequenos que ainda tem acesso nesse momento e trouxe aqui para compartilhar esse carisma: Elias Barros Romero (4 anos), que anda convivendo apenas com a família nessa quarentena- com a devida autorização do seu pai, meu irmão.



Infelizmente a tia tava mais preocupada em achar fofa a cena e perdeu os últimos segundos de fala dele, que continham algumas pérolas. Mas ele finalizou depois, mandando beijos. <3


Elias lembra que os espaços da cidade também são das crianças, coisa que é tão fácil de esquecer, falando daqui da altura do mundo adulto. Elas sentem falta de seus espaços. Em outra conversa ele comentou que sente falta de visitar as pessoas, da casa alheia, rs. Vamos continuar torcendo pra que essa pandemia passe logo, que sobrevivamos e que as ruas e os parque e os shoppings voltem a ficar apinhados de crianças só querendo o que é delas que é o brincar.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Meditação sobre o cogumelo azul





Há um cogumelo azul em algum lugar da Índia e da Nova Zelândia. Imagine só a beleza que deve ser esperar o branco e ver outra cor no lugar. O branco é uma cor, ele só não sabe disso. Será que o cogumelo azul ainda é um cogumelo? Ou será que seu brilhante pigmento o transmutou em algo outro? Embaixo, suas membranas suaves ressoam um tom avermelhado, como seus esporos. Azul e vermelho sobre o tapete verde de musgo e árvore com casca podre. Podre pra nós. Pra eles, isso é banquete. No meu quintal, os fungos são brancos, mas apreciam troncos caídos e velhos arbustos, como seus parentes indianos. Será que se sabem brasileiros ou indianos ou neozelandeses? Ou só cogumelos, seres saprófagos, de existência muito além dos chapéus coloridos, que eu aprecio? Eles se sabem muito além da ciência humana, pois têm a sua própria. Seus micélio, suas raizes, seu corpo, podem se estender discretamente por quilômetros, sem que outras espécies se deem conta. E são de muitas cores, conforme descobri hoje novamente e há 15 anos e há 28 anos.


terça-feira, 7 de abril de 2020

O ordinário de uma vida na pandemia

As pessoas cultas não entendem que meus rituais absurdos são tão preciosos quanto o pólen das flores para as flores- e isso significa bastante, pode pesquisar. 

Meu mundo interior precisa desses pequenos pontos de apoio, que se mostram em gestos e palavras inúteis para os grandes estudos e ao sagrado sistema econômico e que só com essas coisas insignificantes, eu e os meus, suportamos existir neste mundo que insiste no vazio das conexões autorizadas com o Invisível- eles abandonaram as conexões espontâneas e todos perdemos.

A bênção de uma mulher mais velha, minha mãe ou a mãe de outra pessoa; o silêncio do meu pai, preenchido com uma oração antes de deitar; o deleite diante de um arco-íris, a grande expectativa diante de uma flor ordinária se abrindo, um cogumelo inesperado no quintal e o musgo raro na minha cidade sempre seca. 

Musgo no muro 

domingo, 9 de junho de 2019

Brené Brown: Vulnerabilidade e Coragem

Escutando o meu podcast favorito Talvez seja isso, que abordou pausadamente a mágica contida nas páginas do livro Mulheres que correm com os lobos, uma das sugestões extras das locutoras/criadoras Bárbara Nickel e Mariana Bandarra que se repetiu e chamou minha atenção foi a menção a Brené Brown (pelo modo afetivo que a Bárbara falava dela). Descobri o Ted da Brené Brown e vi que era um carinho e um puxão de orelha nas nossas almas aquilo ali.

Brown fala sobre vulnerabilidade, seu objeto de pesquisa há mais de 20 anos na academia. E ao contrário do que poderíamos pensar, ela não é uma mulher fofinha que defende a vulnerabilidade como uma coisa fofinha. Há uma mente bastante pragmática e eu diria até excessivamente disciplinada que se esforça em passar uma mensagem (sem usar a linguagem acadêmica, expondo-se) a quem se propõe a ouvir: não há criatividade, não há relações que valham, não há solidariedade sem exposição, sem vulnerabilidade. Não à toa Brown se tornou dessas autoras que persistem na lista dos 10 livros mais vendidos do The New York Times, além da sua palestra do Ted Talks ser das mais acessadas do mundo.(10 milhões de acessos até aqui).

Por isso, ter encontrado seu rosto nas novidades do Netflix esse ano foi uma surpresa muito encantadora e essa é minha sugestão dessa postagem: "O chamado à coragem". Eu ri e chorei e pus a mão na consciência e, acredito que se nos propormos a crescer como seres humanos, na vida pessoal, na vida profissional, como sociedade, tem muita coisa ali que merece um ouvido atento. Bora se dar uma chance? 



Uma das Ted Talks da Brené Brown


Ps. Essa é uma das postagens com mais tags que já fiz e é tudo de propósito ;)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Último dia de vakinha: resultado e agradecimentos

Olá, pessoal!

Durante um ano eu deixei exposta a minha vakinha para a publicação do meu primeiro livro de filosofia, fruto das pesquisas que fiz no mestrado. Hoje é o último dia de arrecadação e fico muito feliz em informar que, desde a semana passada, não só alcancei como ultrapassei o valor estimado para conseguir publicar com uma editora. 

Essa postagem é para lembrar que sim, você ainda pode doar hoje, porque existe a porcentagem que vai para o site e também os valores para organizar os lançamentos ao longo desse ano e do próximo. Mas é principalmente para dizer meu muito obrigada a quem acreditou nesse sonho que me parecia uma realidade distante, até uns dias atrás, eu que ainda sou de uma geração criada sob a impressão de que os livros de papel tem uma autoridade quase inalcançável por pessoas comuns. O que nem de longe me parece algo positivo.

Ainda entendo que a publicação de livros em formato de papel, mesmo com o aumento do número de editoras e selos independentes na última década, é algo não muito acessível para a maior parte das pessoas (é só desdobrar os nossos problemas de educação para esse assunto) e aí entram os ebooks como um dos caminhos para tornar mais próximo esse mundo dos livros e impactar menos o meio ambiente- mas distante da realidade da maior parte das pessoas. Logo, ainda não é tempo de abandonarmos os livros de papel, muito menos quando escolheu se inserir numa realidade de publicações científicas (sem ter um background financeiro) e é mulher que ocupa lugares periféricos em muitos níveis. 

Justamente por não ignorar a relevância de mulheres negras e mestiças da periferia do nordeste serem hoje produtoras de conhecimento, inclusive do autorizado- e até esse em grande parte ignorado, mas aí é tema para outro texto- persisti nessa realização (com muitos altos e baixos), dando esse passo tão ousado e, melhor, de um jeito coletivo. Confesso que estava cansada de ir apenas para os lançamentos das produções acadêmicas dos colegas homens da minha geração e da minha região- ou só das mulheres de classe mais alta. E, sim, isso é um desabafo- inclusive muitos de vocês entenderam a importância disso e fizeram sua parte aqui (como fazem em outros lugares), pelo que sou grata e orgulhosa desse tipo de relação que não nos impõe um medo de que reconheçamos nossos lugares de privilégio ou de ausência desses. Parece pouco, mas esse pouco é o que faz a diferença no mundo e na nossa finita vida aqui nesse planeta.

Vamos adiante, amigas e amigos!

Nos próximos dias, tem um email exclusivo aos que me deram essa força material.

Beijo grande!

Nayara

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/publicacao-de-livro-nayara-barros-de-sousa
Clica na imagem! <3





quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Histórias a serem (re) contadas: Victoria de Santa Cruz


 
Catálogos das exposições e folder.



Semana passada eu tive o privilégio de, andando por São Paulo, poder visitar algumas exposições. Histórias Afro-Atlânticas e Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana (1960-1985), a primeira no MASP e no Museu Tomie Ohtake e a segunda na Pinacoteca. Das muitas comoções, surpresas, risos e abalos que sofri me detendo nas obras expostas, uma feliz e forte coincidência: em meio a uma variedade incrível de obras e artistas, em dois projetos independentes, o poema-dança de Victória Santa Cruz, de 1978, apareceu com destaque em ambas as exposições. Eu já trouxe uma vez aqui essa potência que nos foi legada em forma de vídeo. Permita-se, contemplar-participar, novamente, do texto, do balançar dos corpos e da firmeza das expressões dos artistas ali, que trazem a dor da rejeição pelo outro e do acolhimento de si por si, e de si no grupo antes rejeitado.

Volume 1 do catálogo das Histórias Afro-Atlânticas na página que menciona Victoria Santa Cruz (1922-2014). Três fotos da apresentação.




sexta-feira, 11 de maio de 2018

Mail art

Vivi o mundo da troca de cartas dos 7 aos 20 anos, em um tempo ainda sem redes sociais e com a internet ainda ganhando seu espaço em nossas vidas. Vivi também a época das colecionadoras de papéis de carta, cultivei agendas e diários desde criança. Canetinhas e material de papelaria são companheiros desde essa época. 

Hoje faço quase todos os meus trabalhos no computador e resolvo minhas questões de comunicação à distância pelas redes sociais e, às vezes, por e-mail. Até mesmo o e-mail já teve mais importância nas minhas trocas afetivas do que hoje, lá é quase tudo domínio de assuntos de trabalho.
Talvez por ainda ter vindo desse tempo em que escrever e criar com as mãos era praticamente o único meio das coisas acontecerem ou talvez por simplesmente ser primata e ter mãos com polegares opositores e um cérebro grande, incansável e inventivo, a virtualidade nunca preencheu essa parte da minha inteligência e exercício criativo que usa as mãos.
Então, motivada por um forte estresse causado pelos excessos da vida de pesquisadora, passei a deixar esse meu gosto ocupar novamente uma centralidade na minha vida, sempre que posso. Tem pelo menos uns 3 anos que experimento muitas habilidades artísticas, coisa que eu acredito fortemente que todos os humanos têm. Algumas eu já compartilhei aqui no blog, especialmente a minha iniciante arte poética. Mas hoje eu queria falar um pouco de Mail Art.

Apesar de não ser mais aquela jovem que enviava cartas, estou testando a criação de alguns envelopes que seguem o perfil da arte dos envelopes de correio. Esse tipo de produção artísticas já teve adesões de artistas do naipe de Matisse, Picasso, Cocteau, Apollinaire, só para citar os mais famosos, ganhando força especialmente por inspiração do movimento dadaísta. Mas sejamos sinceras, desde priscas eras nós mulheres elaboramos envelopes e cartas com as cores e texturas da nossa originalidade.

Hoje nós podemos ter acesso a essa produção nos sites de alguns museus, no Instagram e no Pinterest, conforme mostro abaixo. Coloquei também o envelope mais recente meu, que presenteei uma amiga essa semana. Confiram aí. ;)


Matisse

Outro Matisse

Picasso


https://br.pinterest.com/pin/6755468175624192/

https://www.instagram.com/p/Bijm0CWli8Z/?tagged=mailart
Frente- meu

Verso- meu

quinta-feira, 1 de março de 2018

O reencontro com uma certa terapêutica




Nunca morei no interior e nem estive por mais que alguns minutos em uma roça. Apesar disso, fui uma criança e uma adolescente sempre próxima de plantas, animais e outros reinos. Eu sabia sem saber, que me fazia muito bem estar perto desse mundo. Tantas foram as vezes que me imaginei como alguém próximo ao natural que, a uma certa altura, tive a certeza de que queria ser bióloga.
Fui aprovada no vestibular de biologia: primeiro lugar da turma. Uma festa! Mas como é até bastante comum na vida, nem tudo se segue como nos nossos primeiros planos- e isso pode ser muito bom, inclusive. Minha experiência com a biologia acadêmica se encerrou cedo, por volta do terceiro ano do curso, que não cheguei a concluir. Foi uma rica vivência que até hoje rende bons frutos distintos e distantes de certificados e diplomas e à qual sou grata. Mas de algum modo, a aparente suspensão desse primeiro caminho, não foi suficiente para extinguir um certo tipo de necessidade: a necessidade do mundo natural.
Por isso, esse texto nasce da necessidade de um resgate ativo e afetivo ao que nasce, ao que brota, ao que germina ao meu redor. Certamente estar morando na verdíssima ilha de Florianópolis teve sua quota nisso. Estar lá, reforçou o desejo, já meu discreto amigo, de me sentir cultivadora de alguma planta, de flores, de ervas, de alimentos, uma necessidade que entendi como tal desde os já longínquos dias da minha infância em Teresina, em que travava uma disputa silenciosa- e às vezes nem tão silenciosa- com minha mãe, pela permanência do meu canteiro de quebra pedras ao lado da casa, a“florestinha”, com o tempo tão espertamente cultivado, mesmo às escondidas, com as sementes jogadas aos montes por cima da terra, a cada vez que ela o condenava à capina.
Eu me agarrava àquelas ervas. Elas eram as grandes amigas da criança tímida que eu era, por muito tempo.
Recentemente, terminei de ler um livro que descobri ser uma referência da psicanálise voltada para os arquétipos femininos associados aos mitos e fábulas transmitidos pela história oral. É este “As mulheres que correm com os lobos”, da psicanalista junguiana Clarissa Pinkola Estés, de 1992 e que ganhou uma nova edição brasileira pela Rocco, em 2014. Compartilho com vocês o alívio que me foi encontrar uma autora que fizesse um uso tão pedagógico do melhor dos estudos de Jung sobre arquétipos e a experiência das mulheres, porque não é de hoje a crítica aos marcos da área e uma certa misoginia que os cerca. Eu diria que Estés-Jung trouxeram para mim um dos melhores diálogos interiores para o cuidado de si enquanto conhece-te a ti mesmo, segundo aprendi com Sócrates, com os estoicos e suas reverberações modernas-  nas aulas do professor Luizir.
Estés proporciona essa reaproximação da mulher que eu chamo aqui de suas primeiras experiências histórico-arquetípicas e corpóreo- arquetípicas. A mulher que faz nascer, a mulher que cria enquanto ser criativo, a mulher astuta, a mulher que renasce todos os meses. Para mim, tão próxima academicamente do pragmatismo, corrente que se não nega, pelo menos evita o vocabulário essencialista, ou do eterno, me senti pragmaticamente convencida da utilidade desta obra para a minha vida.
Plantar, de algum modo, ativa uma memória coletiva em mim guardada e não ensinada na esfera prática individual. As mulheres foram as primeiras agricultoras, sabemos disso. E existem muitos bônus ao nosso bem estar no cultivo: a germinação da planta tem seu tempo próprio. Ela me obriga a desacelerar minha ansiedade. Ela precisa de cuidados, sol, terra e água, numa certa medida. E ela é vulnerável: pode ser que algum fungo a ataque, ou um sol mais forte a resseque em demasia (e esse é um risco sempre possível em Teresina). É manifestação da vida-morte-vida, seguindo a linguagem de Estés. Numa outra linguagem: é terapêutica, palavra derivada do grego therapeutike, aquela que cura. Lá na minha infância eu já sabia onde procurar a cura.

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