sábado, 16 de agosto de 2025

Teresina (poesia)

 




Cynthia  Nunca pus Teresina em papel  talvez porque a noção do acontecimento que esse lugar representa em minha vida tenha vindo aos poucos  e o pôr do sol vem me distraindo. Teresina em mim é tentativa  Esperança  Rotina  Aconchego  Descoberta Liberdade  Solidão  Erro e acerto. Espírito dançador na praça Pedro II  Sob Teresina construo memória -- Amanheço Teresina há mais tempo do que adomerci minha terra natal, parece absurda a correria do tempo de dentro do amarelão.  Me reconheço pessoa nesse chão pela vigésima vez, enquanto outras Pessoas pisam hostil. Ironia.  Nos derretemos e nos reconstruimos juntas de grau em grau.    Cynthia Osório

ENTARDECENDO  O sol, inigualável  Desce mais ardente entre os rios Capturar num instante sua incandescencia é arte inatingível  Ainda que a autoria seja de uma mulher   O círculo de fogo  Vai arrefecendo aos poucos  Não há mediação possível entre a natureza e o artifício  Ainda que a beleza pusesse a servir à ode de uma mulher   Em voo solo Fogo e mulher se deixam  Permitem a noite, um descanso da brasa beleza Entardecendo, verbo de dizer  Não há versos que tornem ciclos finitos Ainda que fossem para testar a destreza da alma de uma mulher    - Karla Andrade

Laís Romero  Resposta  em teresina poetas e suicidas assombram as residências familiares  um cotidiano impossível  desliza nos estais da ponte iluminada  enquanto seguro  uma pedra de gelo:  persiste a dimensão onírica da realidade

Ipê coração-colmeia que se derrama em tons de sépia sabendo as flores sibila sobre todo o ruído da cidade pegando fogo

ainda verde    num canto sossegado da vida   o pôr-do-sol da cidade verde  engole o voo lânguido das garças  que descansam no escuro estômago- a mata  a lagoa e o rio.     asas que empurram a aurora   regurgitadas: movimento pendular   não vi seu destino diurno  mas posso adivinhar:  a mata, a lagoa e o rio  o lado de lá.    não é esgoto, matagal, terreno baldio,  é um lar. Nayara Barros

março  corre às margens do meu lugar   o murmúrio indiferente das águas   em resposta desmedida a um março   que se quis silente   o canto rumoroso das cheias em marrom   adere ao cinza das nuvens  roubando dos poetas a metáfora    esparramando-se sobre teimosos passos   nas calçadas vazias  onde dançam vidas por um fio

desenho no paint: uma mulher escorpião fere-se com seu próprio ferrão, cabelos vermelhos. Ludmila Nascy

Agradeço às artistas que puderam colaborar com essa pequena iniciativa. Todas as imagens são da Ludmilla Nascy, exceto a capa, que é uma foto minha, escolhida com Elias, meu sobrinho de 9 anos.  Nos temas convergentes e no que nos distanciamos, acredito que aí reside a imagem da cidade que quisemos homenagear, um recorte feito da relação direta, vivida aqui espontaneamente e às vezes nem tanto. Ficaram de fora mais algumas escritoras queridas, que certamente desdobrariam ainda mais os temas que escolhemos. A natureza do meio norte, que é caatinga e cerrado, ao mesmo tempo que é única, o descaso com essa mesma natureza, a escassez de horizontes aos que sonham, suas consequências, o olhar de quem veio de outra capital piauiense, os escombros urbanos e como até ali a arte surge.  Um pequeno presente, bastante digno da homenageada e de quem chegou até aqui. Nayara Barros (blog diario criativo do passarinho azul)




















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