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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Nota a respeito da delicadeza

É incrível que, num mundo extremamente duro, seres delicadíssimos persistam!



asa de borboleta em bolso translúcido de agenda

terça-feira, 7 de abril de 2020

O ordinário de uma vida na pandemia

As pessoas cultas não entendem que meus rituais absurdos são tão preciosos quanto o pólen das flores para as flores- e isso significa bastante, pode pesquisar. 

Meu mundo interior precisa desses pequenos pontos de apoio, que se mostram em gestos e palavras inúteis para os grandes estudos e ao sagrado sistema econômico e que só com essas coisas insignificantes, eu e os meus, suportamos existir neste mundo que insiste no vazio das conexões autorizadas com o Invisível- eles abandonaram as conexões espontâneas e todos perdemos.

A bênção de uma mulher mais velha, minha mãe ou a mãe de outra pessoa; o silêncio do meu pai, preenchido com uma oração antes de deitar; o deleite diante de um arco-íris, a grande expectativa diante de uma flor ordinária se abrindo, um cogumelo inesperado no quintal e o musgo raro na minha cidade sempre seca. 

Musgo no muro 

sexta-feira, 27 de março de 2020

O conceito de humanidade em tempos de pandemia


Esses dias a noção de humanidade foi renovada. Não é todo dia que isso acontece. No dia a dia somos pouco coesos, tanto pela pluralidade como pela divergência. Uma historiadora que costumamos utilizar na especialização em direitos humanos Esperança Garcia (PI), chamada Lynn Hunt, defende a ideia de que a auto evidência (a obviedade, digamos) desses direitos foi algo construído com o tempo, às custas de um trabalho intenso do exercício de empatia e solidariedade, estimulado na esfera pública: mercados, cafés, ou qualquer local que as pessoas se reunissem para contar histórias e se condoer com as personagens delas, sendo reais ou não, sendo da sua classe social ou de outra, de seu gênero ou de outro, de sua raça e etnia ou outra- aí eu incluo até a fofoca de boa fé. O Rorty, que é um cara que eu estudei na filosofia, vai dizer que a humanidade não existe. A leitura que eu faço é que, nesse sentido, a humanidade não existe a não ser que você diga que grupo de humanos é esse- brasileiros ou chineses? Sempre achei um pouco pobre essa saída do Rorty. Não sendo a humanidade uma abstração permanente e distante, ela é, contudo, uma REALIDADE manifesta em nossa contiguidade como espécie. E eu invoco a pandemia do coronavírus como fundamento para essa afirmação. Se havia alguma dúvida de que havia uma humanidade entre todas e todos nós, o vírus veio tirá-la da frente. A característica da sua aleatoriedade, ainda que tomemos muitas precauções, exige que seja repensado a absurda continuidade da aplicação do neoliberalismo nas economias dos países: eu preciso salvaguardar a todos, já que não sei quem poderá ser atingido (um desconhecido, ou meu pai?). Basicamente um véu da ignorância de John Rawls, liberal que faz muita falta aos liberais do Brasil. Pensar cada ser humano como parte dessa humanidade nos ajuda a levar adiante iniciativas que mitigam os efeitos danosos dessa aleatoriedade da doença (que, contudo, afeta mais gravemente pessoas já debilitadas), como a renda básica universal, que está em vias de aprovação no congresso nacional, uma da poucas medidas de amplo alcance que estão sendo aplicadas. Infelizmente, o líder da nação e as pessoas que o seguem, não se reconhecem nessa noção de humanidade compartilhada. Acreditam pertencer a uma casta superior aos meros mortais, por isso não se protegem e ainda atrapalham quem tenta se proteger da pandemia. Acreditam-se inatingíveis. Eu suspeito que o COVID-19 não foi avisado a respeito dessa pretensa blindagem e vai continuar lendo “humanidade” escrito na testa deles. Muitos serão forçados a lembrar da nossa contiguidade como espécie. E não vai ser bonito.

Harmonia Rosales- Mulher vitruviana [uma outra humanidade é possível]


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