Mostrando postagens com marcador fluxo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador fluxo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 15 de julho de 2020

O iceberg fala

Eu sou meu próprio iceberg que se desprendeu de um continente, outrora mais gelado, mas ainda assim mais gelado que o derretimento flutuante no qual me encontro.


Eu necessito que você preencha essas lacunas que vou deixando entre um porto e outro, entre um ponto e outro, entre um poema e outro pois 


não sei tudo de mim. Sei algumas coisas. Sei que me sentia inteiro e eterno. A verdade é que não me dei conta de muitas coisas dos últimos 10 mil anos que vocês contam. Nos últimos 200 talvez. Quando dei por mim, estava perdendo minha imensidão e eu que era um me tornei dois, talvez mais.


Agora que me dissolvo, compreendo o medo. Não o meu medo de iceberg, mas o medo desses seres que de tão efêmeros, precisaram se convencer de que não, não eram. Pensando bem, talvez agora eu compreenda que eu também tenho medo. 


No entanto, eu precisava dizer-lhes para não ter medo. Estou aqui há tempo suficiente e posso assegurar que é muito melhor dançar essa dança junto assim da vida, do mundo, dos seres vivos e não vivos. Esse medo que agora reconheço, ele senta numa cadeirinha do lado e só aparece quando é extremamente necessário: levar uma bronca em casa por demorar no campeonato de pipa, saber que ele não gosta tanto de você, a avozinha morrer no tempo dela, sem que dê tempo que te conte a última história de uma infância distante. Esse medo. O medo de não ser eterno ou, o mais curioso, curioso para mim que fui montanha e ainda sou montanha, uma flutuante, o medo que sente algo que é tão pequeno e frágil e gostável até, um medo que vem porque cismou em ser poderoso. Não me leve a mal. Estou ainda tentando entender. 


Parece que esse será o meu destino: passar para a próxima fase. Será que é tão difícil, companheiros de dança, aceitar a sua próxima fase? Eu água salgada, vocês, chão, substrato, nós material para outras vidas e não vidas. Faz tempo que eu não passo pelas fases, muito tempo, mas disso eu lembro bem. Algo me diz que você deveria se preocupar com isso, do jeito certo. Mas quanto ao medo de perder o poder, confia em mim, que agora derreto, não há o que temer.



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Riacho de fevereiro

Você vem pelas bandas da federal em fevereiro e não sente cheiro de chuva não!
Sente é cheiro de riacho corrente 
Trovoadas  
O Olfato, órgão que captura o espírito da água
Rende-me às portas abertas do etéreo
Onde Gilliat há muito me espera...

Rolinha sangue de boi pousada na fiação, contra um fundo de nuvens escuras, de chuva.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Anseiam-me ajuntamentos


Anseiam-me ajuntamentos
Solidão: só quando é meu querer.
O que me resta: rest-o;
ardor em ferimento recente
com sintomas de permanência indefinida.
Quando presença:
Desço!
Chuva cantando em leito de rio velho,
Mãos suadas dadas
no alívio sincero.



quarta-feira, 23 de maio de 2018

Fragmentos II

Há um tipo de bênção abundante a mim destinada que não me é possível compartilhar. Já tentei levá-la até outra pessoa, mesmo as mais queridas, mas no caminho ela escorre feito água nas mãos. E fico ali, tendo que lidar como a minha frustração e a do outro, por uma magia que não aconteceu. O que de certa forma me consola, é que isso não se dá só comigo, mas com cada um de nós: há algo de incomunicável, mesmo aos descendentes e aos herdeiros. E é de crucial importância entender qual a dádiva que se manifesta a partir si, para escapar de um certo sofrimento existencial. Também é útil para reafirmar nossa potência no mundo. Uma espécie de ponto de partida recorrente.


domingo, 25 de março de 2018

Movimento Aquático


A chuva tem o efeito de dar um tema único a uma paisagem confusa, quando elementos, ainda que próximos, não costumam apresentar um equilíbrio, uma harmonia entre si: ela passa a funcionar discretamente como tela para uma pintura que surge, ou como um enquadramento que direciona o olhar do fotógrafo. Mais que isso: ela sugere foz aos sentimentos das pessoas sensíveis que se perdem sob um excesso de estímulos dos seus arredores. O rio que se materializa dentro de si lhe traz alguma paz, pois de veios intermináveis vindos de tantas direções possíveis, passa ao tema único, que agora pode ser decifrado. Rio que conduz pensamentos e sensações, cuja materialização não cabe ainda antecipar o mar.



sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O fluxo e o riacho


And nobody knows, so still it flows,
That any brook is there;
And yet your little draught of life
Is daily drunken there.

flow (quando tirei esta foto eu já estava em fluxo, o que foi uma pena)

AS MAIS LIDAS