Acabei de assistir o doloroso e delicado filme "Elena", encenado e dirigido pela irmã de Elena, Petra. O filme fala sobre o suicídio visto por meio dos sentimentos da irmã sobrevivente, e às vezes da mãe, ambas portadoras do forte traço da melancolia, que Elena também abrigava. A partir das gravações reais da infância e adolescência de Elena, a narrativa nos conduz por um intenso emaranhado de imagens e sensações compartilhados com sua mais nova irmã, numa espécie de torpor gerado pela necessidade de viver originalmente e ao mesmo tempo a dor intensa desse viver. Essa dor então atinge o ápice quando cai sobre a frágil Elena a ilusão do beco sem saída da sua potência criadora, ela, que era uma artista, aos 20 anos, acredita que não conseguirá atingir seu objetivo com a perfeição imaginada. Antes, a separação dos pais certamente foi um abalo em um espírito tão vivo e simultaneamente tão frágil, que conduziu ao trágico desfecho.
Petra acompanhou tudo de perto e ela, que sempre esteve próxima de sua adorada irmã mais velha, passou a carregá-la junto de si, chegando a confundir-se com Elena, depois da morte desta. Sim, a expressão do viver de Petra dá a impressão de ter se amalgamado com a da irmã, tornando-se Petra herança de Elena, a quem ela tanto amou.
É um filme doído. Para finalizar, ainda temos a cena das Ofélias, nas águas, fazendo menção à morte da Ofélia de Shakespeare, em Hamlet. A doçura de Ofélia não suportou o mundo. Que, contudo, a doçura, para nós, seja a nossa força nos dias que virão e que continuemos a buscar a beleza que Elena e Ofélia anunciaram, para muito além das suas mortes.