não sei quanto tempo da minha vida passei me esforçando para me interessar pelas conversas das pessoas. em geral preferia meu mundo, que nem era só um mundo interior, não. era meu mundo e das coisas do mundo, não das pessoas do mundo. as pessoas do mundo, quando eram só meu mundo, eram como coisas.
no final das contas terminei me adestrando em parecer muito interessada e de fato até comecei a me interessar. ficava comovida da pessoa confiar seus pensamentos a mim, seus comentários, apropriados ou não. mas provavelmente a minha maior motivação tenha sido o fato de que aquelas conversas desinteressantes muitas vezes escondiam ou apontavam para algum tesouro.
de alguma conversa desinteressante poderiam surgir conexões interessantes em mim. e as pessoas de conversas desinteressantes conheciam outras pessoas com conversas muito mais interessantes. e assim eu seguia.
o problema eram os efeitos colaterais. eram muitos. falo aqui de um. eu ficava cheia dos pensamentos, das idéias, dos gostos, das opiniões daquelas pessoas.
demorava um tempão para eu ser despossuída, como a Vampira dos X-Men, quando tocou no Wolverine. (ainda demora, mas menos).
hoje eu fico pensando se minha prima sem noção tinha razão em me chamar de autista (as crianças podem ser muito cruéis). e ela estando certa, não reclamo em absoluto hoje. se sou, faz parte da minha idiossincrasia. se não, também.
demorava um tempão para eu ser despossuída, como a Vampira dos X-Men, quando tocou no Wolverine. (ainda demora, mas menos).
hoje eu fico pensando se minha prima sem noção tinha razão em me chamar de autista (as crianças podem ser muito cruéis). e ela estando certa, não reclamo em absoluto hoje. se sou, faz parte da minha idiossincrasia. se não, também.