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sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Mátria - Laís Romero

🐳 Cachalotes - a foto sobre o belo poema

Por muito tempo, eu desejei ter um livro de uma das escritoras que me inspirou a ser poeta. Apesar de aparecer em publicações diversas, Laís Romero decidiu trabalhar com muito cuidado e durante muitos anos, o seu primeiro livro de poesias, pouco tempo depois do lançamento do seu primeiro conto. O que escrevo aqui são as impressões que eu tive ao ler o livro pela primeira vez e também as que tive ao conviver com Laís ao longo dos anos- ela pode me culpar de qualquer leitura controversa dos fatos e da vida, hehe! 🌻

Acredito que apesar da grande agência que uma mulher como minha amiga pode ter, o atraso, com algumas aspas, daquilo ao que tanto dedicou a alma, diz muito de uma estrutura capenga e rota, que é tão difícil atravessar e, sempre que acontece, saímos sempre muito adoecidas e pior, sem esperança. Mas como disseram Victoria Santa Cruz e Maya Angelou, não retrocedemos e nos levantamos sempre que conseguimos acessar nossa rede de cuidados. 💪

Então, eu acredito que esse livro, como um livro escrito daqui do Piauí, por uma mulher negra, parda, de origem indígena- resultado de violência e apagamento das nossas ancestralidades, sobram-nos os fenótipos e o resto de memória oral, mas a terra conta sua história e ela existia antes de nós, com os nossos-, eu acredito que esse livro e os demais que vem saindo dessa mente sensível e criativa, fazem um grande movimento geral, dentro de mais um grau de liberação das mulheres, tão heterogêneas. 👩‍👩‍👧

Mas se eu fosse escolher um poema para ilustrar Laís, seria justamente Mátria, onde acompanhamos abrigo e percurso, onde nele ela insiste na coragem. Mesmo maquiando olheiras. Além dele, escolhi alguns dos meus favoritos, contudo, a verdade é que cada um deles mereceria uma postagem própria. Por enquanto, são esses: 📚

Alguns dos meus poemas favoritos de Mátria:



Percurso do silêncio


O nervo nu lambido

nervo nu tocado

vibrato

corda do acaso


o nervo nu imposto

nervo da margem

nervo açoite

nervo automático


mais dia 

menos dia

o nervo nu combate

...................................................

Credo


Eu acredito na poesia


Coisas incontornáveis e inúteis

Creio na palavra

Nos tambores versos guiados

Espelhos da realidade


Flecha

do gesto ancestral

............................................................


Antes de ser mulher,

meu amor,

nada era meu


............................................................

Debaixo dos meus pés

as mortas falam

amenidades e comentam

tantos prejuízos


Confundem meus segredos

com as belezas do passado

trançam iniciais da família

nas raízes das árvores


Uma madrugada suada

me abordam nos sonhos

acariciam meus cabelos

e me acordam mais um dia.


......................................................

Esta poesia tacanha se arrisca:

vai sozinha às ruas

metafísica de garagem

feito irresponsável de mulher


Uma poesia tímida e vadia

que se arrisca


Há fogo e valsa nestas linhas



- Convido a todes, todas e todos a ler essa belezura! 😊

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Nós já trouxemos antes a Laís Romero aqui: 📑

https://diariocriativopassarim.blogspot.com/2018/01/lais-romero.html

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Onde encontrar a produção efervescente da Laís Romero? ❤️‍🔥


🔴 MÁTRIA: https://www.lojadaclara.com.br/produto/matria-lais-romero.html

▪️ Amora https://www.amoralivros.com.br/post/novas-autoras-contos-ineditos

▪️ O instagram da diva: https://www.instagram.com/l4isromero/

▪️ Blog http://humanahumana.blogspot.com/

▪️ Poemas https://www.yumpu.com/pt/document/view/13051477/6-poemas-de-lais-romero-desenredos

▪️ Mais poemas https://revistaacrobata.com.br/demetrios/poesia/2-poemas-de-lais-romero/

▪️ Memória: https://poesiatarjapreta.blogspot.com/search/label/La%C3%ADs%20Romero


quarta-feira, 26 de junho de 2019

Laís Romero: novíssimos poemas

Boas novas na poesia piauiense: livro de versos da Laís Romero para o início de 2019.
Por ora, cinco poemas novinhos que estarão lá nesse livro bastante aguardado por quem acompanha o trabalho da Laís. Particularmente esse primeiro me disse tanto. Suspirei.

Contemplemos.

1.


Não procuremos a verdade
nós soterrados nas palavras

Ensolarados encaremos, nus,
os resultados da nossa apatia

Vastos pálidos campos rasos
de sentido e de sabor

Títulos nos assombrem fugidios
em ricos tipos e tipologias da fé

O ventre parideiro persiste
enterrando sua hóspede inanimada

é chegada, enfim, a hora marcada
para o dado fato exato
                              juízo animal




2.


Minha poesia tacanha se arrisca:
vai sozinha às ruas
metafísica de garagem
feito irresponsável de mulher.

Uma poesia tímida e vadia
que se arrisca.

Há fogo e valsa nestas linhas.





3.


Temos as mãos ainda entrelaçadas
no meio do apagão atrasado
uma linha de pessoas nuas
treme as estruturas antes perenes
um punhado de palavras domina o inerme:
- Venha, que o medo cede e não nos segue.




4.



medonho bloco pesado grafite
sustentado por árvores e prédios
um outrora chamado firmamento
carregado por toda sorte de criaturas
habitado pelo princípio, construído pelo fim
grande angular coroada de passado
     medonho bloco pesado





5.
 


[Poemas são fraquezas em tempos de leituras feitas com os olhos vendados]

Com os olhos embotados
não é possível desenhar o céu
fica como estava, borrão calado,
de uma tentativa/fracasso

Com as mãos amarradas
não se acena no salão vazio
a cabeça continua baixa
e o suor amarga meu perfil

[coro]

Benditos os paladinos da esperança
vestidos por discursos verdejantes
coroados nas intempéries absolutas
de uma aurora desmontada
                                             pelo vento.



Laís Romero, nascida em Teresina no ano de 1986. Mulher, mãe, escritora e outras atribuições sociais menos importantes que isso. 



quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Laís Romero


A postagem de hoje é para apresentar o trabalho de uma amiga querida e talentosa, que eu tive a grande felicidade de conhecer em meio às aflições do mestrado, alguns anos atrás. 

Laís Romero amiga é essa com quem a gente sempre pode contar para aconchego e boas risadas, mesmo que passemos um longo tempo sem nos vermos. Espirituosa, inteligente, sedutora, eu não tive muito como escapar dessa amizade. Ainda bem. O amor pelos livros nos aproximou e continuou sendo uma ótima desculpa para festivos reencontros. 

Laís Romero poeta é paixão, é angústia e bons momentos de uma serenidade cheia de sabedoria. Ela é poeta de poesia, de cartas, de ensaios, de contos. Eu diria que Laís é bem herdeira desta terra de Torquato Neto e Da Costa e Silva (o escritor).

Desde os 10 anos, segundo seu próprio blog diz, veio cultivando essa arte que é difícil de ser assumida por quem a leva a sério. A poesia é levada tão a sério em seus escritos, que se torna o próprio o tema de boa parte dos poemas encontrados no "Alecrim e o sufoco atmosférico"
 
Estudo nº9
No ato de minha morte
perpetuem fora de meu peito
o coração já cansado
está rôto, tem um defeito
marcado
nunca fucionou direito.

Sempre vistoso rumo à prosa
este órgão, sem remorsos,
ainda há de viver poesia
Envergado de pena e agonia
acostumou-se a trabalhar em silêncio
viciado em lento lamento
condoía-se de café e cansaço

Foi o mais tímido fracasso
que colecionei em vida.

Piada pronta
Um poema me consome neste instante.
Sacudo os pés em angústia
e minhas vísceras se retorcem
de ansiedade.
Mas eu não sei como fazê-lo...
Só sei sorrir essa mesma
velha história de sofrer
pelo poema que não se pode parir. 
     
Além do metapoema, ou do poema que trata do poema, os temas da paixão muito humana, a experiência da maternidade, as questões sobre nossa condição frágil de animais humanos, a depressão, os sonhos, todos são temas-estradas para vivenciarmos seus versos.

Perpendiculares
Desafiar o novelo
num grito
nesta linha
perigo .

desfiar o caminho
aviso !
preciso parar
de correr o risco
da vida.
 
Água viva
Sob o peso da atmosfera
temos a certeza de um sussurro
ao pé do ouvido
O vento mordido
repete os mesmos verbos:

Somos os mortais perdidos
com medo do infinito
sorrindo diante do hediondo

Somos os meninos
carregando baldes vazios
rumo ao poço dos desejos
fragmentados pelo sol

Somos enfim solitários
vadios e canalhas
presos às insinuações diárias
aos ditados desmerecidos

Continuamos de terno
soltos no meio da rua
sorrindo, patéticos e belos,
inconscientes que estar vivo,
realmente, não tem de quê.

Na primeira década e no início desta que finda, Laís foi participante ativa de muitas iniciativas dos grupos de poetas da cidade. Da Academia Onírica, da Trimera, um tipo de antecessora da primeira, ambas movimento cultural e revista, de publicações como a Desenredos, que ainda é ativa online- além de outras experimentações. Ela também colabora com o SALIPI desde os primeiros anos do evento, junto com tantas outras apaixonadas por livros. 

Questão de perspectiva

Alguns dizem que meu filho é pequeno.
Discordo. Como sempre o olho de perto, o vejo enorme.
O maior!

Eu digo amor
e meus lábios se entregam em febre e reticências. Antes a palavra escrita ante o desespero de não ser. Sempre espero alguma coisa além e sempre me perco nos ilimitados detalhes das texturas incandescentes. O fogo. Eu digo amor. Desta vez grito para que o sangue corra rápido, para que o medo estremeça e para que meu rosto assuma nova cor. Eu sempre digo amor. É que me repito em parágrafos infinitos, me suplico para que eu pare e não atendo meus pedidos. Ah!... eu digo amor! Eu digo e não funciona, minhas pernas somem e eu morro quando a alma abandona, o vento me carrega e é quase sempre o espírito. Eu digo amor, eu digo.

 Passageira



Nada pode me matar
nem o sumiço das horas
passatempo tão pesado
nem a neblina nos olhos
amargor fechado
nem as agulhas espalhadas
gritando em minha pele
nem o sussurro tangível
de quem atravessa o labirinto
e nele se consome.

Nada pode me matar
ouço o despertar felino
das moças prostitutas febris
ouço o semáforo em amarelo
das madrugadas solitárias
meus músculos ouvem
e repelem cada centímetro.

Nada pode me matar
nem a minha insegurança
meus braços maiores que tudo
o sufoco que impus ao mundo
as trapaças na roleta russa
Nada
o frio que me enreda
e devolve meu ser azul
não pode alcançar meu peito.

Nada pode me matar
nem os tiros de glória
de um passado inexistente
nem os hermetismos de outrora
serenas madrugadas sombrias
álcool e poesia
desejo e repreensão.

Nada pode me matar
eu grito isso há tanto tempo
reviro páginas
deito espalhada
e penso se vou ficar aqui sozinha
pelo resto dos dias
sem me levantar.
 
  

Ato máximo
atirei meu coração aos lobos
e
por puro prazer estético
eles o mantém ainda vivo 
 

Atualmente é professora de português no IFMA e pesquisadora e mestre na área de literatura. E além do blog Alecrim, você pode encontrá-la no Medium.



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