quarta-feira, 20 de março de 2019

poemas do exílio no quintal


Zéfiro é vento enfraquecido
como meu ventilador herdado do pai
Sim, houve um tempo em que os ventos tinham nome
e a natureza sussurrava numa língua
comum
e tudo era mais próximo da pele.

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Tem ali duas pessoas-rolinhas
       uma pessoa- carambolo
       muitas pessoas-formigas
       duas pessoas-urubus
       uma pessoa-pessoa.

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Vejo andares sobre a morte
condomínios simples e sem muros
onde joaninhas e vermes peludos fazem morada
ao redor, a vida viceja
brancos cogumelos achapelados
tomateiros e suas flores amarelas
vovozinhos, dentes-de-leões
quebra-pedras
tudo vivo sobre a morte da velha goiabeira.

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“Falsas asas de borboleta podem ser tão bonitas quanto as asas reais”

Alfinetar lepidópteros ao candelabro
atingir a desconjuntada perfeição
da beleza ignorada do lar
porque não pode expô-las ao mundo
e correr o risco de ser taxada de cruel
-pobre borboleta- e
portanto, anti-feminina
nunca artista, ou cientista
sempre mulher apoucada
superficialmente falando de si.

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Queimei as asas da borboleta nas chamas da vela
resultante do apagão de ontem
se o bicho estava vivo ou morto
importa?

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Arames agora guiam meu voo
um pouco mais à esquerda
o abismo me espera
à direita, o fogo de mil fornos acessos

borboleta capturada
converteram minhas 24 horas de existência
em horas sem fim
esticaram minhas cores
para que eu coubesse nas metáforas de suas mulheres enganadas
mas longe do tempo humano
eu já morri faz tempo.

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O bizarro fetiche da coleção de borboletas
o fim científico não exclui a infâmia
ainda assim nos agrada
e assim a ciência é afastada.

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Não rasgue as minhas asas, criança malvada!
Tenho muito o que fazer
e meu tempo é curto!
Se me deixei pousar em sua mão
Foi menos por confiança
Do que pelo cansaço,
Por isso:
- Tire agora as mãos das minhas confiáveis asas!
Já é hora de voar!




lavanda




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