A vida toda transcorreu como se eu arrastasse um cadáver
anônimo
Por onde quer que eu fosse.
Tornava meu caminhar mais lento,
me fazendo ocupar no ônibus mais espaço do que eu deveria
e me tornando uma pessoa cheia de constrangimento
por aquela bagagem extra
que eu não sabia muito bem como explicar.
Parte da carne já se soltara com pedaços da roupa
Mas ele- ou ela- continuava lá.
O olho direito saltando da órbita, a outra já vazia
a boca meio carcomida pelos vermes
esboçava um sorriso com metade dos dentes
como se compreendesse minha resignação.
Então, quando os dias do calendário se abriam para uma lacuna de
felicidade
O cadáver me lembrava de si:
Seu cheiro se expandia
E logo me envolvia,
Empurrando-me de volta
Para sua atmosfera cinza e permanente
que ele não conseguia evitar
Sem passado, sem futuro
Aquele seu estado de decomposição sempre fora o meu presente.
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