À noite esperando uma chuva de estrelas e nenhuma única! Nenhumazinha- zica- nada! Quer dizer, teve uma hora que achei que captei um rastro de uma, mas talvez tenha sido o reflexo de alguma lâmpada terrestre na lente dos meus óculos. Eu sugiro que os astrônomos criem uma outra nomenclatura para as pessoas leigas que ficam horas e horas de pescoço duro olhando para cima, em busca de uma sequência de estrelas cadentes, com um intervalo bem curto entre uma outra- de preferência, segundos. Uma. Chuva. Chuva é coisa muito séria pra quem nasce e vive no semi-árido, no cerrado, no meio-norte. Não tive nem sequer chuvisco de estrelas, nem uns pingos estelares. Só as mesmas estrelas lá fixas (como antes se achava), que são lindas, mas não eram o que eu estava procurando naquela noite, no escuro, enquanto o resto da casa dormia, exceto eu, os dois cachorros e minha mãe, terminando de assistir na tv um campeonato de vôlei espremido e encurtado, pelo temor da pandemia.
Depois fiquei sabendo que essa chuva de meteoros vai "estar acontecendo" até o início de novembro e que essa noite que fiquei esperando era supostamente o "ápice", ou seja, por aqui terei -1 de chuva de meteoros nos dias seguintes. Mas vai que você tenha mais sorte: é só olhar para a região das três Marias, que são o cinturão Órion- quem diria-, mais ou menos até o dia de 7 de novembro (do ano corrente). Diz-se que essas estrelas são resíduos da cauda do famoso cometa Halley.
Se por um lado fiquei frustrada, por outro pude constatar, que a vida noturna dos céus é bastante agitada. Um avião tão distante e de luz avermelhada que poderia facilmente passar por um OVNI (se eu fosse criança, com certeza daria essa classificação), morcegos maiores que aqueles miudinhos do final da tarde (que eu gosto de chamar de andorinhas), uma cantoria desavergonhada dos gatos nos telhados vizinhos, um casal de corujas voando longe, lindamente.
Então, pensei que precisamos valorizar esses pequenos rituais domésticos que não foram ainda catalogados pela obsessão capitalista, ou do modo de produção dominante, nossos desejos e capacidade de imaginar novos caminhos estão lá. E criar novos, também.
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