quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Transtorno Bipolar: Sim, Aquele Episódio de Modern Love

Finalmente, assisti ao famoso episódio três da primeira temporada de Modern Love, sim, aquele com Anne Hathaway. Nele, o tema central é a forma como Lexi/Terri Cheney, sua personagem, vive com seu transtorno bipolar. Dias, semanas ou meses num estado de depressão e depois um estado de excitação e euforia com vontade intensa de viver. 

É claro que o transtorno traz muito mais nuances e complicações para a vida de quem tem e de quem convive, mas me comoveu bastante o fato do grande centro de produções artísticas- que agora são os streamings- dedicarem alguns minutos de um modo muito respeitoso e até gentil ao problema.

Como portadora do problema, me vi em quase todos os momentos de altos e baixos da personagem. A oscilação de humor que leva um aparente desinteresse pelo que antes empolgava, ser espalhafatosa e paqueradora quando está na fase de mania. Perder muito, muito da própria vida quando a fase depressiva se instala e com isso ter muita dificuldade de sustentar projetos de longo prazo que não sejam cheios de pessoas extremamente pacientes e amorosas que compreendam a situação (mesmo que intuitivamente).

Lexi em sua fase depressiva (à esquerda), com a cara chorosa e roupa cinza e Lexi com roupa glamourosa e feliz à direita

Eu demorei a ser diagnosticada. Lexi/Terri Cheney teve o seu diagnóstico aos 15 anos, apesar de ter demorado muito mais a confiar nas pessoas próximas e até mesmo ter acesso a uma medicina mais adequada (por favor, evitem essa merda de eletrochoque, por mais bonito que o discurso atual pareça). O meu diagnóstico veio aos 34 anos e me deu uma raiva imensa de só saber disso naquela época. Porque muita coisa fez sentido, coisas que me doíam imensamente e que me faziam sentir uma culpa que me deixava com vontade de desaparecer para sempre. Culpa muitas vezes sobre coisas hiperinflacionada, como pede o transtorno. Meu equilíbrio bioquímico de sinapses e que tais precisava de ajuda.

Atualmente, a impressão que eu tenho é que a fase depressiva é sempre maior que a outra, ou talvez eu simplesmente saiba lidar melhor com ela, porque a sociedade hoje entende um pouco mais do que trata a depressão. Mas isso é só uma peça de uma complexo sistema. Será que serei entendida quando gritar, xingar, dizer que te odeio e ameaçá-lo no meio da fase de mania? Eu rezo todo dia para que ela nunca mais volte assim. Prefiro ser uma incorrigível mulher que flerta o tempo todo ou uma com sonhos delirantes sobre meus projetos profissionais e para o mundo.

São muitos os temores. Mas recentemente eu decidi aceitar que houve muita beleza nessa percurso, Uma beleza corajosa. Mesmo que só eu saiba disso.

Espero que se você tenha o transtorno, fique bem e encontre seu próprio caminho. É importante buscar um médico responsável. Além do lítio, ele vai recomendar outras medicações e até terapias alternativas- as tradicionais não sei até que ponto nos servem. E um abraço em cada amigo e amiga de quem tem transtorno mental. Obrigada pela paciência. Vocês são nossos anjos na terra.



Para quem quiser entender mais, a partir de exemplos, achei essa matéria aqui no uol.

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