domingo, 24 de setembro de 2017

Só o poeta alcança a rosa




“A rosa é um sentimento”
- eu digo.
Caeiro discorda de mim.
Mas é impossível, poeta,
escapar ao mundo humano,
quando se é humano.
E você já deixou de ser
e talvez nunca tenha sido
e por isso tem autoridade em apontar uma rosa e dizer:
rosa.
Eu, marcada pelo sentimento alheio,
que escorria pelas páginas dos livros e da tv,
só consegui ver a rosa-afeto, a rosa-metáfora,
a rosa de muitas camadas;
nenhuma delas me surpreende dentro daquele limite,
do recorte da mão do ser amado para outro ser amado.
Não existiu o plantio. Ou o botão. Ou o perfume adivinhado em um jardim desconhecido.
E nem a preocupação com as pragas, com a chuva.
Eu nem sequer preciso tocar a rosa.
Ou vê-la com meus próprios olhos.
Ela pode ser só uma breve inspiração a um poema,
uma lembrança de uma artificialidade romântica,
pitoresca,
da qual me sirvo.

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