le trou/o buraco- david almedj |
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Roubaram
Roubaram de mim a possibilidade de me manifestar espontaneamente sobre estar apaixonada. As muitas experiências ruins dos homens que eu amei eu tive que suportar sozinha para ter algum amor. Algum amor era melhor do que nenhum, eu pensei. Enquanto isso, toda a minha expressão de encantamento se distorcia para se encaixar em uma máscara que não machucasse tanto o outro, mesmo que eu tivesse que cortar pedaços do meu rosto, sempre bem maior do que aquela peça socialmente aceitável nos círculos amorosos da pós modernidade. Afastei-me tanto de mim, que hoje prefiro cultivar afetos distantes, que me concedem léguas e tempo para ser eu mesma comigo. A máscara ainda existe, talvez mais parecida com meu próprio rosto. Ela agora se transformou em um anteparo que me permite suturar as novas feridas e às vezes algumas antigas. Agora ela me fez pensar que só ao homem é dado falar sobre um amor enquanto verdade sobre o mundo. Eu, que sou mulher, se me expresso, sou ingênua, não entendi direito em que tipo de relação estou me metendo já que você precisa saber mulher que são muitas e muitos os graus de negação das suas expectativas que se descobrem todos os dias. Eu realmente invejo os homens nesse ponto. Veja bem, não é ao pênis que me refiro, Freud. É na liberdade deles em falar de amor, não importando o estágio: se efêmero, de verão, namoro, casamento, tradicional ou aberto. A beleza do amor quando é respeitada e levada a sério e às suas consequências, é sempre cantada por um homem. Ele ainda decide meu status afetivo. E isso ainda me consome.
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