quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Indicação: documentário sobre um mestre a animação

 

💜 Documentário:

 

Esses dias me dei de presente a possibilidade de assistir o documentário sobre o trabalho e a vida do diretor Hayao Miyazaki. Decidi assistir aos poucos, um ou dois episódios por vez, enquanto medito sobre os diálogos que me surpreenderam. Eu já esperava sabedoria e um certo mau humor do nosso mestre, mas eu fiquei muito tocada com a abordagem que fizeram, destacando como a vida e a família dele foram envolvidas e afetadas com aquele imenso trabalho, que exige todo o tempo e energia mental do criador de Totoro (personagem que o assombra). Tudo é muito sentido, muito sofrido e também muito comemorado- com toda a contenção que a cultura japonesa permite, ainda mais a cultura de alguém que nasceu na década de 1940, em plena guerra.

A relação de Hayao com o filho mais velho é complexa, cheia de camadas, de silêncio. O documentário dá a impressão que os gestos valem mais que as palavras e quando elas acontecem entre eles, nunca é uma verborragia, até um bombom ocupa satisfatoriamente o lugar das palavras. Quem tem um pai mais sisudo, pouco eloquente, mas com um coração sensível, vai entender bem essa dança.

O amor que Hayao tem pela arte que faz é quase ingênuo, tendo a intenção do que o que ali está mude o mundo, mesmo que isso nunca aconteça. O realismo sensível que resta está no desejo de que quem assista suas animações se sinta um pouco aliviado e divirta-se um pouco.

O luto, a morte, a doença da mãe, todos esses temas aparecem diante de nós e se você assistiu dois ou três dos filmes mais famosos, vai entender bem que tudo está ali. É difícil não ver a mãe do pequeno Hayao Miyazaki na cama, doente, em Meu Amigo Totoro. Lá nós confirmamos que a senhora Dola Miyazaki aparece em todos os filmes, na verdade. Foi uma grande inspiração.

A consciência de que poderia partir a qualquer momento, se reforça com a constante despedida dos amigos que se adiantam a ele. Apesar da emoção, é possível vincular sua maturidade com relação ao fim inexorável a todos com o modo como sempre lidou com seu trabalho. Fez de um modo que não houvesse arrependimento, pelo menos não no sentido da entrega. Se houve arrependimento, talvez em não ter conseguido tempo para ver o filho, enquanto era pequeno.

O próprio Goro Miyazaki afirma que o trabalho é a vida do pai e que demorou a entender isso. Ele sente que o pai morreria se parasse, por isso que está sempre inventando. Inclusive acredito que Goro sozinho daria material para um documentário, depois desse vislumbre da relação dos dois, revi toda a primeira impressão que tive de Terramar, longa dirigido pelo Miyazaki filho.

É engraçado. Como meu pai, Miyazaki chora falando do filho, mas longe dele. Quando está perto é sério, monossilábico. O filho retribui na mesma medida. Quanto disso foi selecionado especialmente para esse material lindo, não dá para saber, eu penso que pode ser próximo, mas outra parte minha me diz que há mais espaço para a brincadeira e confiança, como fomos aprendendo, eu e meu velho sisudo, também.

 

Fica aí minha dica de final de ano: 10 Anos com Hayao Miyazaki. https://www3.nhk.or.jp/nhkworld/pt/ondemand/program/video/10yearshayaomiyazaki/


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