💜 Documentário:
Esses dias
me dei de presente a possibilidade de assistir o documentário sobre o trabalho
e a vida do diretor Hayao Miyazaki. Decidi assistir aos poucos, um ou dois
episódios por vez, enquanto medito sobre os diálogos que me surpreenderam. Eu
já esperava sabedoria e um certo mau humor do nosso mestre, mas eu fiquei muito
tocada com a abordagem que fizeram, destacando como a vida e a família dele
foram envolvidas e afetadas com aquele imenso trabalho, que exige todo o tempo
e energia mental do criador de Totoro (personagem que o assombra). Tudo é muito
sentido, muito sofrido e também muito comemorado- com toda a contenção que a
cultura japonesa permite, ainda mais a cultura de alguém que nasceu na década
de 1940, em plena guerra.
A relação de
Hayao com o filho mais velho é complexa, cheia de camadas, de silêncio. O
documentário dá a impressão que os gestos valem mais que as palavras e quando
elas acontecem entre eles, nunca é uma verborragia, até um bombom ocupa satisfatoriamente
o lugar das palavras. Quem tem um pai mais sisudo, pouco eloquente, mas com um
coração sensível, vai entender bem essa dança.
O amor que
Hayao tem pela arte que faz é quase ingênuo, tendo a intenção do que o que ali
está mude o mundo, mesmo que isso nunca aconteça. O realismo sensível que
resta está no desejo de que quem assista suas animações se sinta um pouco
aliviado e divirta-se um pouco.
O luto, a
morte, a doença da mãe, todos esses temas aparecem diante de nós e se você
assistiu dois ou três dos filmes mais famosos, vai entender bem que tudo está
ali. É difícil não ver a mãe do pequeno Hayao Miyazaki na cama, doente, em Meu
Amigo Totoro. Lá nós confirmamos que a senhora Dola Miyazaki aparece em todos
os filmes, na verdade. Foi uma grande inspiração.
A
consciência de que poderia partir a qualquer momento, se reforça com a
constante despedida dos amigos que se adiantam a ele. Apesar da emoção, é
possível vincular sua maturidade com relação ao fim inexorável a todos com o
modo como sempre lidou com seu trabalho. Fez de um modo que não houvesse
arrependimento, pelo menos não no sentido da entrega. Se houve arrependimento,
talvez em não ter conseguido tempo para ver o filho, enquanto era pequeno.
O próprio
Goro Miyazaki afirma que o trabalho é a vida do pai e que demorou a entender
isso. Ele sente que o pai morreria se parasse, por isso que está sempre
inventando. Inclusive acredito que Goro sozinho daria material para um
documentário, depois desse vislumbre da relação dos dois, revi toda a primeira
impressão que tive de Terramar, longa dirigido pelo Miyazaki filho.
É engraçado.
Como meu pai, Miyazaki chora falando do filho, mas longe dele. Quando está
perto é sério, monossilábico. O filho retribui na mesma medida. Quanto disso
foi selecionado especialmente para esse material lindo, não dá para saber, eu
penso que pode ser próximo, mas outra parte minha me diz que há mais espaço
para a brincadeira e confiança, como fomos aprendendo, eu e meu velho sisudo,
também.
Fica aí
minha dica de final de ano: 10 Anos com Hayao Miyazaki. https://www3.nhk.or.jp/nhkworld/pt/ondemand/program/video/10yearshayaomiyazaki/
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