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quarta-feira, 7 de julho de 2021

Fim da estação de chuvas

O equívoco das derradeiras águas

Esse ventriloquismo do teu peito

afoga

numa poça

meu frágil ventrículo 

zumbindo por nada.



uma imagem em preto e branco de um balão cheio de água até a metade com uns peixinhos
Eu perdi a autoria da imagem


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

De eros e de tânatos no cu do mundo


Me sinto uma grande privilegiada (finalmente! chegou o meu dia!), por sofrer por amor em meio a um país mergulhado em luto e sofrimento. Essa minha ferida imensa e particular, que encontrou espaço em outras tantas feridas imensas e particulares que colecionei aqui dentro, me garante um tipo de insanidade prática, uma que me permite fazer alguma coisa a respeito. A minha loucura precisa dessa fresta de liberdade. Nas demais tragédias, amplas, de multidões, talvez rezar. Mas estou achando que o Deus que costumo rezar, não tem nada a ver com aquilo. O pacto que vocês fizeram esses últimos anos foi com Tânatos, que envolve a morte pela morte, a não ser que você considere que a totalidade do Deus cristão é apenas a sua versão Jeová, Tânatos não tem muito a ver com ele. A não ser quanto ao seu próprio filho. Mas ali é morte com esperança e não sei se nos sobra alguma. Morte com esperança também é a da velha dos ossos, da mulher lobo e a da mulher esqueleto. Os ossos depois da morte tendem a persistir ainda por muito tempo. Podem servir ainda para outros usos, até nobres.
Sofro por amor e, me desculpe a cultura da culpa e da aversão a esse tipo de sentimento vindo de uma uma mulher intelectualizada, mas negra, lascada e periférica- sentindo a si mesma-, mas esse sofrimento paradoxalmente arrisca e garante a minha existência de verdade. O restante é paisagem que me atormenta, me atomiza e me tira a chance de fazer algo concreto, a não ser lamentar. O sofrimento por amor me dá a possibilidade final da minha própria morte. Estaria fazendo algo.
Coitados dos humanos que amam assim. Ignorantes, mas plenamente convencidos de que sabem o que estão fazendo, com que tipo de feitiços antigos e ritos esquecidos estão brincando. Sorte a dos cínicos e dos bon vivants e a dos ascetas. Sorte de quem não encheu a cabeça com o excremento da liberdade dos grandes centros, vivendo no cu do mundo. Cu realmente é uma palavra linda, Adélia. Carlos não gostava muito dela, apesar de apreciá-lo.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Telefonema


sinto-me carente
por isso, te ligo à noite
tantas vezes
com uma conversa tão prosaica...
prosaico é meu coração.


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