sábado, 17 de dezembro de 2016

Poesia as a gift

Ontem participei de um amigo oculto de troca de poesias. Dei uma do Ricardo Reis/Fernando Pessoa e recebi uma da Cecília Meireles (que amo)- inclusive sou eu mesma na descrição do poema dela. Seguem os versinhos:

Põe quanto és no mínimo que fazes

Para ser grande, sê inteiro: nada
          Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
          No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
          Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis, in "Odes"- Fernando Pessoa


 Varre o chão de cócoras.
Humilde.
Vergada.
Adolescente anciã.

Na palha, no pó
seu velho sári inscreve
mensagens ao sol
com o tênue galão dourado.

Prata nas narinas,
nas orelhas,
nos dedos,
nos pulsos.

Pulseiras nos pés.

Uma pobreza resplandecente.
Toda negra:
frágil escultura de carvão.
Toda negra:
e cheia de centelhas.

Varre seu próprio rastro.

Apanha as folhas do jardim
aos punhados,
primeiro;
uma
por
uma
por fim.

Depois desaparece,
tímida,
como um pássaro numa árvore.

Recolhe à sombra
suas luzes:
ouro,
prata,
azul.
E seu negrume.

O dia entrando em noite.
A vida sendo morte.
O som virando silêncio.

in: Poesia Completa. Poemas Escritos na Índia- Cecília Meireles


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