quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A poesia da mulher que não sabe amar

Gosto da poesia
porque ela acolhe a mulher que não sabe amar
que sou
intensa demais
igualmente apática
nunca na medida certa
do desejo do outro.

Visto-me do meu próprio desejo desde tenra infância
minhas negativas e meus aceites não seguem nenhuma lei
que não a da pura vontade do presente

-e o passado se ri, irônico.

no relógio que nunca foi meu
dizem que demora a se manifestar
quando de fato só
coze
esses ingredientes inusitados
da poção imprevisível que sempre ocupou o lugar do meu sangue-
até derramar.

isso não quer dizer
contudo
que eu não dance a música que surge
só não me peça para abandonar essa pele
que nenhuma trena mede
nenhum tarô advinha
nenhum céu estrelado ilumina
a não ser que eu diga
que se faça.

3 comentários:

  1. Que lindo!
    Principalmente essa parte:

    "só não me peça para abandonar essa pele
    que nenhuma trena mede
    nenhum tarô advinha
    nenhum céu estrelado ilumina
    a não ser que eu diga
    que se faça"

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  2. Que lindo, amiga! Também gostei da parte "minhas negativas e meus aceites não seguem nenhuma lei
    que não a da pura vontade do presente". O passado ri, mas ele que ajuda a definir o hoje!

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  3. que POEMA LINDO! lembrou a Hilda Hilst nos Cantares. um dia a gente acha quem não saiba amar do mesmo jeito da gente e fica tudo certo.

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