Tenho grande respeito pelo ser unicelular que fui.
Gosto de imaginar que todo esse processo de transformação evolutiva se deu no meu corpo dispondo de certa consciência mesmo bilhões de anos atrás quando só me interessava mitoses e um certo equilíbrio osmótico. Um dia acordei eucarionte e depois pluricelular. Fiquei em dúvida se alga. Mas logo me vi peixe. Guerreei em mares hostis até saltar meio sereia meio sapo pra terra: anfíbio. Apesar de me seduzir essa vida dupla, galguei réptil e alcancei aves. Por último, mínimos mamíferos. Cavei tocas, subi em árvores, colhi frutas e comi outro bicho como eu. Estiquei. Confiei nas patas traseiras. Descansei as dianteiras para a criação. Vivi clãs e tribos, criei cidades. Alcancei metrópole, fui até a Lua e Marte. Plutão e além. Agora estou aqui: síntese, vida que se sabe infinita e que acolhe a benfazeja e discreta morte, contida em tudo quanto foi ato aqui descrito, a engenhosa engrenagem criativa.
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