terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A Marvellous Light - Freya Maske

 




Uma luz maravilhosa


Fiz questão de escrever esse pequeno comentário, porque fui surpreendida positivamente pelo livro "A Marvellous Light", de Freya Maske


Apesar de usar um pano de fundo parecido com Harry Potter (da finada Jennifer Katarina), em parte da construção da magia e no modo com as famílias mágicas se apresentam, a autora supera essa inspiração nos melhores momentos. É tudo o que eu queria de Peças Infernais da Cassandra Clare na ambientação e nas relações dos personagens principais. Robin e Edwin são muito queridos e até os defeitos desse último compõem muito bem a complexidade da personalidade de alguém que foi tratado (e maltratado) como alguém fraco, mesmo sendo um dedicado autodidata. Já Robin, um homem sem magia, que estava perdido na vida, quando arranja esse emprego muito estranho, por conta do qual descobre que a magia existe, reage de um modo que foge um pouquinho ao clichê.


A propriedade, o terreno que aparece como parte central da história e sua relação com os proprietários é para mim o ponto alto da construção de mundo de magia da autora.


O vilão é odioso, mas não tem tanto espaço, o que eu gosto. Ele nem mesmo é o grande vilão, que ainda vai aparecer em outro livro, ao que parece. Foi aí que eu descobri que se trata de uma trilogia.


Robin e Edwin juntos formam uma boa dupla de investigação, a relação entre eles vai se aprofundando a partir disso- é muito orgânico e bonito. E, sim, tem partes apimentadas. Confesso que eu cortaria a metade do hot para incluir mais conversa entre eles, preciso que a autora entenda que esse é o ponto forte dos dois.

No mais posso dizer que recomendo a leitura para quem gosta de fantasia urbana, uma fantasia numa Inglaterra do iniciozinho do século XX. E de acordo com a nova gíria literária dos jovens, é uma romantasia

O maior problema do livro, é que ainda não foi traduzido para o português. Espero que entre no radar das editoras que publicam o gênero aqui no Brasil.





quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A estepe - Anton Tchekhov

e tem apenas 144 páginas ☝



Esse livrinho marcou meu reencontro com um dos autores mais queridos dos meus vinte e tantos anos. Mais de uma década depois, por conta de uma Maratona de Leitura, decidi dar uma conferida, retornando a um terreno já conhecido. Ou quase.

A estepe é um dos primeiros trabalhos de Tchekhov, que antes escrevia basicamente textos não ficcionais. O Tchekhov teatrólogo, por exemplo, ainda não existia. Mas aos 28 anos, já trazia na escrita uma alma marcada pelo cenário exigente e melancólico de alguém que conhece a natureza da própria pátria, a Rússia, sendo já capaz de fundir personagens e paisagem, daquela  maneira que não é estranha à leitora que já teve curiosidade de folhear a literatura do país produzida durante o século XIX. Uma aproximação com os contos do Guimarães Rosa, que viria anos depois, por exemplo, seria muito justa. A estepe russa no verão e o cerrado brasileiro parecem oferecer esse tipo de vivência que no meu coração podem até ter uma estrada direta ligando (do calor ao frio e vice-versa), como se  fosse uma Pangeia.

Mas divagando um pouco menos, é uma leitura que se afasta do nosso hábito atual da velocidade, comandado pelas redes sociais, algo que pede calma, sossego, contemplação. A paisagem no convida a apreciar a lentidão das carroças e a viagem de um menino de 8 anos, em busca de ensino formal, de acordo com a vontade da mãe. A cena da tempestade é uma das minhas favoritas, unindo imaginação e natureza. Junto de um tio e outros viajantes, ele vai compartilhando o destino dos conhecidos e dos passageiros encontros, enquanto sua existência é esticada ao longo do caminho.

essa é ela, a famosa estepe russa


A interação do segundo grupo de companheiros de viagem do rapazinho indica com um potência que poderia ter sido explorado, deixando pinceladas que me lembravam um pouco do Dostoiévski. Não só isso, mas foi o que mais gostei.

Como se trata de uma história curta, mesmo as meditações explícitas das personagens são escassas, mas o sentimento, que vem forte, se dilui em um céu colorido, um campo amarelo, uma lagoa enevoada. No nascer e no por do sol.

Por fim, o texto retorna para a despedida da criança, de sua casa materna, para enfrentar o mundo que descobriu ser um pouco maior que casa dos pais, estendendo sua comunidade e seu olhar, suas sensações, um pouco mais além.

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sábado, 13 de janeiro de 2024

Demônios- Aluísio de Azevedo & Guazzelli

Reencontrei um velho amigo dos tempos de escola ontem: Aluísio Azevedo. O escritor maranhense, o maior nome brasileiro do naturalismo, deu as caras em uma HQ que escolhi ler para um projeto de verão, o conto Demônios. Foi uma surpresa me deparar com essa obra ilustrada. E, pensando nisso,  concluí que o naturalismo combina demais com a questão imagética. Suas descrições sensoriais só ganharam com as cores do artista Eloar Guazzelli, que leu o conto muito jovem, ainda. Aquelas impressões não devem ter saído do inconsciente de Eloar, que uniu sua imaginação a do antigo escritor e criou uma obra menos perturbadora, que curiosa e bonita. ❤

capa em roxo, cidade de são luis, peixes gigantes flutuando
série clássicos em hq - petrópolis- demônios- aluísio de azevedo & guazzelii


Da minha parte fiquei positivamente surpresa em encontrar tanto subgêneros atuais, fragmentados nesse delírio de Aluízio de Azevedo. Uma boa parte se assemelhou até mesmo com Elantris, do Brando Sanderson! 😇

Psicanálise, biologia, evolução, fantasia, terror, surrealismo, suspense, poesia. Essas são as minhas palavras para esse conto. 

Muito curioso, rápido de ler e eu acredito que inclusive as ilustrações ajudaram bastante a aumentar a dinamicidade do texto, que poderia ser enfadonho para o padrão acelerado contemporâneo. 

Por fim, deixo uma pergunta para você pensar depois que lê-lo: quem são os demônios? 😉

Super recomendado! ✌


Ps. Li Demônios para a Maratona de Leitura de Verão #MLV2024, que é um movimento na comunidade de leitores, criado pelo Victor Almeida, do Canal Geek Freak. Estou gostando de participar porque estou tentando variar um pouco nos gêneros e subgêneros. 💚

Pps. Eu aprendi na escola a chamar Aluísio DE Azevedo, então você viu escrito das duas maneiras, porque não estou aqui para padronizar. Ah! O nome dele todo era Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo. 

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