São tantas luzes quando é a penumbra que busco aquela passagem encantada para seu corpo e o meu se encontrarem... Vejo que o gato amarelo de olhos vazados sorri um testemunho
Queria ter minha vida analógica mais perto em minhas próprias lembranças, para conseguir valorizar melhor o que surge no meu caminhar por esse jovem mundo de velocidade e excessos. Mas o único passado que vale é o dia de ontem, seguro e o mais distante possível de um tempo em que a ausência da montanha de estímulos é bem mais que o mero ontem. E cada dia que um ontem se forma é bem maior que o anterior, o que pela lógica só aumenta as distâncias daquele passado analógico. Tenho saudades de um tipo de presença do corpo humano e da voz não codificada por nada além que meus ouvidos- só muito raramente um telefone fixo. Tenho saudades de ler por puro prazer as longas páginas dos romances; tenho saudades dos livros obrigatórios com páginas de celulose. Tenho saudades de uma leitura de papel e de uma escrita que não fosse mediada por máquina ou teclado virtual. Mas o virtual é o real agora. Ainda assim meu corpo continua a pedir a presença de um corpo não compartimentado em funções mas um corpo-todo-ali-presente.
E onde queres dinheiro, sou paixão Onde queres descanso, sou desejo E onde sou só desejo, queres não E onde não queres nada, nada falta E onde voas bem alto, eu sou o chão E onde pisas o chão, minha alma salta E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco E onde queres romântico, burguês Onde queres Leblon, sou Pernambuco E onde queres eunuco, garanhão Onde queres o sim e o não, talvez E onde vês, eu não vislumbro razão Onde o queres o lobo, eu sou o irmão E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! Bruta flor do querer Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito E onde queres ternura, eu sou tesão Onde queres o livre, decassílabo E onde buscas o anjo, sou mulher Onde queres prazer, sou o que dói E onde queres tortura, mansidão Onde queres um lar, revolução E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor Construir-nos dulcíssima prisão Encontrar a mais justa adequação Tudo métrica e rima e nunca dor Mas a vida é real e é de viés E vê só que cilada o amor me armou Eu te quero (e não queres) como sou Não te quero (e não queres) como és
Ah! Bruta flor do querer Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo E onde queres romance, rock'n roll Onde queres a lua, eu sou o sol E onde a pura natura, o inseticídio Onde queres mistério, eu sou a luz E onde queres um canto, o mundo inteiro Onde queres quaresma, fevereiro E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres estares sempre a fim Do que em mim é de mim tão desigual Faz-me querer-te bem, querer-te mal Bem a ti, mal ao quereres assim Infinitivamente pessoal E eu querendo querer-te sem ter fim E, querendo-te, aprender o total Do querer que há, e do que não há em mim
Porque é bom, porque sou amante das barrinhas ao leite ou meio amargas, ou com castanha (até do-pará), ou com coco, ou com avelã, amendoim, ou em cima do sorvete, em cima do bolo, em cima de você (opa!).
Na falta do chocolate diário (hoje, oh céus), trago aqui a trilha do filme deliciosim "Chocolat".