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quarta-feira, 8 de abril de 2020

Entrevista: Heci Regina, tradução e Angela Davis


Heci Regina Candiani. Talvez você ainda não conheça esse nome, mas com certeza, já que você está aqui nesse blog, deve ter ouvido falar de Angela Davis, Ursula K. Le Guin, Octavia Butler, Magaret Atwood ou Nancy Fraser. A Heci, além de ser doutora em sociologia pela UNICAMP, é a incrível responsável pela tradução de muitas das obras dessas nossas autoras queridas. Por sorte minha, ela aceitou o convite para uma entrevista, que fiz lá na rede social do passarinho azul. Para não deixar a conversa muito dispersa, foquei mais no trabalho que ela desenvolveu com as obras da Angela Davis. Segue esse presente para todas e todos nós! <3

1.  Então, Heci, percebendo suas escolhas para tradução, notei que o conteúdo das obras parece quase sempre voltado para preocupações de justiça social, mesmo na literatura. Isso me fez pensar se, quando você está traduzindo, de algum modo sua formação em sociologia atravessa suas escolhas das obras ou até mesmo orienta suas escolhas por categorias, termos importantes para os livros? Ou você entende os dois como ofícios separados?

Acho que a sociologia e tradução são ofícios (gosto muito dessa palavra) que passam essencialmente pela pesquisa e, ainda que os métodos e objetivos dessa pesquisa sejam diferentes em cada atividade, existe sempre em comum a curiosidade, a investigação, a intenção de ir além do que está dado, do aparente, do superficial. Pela formação sociológica, tudo que leio, observo, me leva a pensar nas questões sociais e políticas envolvidas, nos discursos mobilizados, nas intenções que nem sempre estarão explícitas. Da mesma forma, a tradução me leva a estar atenta à escolha de um tempo verbal, de uma palavra e não de outra, da terminologia, da semântica. Todas essas ferramentas me servem tanto em uma atividade quanto na outra.

2.    Como foi que aconteceu seu encontro com a obra da Angela Davis? Você gostou da recepção do público à sua tradução?

Os textos da Angela Davis exigem uma abordagem feminista, conhecimento do marxismo e dos debates relativos a questões raciais, porque todos esses aspectos da obra têm reflexos na escolha de termos e no modo de apresentar as ideias. Quando comecei a trabalhar no primeiro livro de Angela Davis que traduzi, o Mulheres, raça e classe, eu fazia doutorado em estudos de gênero, então já estava envolvida com essas questões. Mas a obra que se sustenta em muitos detalhes da história e das relações sociais específicas dos Estados Unidos no momento do surgimento do movimento de mulheres e da luta abolicionista. Isso exigiu bastante pesquisa e a produção de muitas notas de rodapé para contextualização, tanto de termos como de informações que poderiam faltar para quem estivesse lendo o texto no Brasil, até porque mais de 30 anos separavam o lançamento do livro nos EUA e a tradução. E algumas pessoas que leram o livro comentaram justamente que consideraram importante a inclusão das notas e as escolhas de alguns termos, além da linguagem que problematiza a suposta neutralidade dos termos masculinos. Isso é muito gratificante para mim.  

3.    Na obra “Mulheres, Classe e Raça”, a Angela Davis desenvolve com muito respeito as críticas dela ao movimento para o voto feminino no século XIX, mas sem deixar de ser precisa em seus argumentos em apontar as graves falhas dele em diminuir a importância do movimento abolicionista que se tornaria o de maior destaque na época, ou ignorar as mulheres negras que também compunham o movimento, sendo esse seu principal ponto na primeira metade do livro. Você sentiu dificuldade em elaborar isso? Eu pergunto por que muitas vezes eu senti uma raiva absurda lendo as injustiças que os movimentos de mulheres negras sofriam (e sofrem) e eu acredito que raiva não deva ser um bom guia na hora de escolher as construções na hora da escrita. Como traduzir bem algo que dialoga com seus valores mais caros?

A própria Angela Davis, nas palestras que fez no Brasil no ano passado, comentou sobre a importância da raiva. A raiva é um chamado à ação, ela nos mobiliza, nos coloca em contato com a necessidade de transformar uma situação. (O que é totalmente diferente do ódio, que passa por um desejo de destruição do outro, presente na xenofobia, no racismo, no machismo, na exploração de uma classe pela outra). O que mais a raiva me dizia no momento de tradução desse livro é que quanto melhor eu pudesse fazer o meu trabalho, mais eu poderia colaborar para que o racismo, o machismo e a opressão de classe fossem compreendidos por mais pessoas e questionados.

4.    Você sente alguma diferença em traduzir autoras como Fraser e Davis e depois partir para obras literárias como as da Atwood? Pode falar um pouco sobre esse processo?

A obra literária coloca quem traduz diante de um número maior de questões estéticas, um cuidado diferente com a linguagem, experimentos linguísticos, recursos como rimas, aliterações, alguns aspectos formais do texto que precisam ser considerados porque, em geral, estão sendo usados para contar a história. Normalmente, isso exige, para mim, uma maior lentidão na leitura, na ponderação das escolhas, a exploração do vocabulário, é um processo mais demorado em cada frase. Já em um texto de não ficção, é mais raro que isso aconteça. Ao traduzir Davis, Fraser, Federici, as questões passam, em geral, mais por conceitos, termos, fatos históricos, referenciais teóricos. Há, claro, questões formais do texto, mas elas são menos presentes, as soluções exigidas passam mais pela pesquisa de dados, informações, a produção de uma nota de rodapé... É muito bom ter a possibilidade de lidar com esses aspectos diferentes de cada gênero, alternar entre obras diferentes, autoras e autores diferentes.

5.    Por último, você acredita que as tradutoras e tradutores devam se engajar mais em discussões públicas dos trabalhos que fazem ou não, devem ser profissionais discretos e distantes desse tipo de agitação?

Acredito que sim. Acho que os tradutoras e tradutores, por terem uma relação muito próxima com o texto, muitas vezes passando horas em uma só frase, dias tentando aprimorá-la, podem ter observações e percepções interessantes para compartilhar. Pensar o texto a partir da tradução traz mais elementos para compreendê-lo e analisá-lo.  



Heci, muito obrigada pela entrevista e já fica aqui o convite, desde já, para mais conversas sobre sua vivência no mundo da tradução!

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Tarô e bibliografia particular


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS QUE INSPIRAM A MINHA LEITURA DE TARÔ

Joseph Campbell: os 4 volumes da mitologia e o poder do Mito. O poder do mito (a longa entrevista).
Bachelard: todos da fase noturna do filósofo.
Warat: para quem tem uma formação mais burocrática, como eu, inicialmente pode precisar de uma leitura como as obras do Warat como “A ciência jurídica e seus dois maridos”, para se soltar, lembrar que o mundo pode ser mais desejante e voltar a sonhar, mesmo em lugares inóspitos.
Simbolismo e poesia em geral: se você pensar bem, suas aulas de simbolismo já davam uma dica que interpretar por analogia e associação, bem como deixar a imaginação vagar pode dar bons resultados. Particularmente o Cruz e Souza, poeta maranhense e o Da Costa e Silva, piauiense com seu Zodíaco, podem dar uma mão. Eu acrescentaria o Mario Faustino, que não é simbolista, mas inspira num sentido interessante para o tarô. Poesia em geral, quando você segue a regra da entrega absoluta ao autor, pelo menos na primeira leitura, é um meio muito eficiente de estimular a sensibilidade aos símbolos do jogo.
Jung: É o fundamento racional principal junto com o Campbell, no meu caso. Não gosto de usar esse tipo de justificativa, porque não é meu desejo transformar o tarô em uma pesquisa acadêmica. É uma prática intuitiva, de imaginação e de alteridade. Mas o Jung pesquisou tanta coisa que é ignorada pela academia desde a época dele, que quem trabalha com imaginário e sonhos pode muito bem aproveitar para usos práticos. O livro a respeito inconsciente coletivo e os arquétipos dele me ajudou bastante, porque traz vários desses modelos gerais da humanidade que surgem em fábulas, religiões, mitologia, sonhos e manifestações do inconsciente em termos vários, que se manifestam em técnicas como o tarô, também. Os livros deles a respeito de alquimia, que na minha opinião são os mais difíceis, são interessantes pelas imagens que sugerem e pela pesquisa histórica.
Clarissa Pinkolas Éstes: O livro Mulheres que Correm com os Lobos e suas histórias bem narradas e aprofundadas nos comentários da autora psicanalista e catadora de histórias ancestrais, ajuda-nos a projetar mais longe tanto os personagens que surgem nas cartas, como a própria narrativa da vida do consulente. Além de ser uma excelente ferramenta de auto descobrimento, especialmente para as mulheres, as grandes guardiãs da arte do tarô ao longo dos séculos.
Marion Zimmer Braddley: não vou negar a influência da Marion, apesar de algumas ressalvas atuais. Seu As Brumas de Avalon e as demais obras que narram a vida das sacerdotisas que aparecem em muitas versões do tarô ajudam-nos a imaginar a velha, a donzela, o velho, o sábio, a rainha, o rei e toda a sorte de imagens relacionadas a uma corte real envolvida com magia, que é, por exemplo um tema tradicional do tarô como o de Marselha. Passei anos encantada com a obra dela e sua versão da lenda do Rei Arthur.
Cecília Meirelles: eu entendo que a linguagem que a Cecilia Meirelles (neossimbolista) adota em muitos dos seus poemas, ajudam na leitura do simbólico contido no baralho. Ela me inspira na poesia, além do deleite- eu não leio poesia visando nada além de ler a poesia, mas que bom que veio esse bônus e posso compartilhar.
Por acaso, o meu estilo de poesia evoca o simbólico, a natureza e as emoções, todos artigos muito caros para quem lida com o tarô. Se você quiser dar uma olhada, é só correr os olhos no blog. Eu aposto que quase toda taróloga ou todo tarólogo é, no fundo uma poeta, um poeta.
Por falar em bônus e em natureza: livros que evoquem nosso contato com os elementos naturais são interessantes. Talvez o Bachelard ajude nisso, mas também o Walt Whitman, a Emily Dickinson e o Thoreau contribuam em construir uma boa atmosfera interior para quem não teve esse contato direto com a natureza, ou quem, como eu mencionei antes, está com uma formação mais enrijecida, meio “cartesiana”. Se você já tem um contato profundo com essa natureza não humana, aproveite, pois ela é uma biblioteca espontânea do imaginário e do sensível que importa para o tarô, a sensibilidade para perceber e ampliar essa percepção da vida em seus ciclos são fundamentais para essa arte.
A internet está cheia de sites com modelos de baralhos e de jogos, você pode recorrer a vários deles, como eu faço e aprender, treinando com o que mais se identificar.

Carta da Cavaleira, naipe de copas, tarô cigano.


terça-feira, 10 de setembro de 2019

Cynthia Osório: entrevista




A Cynthia já apareceu aqui antes com sua poesia, mas agora fiquei com vontade de ouvi-la em uma entrevista e fiquei muito contente em saber que ela me concederia essa honra. É uma conversa importante para quem escreve, para mulheres que escrevem e também para quem de alguma maneira encarna algum marcador social que se sobressai nas relações sociais. Eu gostei bastante, espero que vocês curtam as respostas da nossa poeta convidada:

1.O modo como você se percebe influencia sua poesia? Como?

Total. Eu escrevo sobre o mundo que esta dentro de mim, ou ao menos, a partir dele. Então cabe aí muitas doses de mim mesma. Acho até que seja uma escrita imatura por isso, mas ela é  o que é. Não sei se te respondi.

2. Você entende a questão racial como um eixo que interfere na sua sensibilidade e vida criativa?

A questão racial é uma questão relativamente nova pra mim, estou em processo de descoberta  construção, aprendizagem de mim como mulher negra. Inconscientemente pode ter interferido já que, como disse antes,  falo muito sobre mim. Agora, nesse processo de conscientização, por assim dizer,  o que transparecer na minha escrita é/será intencional.  Então, interfere sim. A escrita pode ser uma ferramenta de luta antirracista, eu sinto a necessidade de construir em mim essa responsabilidade. E de maneira mais pessoal: escrever um instrumento de resistência ou re-existência num ambiente racista. Agora com sua pergunta reflito que quando/se o racismo me esgota mental e fisicamente, ainda assim, ele não me impede de criar, porque ainda que não saia uma poesia, por exemplo, eu escrevo. Escrever é criar.

3.Você pensa no Outro ou Outra que vai ler seu poema quando está escrevendo?

Quando escrevo pra que vejam eu elaboro mais, busco palavras. Outras vezes escrevo pra escrever, e acabo querendo que vejam, ou não. Quando faço essa escolha é sinal de que penso sim nas reações de quem lê.

4. Pretende publicar um livro físico? Quando?

Óbvio que já pensei e penso muito nisso, mas não é um peso nem uma urgência, não sei quando. O que sei é que vou escrever sempre. Confesso que a burocracia envolvida me intimida e até me cansa.

5. O que você acha que falta para a poesia feita por mulheres ser valorizada tanto quanto a do homem poeta no estado do Piauí?

Não sei se é apenas isso o que falta, mas iniciativas como clubes de leituras como o "Leia mulheres", publicações independentes como o zine "Desembucha, mulher!", por exemplo, são belas demonstrações de que só nós fazemos por nós mesmas, sem esperar aprovação ou apoio de homens, e dá certo. Claro, que se homens quiserem sair da sua zona de conforto e subverter a lógica  patriarcal etc ajuda, mas "homens, o que tenho a ver". É continuarmos a fazer como sabemos e podemos! 


6. Você tem algum conselho para dar a quem quer se aventurar pelo mundo da escrita, dos versos


Sugestão: escrever, ler, e olhar o mundo ao redor.



domingo, 4 de agosto de 2019

Sites de cultura recomendados pelo passarinho

Uma das coisas que eu gosto de fazer, tem alguns anos, é "frequentar" os sites das revistas que eu eventualmente compro, ou que assino. Somo a eles sites de revistas que não tenho acesso pelo meio físico, apenas pelo virtual. Apesar do papel ter perdido a rodada para o meio eletrônico, ainda gosto de ter alguns números de publicações culturais, sempre que posso. Com o meio eletrônico, me permito descansar na procura por colunas interessantes desses veículos famosos e outros nem tanto. O descanso pode vir sob a forma de provocação, como é de se esperar de meio de comunicação de cultura. Não importa. São bem-vindos. E em meio a este momento que o mundo quer trazer de volta o abuso fascista, fico satisfeita em perceber que os jornais, as revistas, as colunas que eu mais gostava nenhuma preferiu esse caminho violento e fácil (fascio), ainda que uma ou outra seja mais tímida em deixar explícito isso.

Mas vamos aos sites/jornais/revistas?

1. REVESTRÉS:

Revista do meu estado natal, Piauí, de qualidade excelente, pelos temas nacionais e locais, pelos convidados, pelas entrevistas, pelo cuidado dos editores, dos jornalistas e a linda fotografia. Certamente é revista-afeto e revista-memória para piauienses e agregados que quiserem se sentir dentro da roda. No site, você pode conferir muitas entrevistas que saíram na revista de papel (um tempinho depois de cada edição), como essa do Torquato Neto aí embaixo e também conteúdo exclusivo como o blog Br-ó-bró do qual tive a alegria de participar (e que teve até um livro lançado recentemente), a coluna da Sérgia A. do professor W. Soares (editor) e do André Gonçalves (editor-chefe), dentre outros colaboradores de alma inquieta e sensível.

Ah e lá tem as crônicas do Rogério Newton, que são apenas lindas demais.

A revestrés pode ser adquirida em bancas de Teresina e Brasília. E você pode assiná-la, como eu: https://loja.revistarevestres.com.br/produtos/assinaturas 

"Revestrés recupera a última entrevista de Torquato Neto, com texto novo de Menezes Y Morais"


2. SUPLEMENTO PERNAMBUCO:

Provavelmente o suplemento cultural mais famoso do nordeste (e acredito que fora dele), o Suplemento tem a facilidade da gratuidade e é  uma publicação da Companhia Editora de Pernambuco - CEPE, editora do Estado de Pernambuco. Você pode baixar as páginas que são um primor graças aos competentes artistas convidados para ilustrar cada nova edição. Se você tiver como assinar o suplemento, vai ter em mãos toda a beleza desse jornal cultural (eu fiz isso por um ano e foi muito bom!). E é de se notar que sempre tentam valorizar o trabalhos das mulheres de hoje e de ontem e também de negros e outros grupos marginalizados pelo discurso cultural rotineiro. A Adrienne Rich vira e mexe aparece lá traduzida e eu acho lindo.

De vez em quando, eles enviam também documentários e livretos juntos com o suplemento. As apreciadoras agradecem. 

Algumas colunas e matérias instigantes que você pode encontrar lá (foco nessa colagem do Euclides)



Outra publicação de terras piauienses. Tem um projeto gráfico que me agrada, desde o papel até as ilustrações que costumam aparecer por lá. A descrição da revista pelos próprios criadores já é por si só, pura poesia: "Pode ser uma revista, um livro, um objeto não identificado. Trata de audiovisual, literatura e demais artes, nossos outros desequilíbrios."

Daí você tem entrevistas e material literário de qualidade, tratado com o maior carinho. E para completar, você pode folhear as páginas de algumas edições pelo ISSU (por isso que estão aqui nessa lista). Mas, caso você deseje tê-la impressa em sua casa, também pode entrar em contato com os editores, ou comprá-la em livrarias ou eventos culturais da cidade de Teresina.

Clica aqui para folhear o material bonito 


4. CONTINENTE: 

Quando você esbarra no Suplemento Pernambuco, fica aberto a drogas mais pesadas (brincadeiraa) como a digna Revista Continente (que sempre é divulgada na irmã), ambas integram a editora CEPE, assim como o Suplemento, é uma revista mensal, que publica fisicamente, mas que mantém um site muito interessante. Você clica lá em "seções" e se esbalda de tanto texto inteligente e belo. Tem muito orgulho de ser nordestina, como também de ir além dessas fronteiras. Muita gente que balança o mundo das artes já deu entrevista por lá.

Clica aqui para acessar a entrevista com a Marin Alsop


Seus textos são cuidadosos, sem muitas experimentações. O conteúdo é, geralmente, excelente. Entrei em contato com ele quando tive a oportunidade de fazer doutorado em Santa Catarina- eles tiveram origem em Curitiba e têm colunistas reconhecidos nacionalmente. Muito material de qualidade, ensaios que costumam me agradar demais.

O jornal rascunho é enviado pelos correios, bastando a interessada ou interessado entrar em contato.


Algumas das recomendações do jornal (clica aí)



O jornal quatrocincoum agora está hospedado como um blog da Folha de São Paulo. Talvez o maior tenha percebido que precisava tratar de literatura com mais carinho- ao contrário de outro jornalão. O quatrocincoum é uma pérola maravilhosa de se acompanhar e agora tem até podcast. Toda estratégia razoável é bem vinda para encararmos tempos de escassez material e miséria de parte da alma coletiva.









segunda-feira, 15 de julho de 2019

Entrevista: Malamanhadas Podcast

Olá, pessoas bonitas! Eu pedi para as jovens mulheres maravilhosas que fazem o Podcast piauiense & feminista Malamanhadas que respondessem 5 perguntinhas, naquele formato bem bruto que vocês veem aqui, vez ou outra. Inclusive, querendo ler as demais entrevistas, é só clicar na tag entrevistas ali embaixo.

Vamos para as perguntas!

1. Por que um podcast?

O podcast é uma excelente plataforma de comunicação por ser fácil e prazerosa. Embora já tenha alguns anos de existência, só agora, nesses últimos anos, eu diria, ele vem em um crescimento de popularidade, principalmente no Brasil. Apontam, inclusive, que 2019 pode ser considerado o ano do podcast. São vários os porquês. Assim como o rádio, ele permite aguçar suas habilidades sensoriais e também de concentração somente na audição, de você interpretar e entender a mensagem sem precisar estar vendo quem está falando. Fora também o lado de construção de podcast, esse lado mais colaborativo. É claro que há pessoas que fazem tudo sozinha, mas o podcast também é uma forma de reunir pessoas e de debater temas e pontos de vistas. Além disso, ele permite que você vá montando um audio de acordo com o que você quer que saia, com a edição. Sem falar que para quem escuta, há essa mobilidade, visto que por ele permitir download, ou seja, a reprodução no modo off-line, isso faz com que você possa ouvir e levar o conteúdo para diversos lugares, algo que o rádio não possibilita.

2. Por que um podcast sobre feminismo no Piauí?

Porque temos muitos podcast feministas pelo Brasil, mas muitos das regiões sudeste e sul, que inclusive amamos vários e temos como referência. Mas muitos também não representam nossa realidade não só como mulher nordestina, como também de referências do dia-a-dia. Fomos mais para esse lado de trazer algo diferente tanto para o mercado como também para as pessoas da nossa região. O lado do slogan ser “seu podcast feminista piauiense” é um regionalismo que foi unanime para a construção da nossa marca. Assim como o nome, “Malamanhadas”, uma expressão regional. Mas não queremos que seja algo restrito somente para quem é piauiense, muito pelo contrário. O podcast é daqui, mas é para todo mundo ouvir. O que é válido é estar ocupando esses espaços.

3. Em um tempo em que parece que não há tempo para ouvir o outro, como vocês se entendem sendo construtoras de uma mídia que pede justamente a escuta?

É difícil e é um dos porquês lá da primeira pergunta. Porque você não quer ser escutado só pela bolha que concorda com você. Nós do Malamanhadas queremos estar dialogando com várias pessoas e que pensam diferente. O podcast te permite o poder da voz, da palavra. Ele de fato é segmentado também, então geralmente, a pessoa que escuta podcast ela busca aqueles que levantam temáticas que lhe interessa, ela quer ouvir o que ela concorda minimamente com as colocações daquele produto. Esse caráter de restringir parece um pouco falho nessa questão de você ouvir pontos diferentes, mas é um desafio. Primeiro de tudo, tem que ocupar esse espaço. Tem que tornar esse tipo de conteúdo disponível, precisamos falar sobre questões importantes como o feminismo. Porque já é difícil quebrar essas barreiras com informação séria, imagine sem, prevalecendo só canais e meios de inverdades.

4. Quais podcasts inspiraram vocês ou que vocês curtem e que indicariam aqui para mim?

Más Feministas, Maria Vai Com As Outras, Pretas na Rede e Olhares Podcast são nossas referências na questão feminista, mas existe uma hashtag #mulherespodcasters que você coloca lá no twitter e é só sucesso. Eu sinto saudades do Bumbumcast e do Grampos Vazados, que são mais nessa pegada do humor, mas eles tão meio que parados, mas vale a pena muito conferir os antigos episódios. Enquanto eles não voltam, temos o Potocas Podcast, Filhos da Grávida de Taubaté e o Decrépitos Podcast. Gosto muito muito muito do Esquizofrenoias, Anticast e Revolushow.

Mas sempre que fazem essa pergunta pra gente, gostamos de citar essa hastag que falamos acima, e agora também acrescentamos uma lista feita pelas mulheres do Olhares: https://olharespodcast.com.br/200-podcasts-com-mulheres-podcasters/

(um parêntese para dizer que essa foi a primeira lista de indicação de podcast que aparecemos hahaha! Mas, muito além disso, essa é a lista mais completa que tem muita dicas incríveis!)

5. Quem vocês gostariam de convidar para um podcast de vocês e que seria aquela coroação do trabalho que realizam?

Qualquer integrante do Bumbumcast, principalmente a Hell Havani. A Branca Vianna do Maria Vai Com as Outras. As meninas do Más Feministas. A Eliane Brum, jornalista incrível. E a Rihanna, porque seria incrível conversar com a Rihanna em qualquer hipótese e gravar esse encontro. Seria mais legal ainda se eu soubesse inglês.


Respostas feitas por Ananda Omati, idealizadora e integrante do Malamanhadas, e Aldenora Cavalcante, integrante do projeto.

Interface do site do podcast (um desenho de uma jogadora de futebol negra com cabelos longos)

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Entrevista: Mauricio Gaia

Retomando as postagens de entrevistas com amigos que trabalham com arte em geral, hoje eu trouxe um convidado especial lá de São Paulo. O produtor cultural Maurício Gaia, que não gosta de ser chamado de Gaia (rs) e que para as amizades é mais conhecido como Mau. 
Jornalista e especialista em mídias digitais, Maurício Gaia, segundo sua descrição no blog Combate Rock, diz crer que "o rock morreu na década de 60 e que hoje é um cadáver insepulto e fétido e que gosta de baião-de-dois". Por esse último apreço, desconfio que o paulista sempre será bem-vindo ao nordeste:
1.       Então, Gaia, queria começar perguntando o que a música significa para você?
Pra começar, Gaia era meu pai. Eu sou Maurício para a geral, Mau para os amigos e Gaia para a moça que imprime meus boletos - aposto que é tuiteira, porque começou a me chamar assim da noite para o dia.

Música é um lugar que nos coloca em lugares que já pudermos ser confortáveis e, ao mesmo tempo, nos levar para outros lugares.  Quando eu escuto, sei lá, o primeiro álbum do Led Zeppelin, eu lembro da primeira que ouvi, em um verão muito, muito quente. Da mesma forma, quando escuto "future Days", do Can, eu me sinto m um lugar onde nunca estive, mas me parece confortável.

Mas a verdade que eu consigo passar alguns dias sem ouvir música, a não ser a trabalho. Música transcende, mas temos que saber o que acontece no mundo :) 

2.       Aproveitando que está acontecendo agora o In-Edit Brasil 2019, conta para a gente como é organizar um evento desse porte?

Não é fácil. Mesmo sem contar com a diretriz do governo atual, que trata o setor de cultura como inimigo, nos últimos anos enfrentamos MUITA dificuldade para conseguir patrocínio - nem dá para dizer que o In-Edit seja um grande (no sentido de estrutura, tamanho, etc) festival de cinema, nao conseguimos fazer que ele seja possível sem leis de incentivo - e a cada ano, vem diminuindo o dinheiro que conseguimos captar.

O fato é que, nos últimos anos fizemos com poucos recursos financeiros e com muita ajuda de amigos parceiros. Se chegamos a 2019, foi por conta disso. Nos próximos anos, não sei como será.

3. Como é ter um programa que fala sobre música transversalmente, mas tendo o rock como ponto de partida (ou de chegada)?

O produto música, de forma geral, perdeu muito do seu valor, e nem digo que isso se deva por conta da internet e sim por outros fatores. Todo mundo amava MTV, mas mesmo lá eles não tinham audiência o suficiente para bancar toda a operação. Como diz o jornalista Ricardo Alexandre, quer perder audiência, só colocar música, ou seja, de cara já saímos perdendo. Quando colocamos rock, que é um gênero que vem perdendo, não só no Brasil, mas como no mundo, nós nos colocamos na terceira divisão do rolê.

Mas, aí falo por mim, e não pelo Marcelo Moreira, meu sócio, meu foco não é só rock, ou pelo menos no que o roqueirão tradicional considera "rock". Dentro do Combate cabe rock e suas derivações, cabe soul, cabe samba, cabe rap, cabe tudo aquilo que é música boa e que tenha um contato com o universo contemporâneo. Já colocamos tanto Dorsal Atlântica como Luiz Melodia e Beth Carvalho. E Fela Kuti. E Ozzy Osbourne cantando com Kim Bassinger. E, se bobearem, coloco Banda de Pífanos de Caruaru. Porque o universo é muito vasto e a música também é.

Viajei.

4.       Conta aqui: quais seus planos para os próximos cinco anos?

Planos? Quais planos? Qualquer plano meu depende de grana e eu nem sei como isso vai ser nos próximos três meses, quiçá cinco anos.


5.       E, finalizando essa entrevista, sugere aí 3 músicas ou bandas para as leitoras e leitores do blog e aproveita e diz quando você vem no Piauí (rs).
três links, sem me preocupar com o tempo
https://open.spotify.com/track/7Dprt8s1FohodJYtCNcM4a?si=Y9hNHqNzS-6ExSmlu4b6nA (pode ser que eu tenha chorado na plataforma de embarque de metrô ouvindo isso)
https://open.spotify.com/track/1Y6Dv0tWYUP3Za2Es9FUL2?si=v7eyh_KvQrmWvYS8Il7gtw - amo hendrix, não é minha música favorita dele, mas mostra o que mais eu gosto nele - as baladas. 

Por mim, iria para o Piaui e pelo Nordeste inteiro, que é o que salva o país, o mais rápido possível, espero que em breve possa ir ao PIAUÍ.

Ps. Como bônus, Maurício Gaia falou um pouco sobre a construção do Combate Rock:

Ele surgiu em 2010, no grupo O Estado. E existiam outras pessoas: além do Marcelo Moreira, que hojé é um dos sócios da holding, tinha o Décio Trujillo, que era editor-chefe do Jornal da Tarde, Daniel Morango, Marcos Burghi, todos eles, juntos com Moreira, vulgo Coxa, colegas de trabalho. 
Eu tinha um podcast, chamado "Noites de Insomnia" - nem o nome foi dado por mim, sim por Carla Coutinho (de quem eu perdi contato, aliás), e o Coxa me pediu ajuda para fazer, gravar podcasts. Foi assim que eu acabei entrando na equipe do Combate - eu gravava, editava e produzia os programas de rádio, que começaram como podcast e depois viraram programas no Território Eldorado. 
Com o fim do "Jornal da Tarde", o grupo Estado disso que gostaria do conteudo, mas sem pagar nada. Aí, levei o projeto ao UOL. Naquele momento, ficamos Marcelo Moreira e eu, e os demais partipantes decidiram ceder a mim e a Moreira o nome Combate Rock - muitos deles participarem de programas já na fase UOL, por absoluta conta e risco deles ) 
Bom, em 2013, levei o projeto para o UOL e, desde então, somos Marcelo Moreira e eu, com o apoio e simpatia de todos os demais que já passaram pelo Combatão das Massas.

E é isso aí! Até a próxima entrevista! <3

Mauricío Gaia, puro estilo em sua blusa de galáxias da Tampa de Crush (Natássia)


domingo, 14 de outubro de 2018

Entrevista com Dani Marques




Hoje eu trago mais uma das nossas entrevistas com autoras piauienses (é só clicar na palavra chave referente aí embaixo para ver as demais). Hoje é a Daniely Marques, que até já teve postagem aqui sobre o lançamento de um dos seus trabalhos, que ela menciona (clica aqui). Aproveitem a entrevista:


1.       Dani, obrigada pela alegria de estar aqui no blog concedendo essa entrevista. Já tem um tempo que era para isso ter acontecido. Fala um pouco de você, apresente-se para nossas leitoras e leitores:

Olá, Nay! Agradeço a oportunidade de falar de mim e do zine “Desembucha, mulher!”.  Bom,  eu me acho um mix, sempre curiosa,  logo porque já tentei várias coisas nessa vida, e só agora me encontrei um pouco – espero que não seja tardiamente. Fiz duas graduações, e não trabalho em nenhuma das duas, me descobri mesmo trabalhando com a escrita. Teresinense, 33 anos, mãe solo de uma menina de 5 anos. A escrita foi o refúgio para me encontrar depois da maternidade, e ajudar outras a se encontrarem. 

Dani e a segunda edição do zine


 2.       Como surgiu esse plano de trabalhar com cultura, uma área tão bela, tão importante e tão subestimada no país?

O zine tem um lance místico, talvez tenha nascido da vontade de dizer uma basta a uma série de silenciamentos que eu sofri ao longo da vida. Nós mulheres somos feitas para aceitarmos tudo bem caladinhas, algumas conseguem, outras não. Quem não consegue, adoece, sente que existe um incomodo, e a fala, antes sufocada, acaba que necessitada de gritar. E como é que funciona esse grito? Através da arte, da cultura. Eu me identifico com a escrita, e vi que outras estavam no mesmo barco que eu. Por que não nos juntarmos? Daí a coletânea de textos, organizada de forma underground . E foi aí que eu vi que é tão complicado trabalhar com cultura, de certa forma, você incomoda

3.       E o “Desembucha, Mulher!”? Como um zine conseguiu alcançar tanta relevância no cenário local? O que você acha que ele significa nesse contexto de levante de mulheres historicamente silenciadas? Você sente que falta alguma coisa para que seu projeto se complete, ou ele alcançou um estado ótimo, dentro do que você tinha sonhado?

Todo o alcance do zine foi uma total surpresa pra mim. Eu não imaginava que ele teria esse alcance, e foi muito bom. O combustível que me dá força pra continuar com ele são os relatos de mulheres que sentiram contempladas de terem seus escritos publicados, impresso numa folha de papel, onde elas poderiam manusea-los, mostrar. É a concretização de uma ideia. Além de tudo é empoderamento, é não precisar de validação masculina. Tudo isso casa com esse momento do feminismo atual. No mais, eu queria ampliar, publicar mais autoras, lançar mulheres ótimas que estão por aí e sem oportunidade. Meu sonho é que quando alguém for citar autorxs piauienses pelos menos metade dos lembrados sejam mulheres.

4.       Você também é uma das mediadoras locais do grupo de leitura mais popular da atualidade no Brasil, o “Leia Mulheres”. Você pode resumir um pouco da proposta para a gente, incluindo aí sua própria experiência no grupo?

O “Leia Mulheres” é um clube de leitura que também combate essa predominância masculina nas nossas estantes. É triste constatar que a maiorias dos autorxs que falamos, que usamos como referências, são homens. E a proposta do clube é essa, tentar, nem que seja de forma mínima, tirar esse desequilíbrio, nos fazer consumir autoras, saber da existência delas. Nossa! Depois do clube já conheci tanta autora bacana.

5.       O que você diria para mulheres que tem filhos para criar (muitas vezes sozinhas, como é o seu caso) e que são diariamente desencorajadas pelo mundo a seguirem seus sonhos?

Nada é fácil para uma mãe, principalmente se for solo. Eu vivo vários dilemas, tentando me livrar de várias culpas que o sistema diz que são minhas. Ser mãe solo é você pegar dupla responsabilidade, assumir pelos erros de alguém omisso,  e ainda ser mal vista aos olhos da sociedade. Sonhar, trabalhar, realizar algum feito diante desse contexto é ser a própria resistência. Não posso garantir que todas nós vamos conseguir romper algum paradigma, ou que vamos alcançar nossos sonhos de forma integral. Não temos controle de nada, mas podemos começar a nos livrar do estigma da mãe perfeita, seria um ótimo primeiro passo. Não damos conta de tudo, e jamais esquecermos que antes de sermos mães somos mulheres.

6.       Quais seus próximos projetos? Pode compartilhar conosco?

Muitos projetos, mas tudo a seu tempo. Como respondi na pergunta anterior, sou mãe solo, e alguns acidentes acontecem ao longo do caminho. Risos. Mas assim que puder, de forma lenta e gradual, lançar uma coleção de autoras piauienses, a terceira edição do zine, continuar nas reuniões do “Leia Mulheres”, e sempre trabalhar ajudando outras mulheres a se sentirem encorajadas e motivadas a escreverem, ou fazer qualquer outra manifestação cultural.

 
Obrigada, mais uma vez, pela gentileza da entrevista, Dani. Espero em breve fazer outra postagem com o seu mais novo trabalho!
A Dani também é uma excelente jardineira <3

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