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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Meia luz


E quando eu sussurrei um beijo no seu pescoço
E a sua mão escorreu feito água morna abaixo da minha cintura
E quando meu peito encostou no seu peito
E a sua calça, já apertada, encontrou a minha saia, úmida,
E quando o garçom se aproximou, sem gentileza:
“Procurem um motel”
Foi quando eu entendi que os desejos
Mesmo sob meia luz
Nunca são suficientemente discretos

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Da inutilidade do sistema de medidas e do pensamento linear

Quando a sensação de amor me invade 
Não há linear sabedoria ou
colete salva-vidas!

Os sapos bem me entendem: 
vivem de espalhar ao mundo 
aos pulos e cantarolando
“a superior inteligência saltitante!” 
“O IDH imbatível das poças de água de espécies dadas ao vício de amar!”

E na superfície da pequena fonte coroada por vitórias régias 
Me vejo espelho de águas profundas 
Lançando escamosos desaforos à tua descrente fita métrica.

Sorrio à mimética via láctea que flutua ao meu redor 

E bebo o suficiente para continuar. 

domingo, 18 de novembro de 2018

Conto do dia de finados

Um dia os mortos voltaram
buscando consolar os vivos-

não conseguiram.

Tinham esquecido a língua da carne ativa:
só asco e terror provocaram..

e como muitos eram tímidos
desistiram, por fim,
desse tipo de contato.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Onde arranjei esse coração

Onde arranjei esse coração sempre descompassado

Pelo medo da perda 
Pelo medo do fracasso 
Pelo medo de não encontrar o sentido 

nos livros 
nos astros 

na vida?

terça-feira, 15 de maio de 2018

Viro um copo cheio de lua

Como não frequento a boemia 

repito, sem culpa, versos já cansados da caneta dos que bebem a sua angústia e a sua nada estranha gratidão ao deus que lhes concede o néctar ao fim do maçante dia.


E ainda assim me embriago 

da farta madrugada prenhe de estrelas.
Viro um copo cheio de lua, 
esperando o momento
minguante,
das dores que já deveriam ter par(t)ido,
na penúltima volta daquele cometa 
milimetricamente posto na nossa rota
por uma matemática chinesa,
priscas eras antes do meu fatídico encontro


com as muitas almas que amei.



terça-feira, 1 de maio de 2018

Telefonema


sinto-me carente
por isso, te ligo à noite
tantas vezes
com uma conversa tão prosaica...
prosaico é meu coração.


domingo, 24 de dezembro de 2017

Nas últimas páginas da agenda

Folheando a agenda do ano que termina
encontro o trevo de quatro folhas
ressequido entre as páginas
chave para a lembrança de um dia comum abaixo do trópico de Capricórnio
sol alto e frio
que não queima a pele.

Marcava o dia em que fiquei sabendo do seu olho direito
pelos meus próprios olhos direito e esquerdo
que o seu destro vertia lágrimas
sempre que você fala empolgado-
o que é quase sempre.

Vejo no canto da página
o aviso do calendário:
as esferas celestes se desencontraram nesses 365 dias
tentando se acertar.
Esquecendo que foram substituídas pelos sábios
retilíneos de um futuro teimoso e cheio de mistérios.

De mim, cá embaixo
só posso falar: te encontrei.
1. Sorriso de luz; 2. Olhos d'água;
2. Dedos que deslizam macios; 3. Voz mansa;
4. Cheiro de rexona e  5. Passos largos de allstar.

Obrigada, 2017.

domingo, 22 de outubro de 2017

Besouro



Era manhã e eu estava descendo a escada,
quando um besouro que tentava entrar pela janela
quase me acertou.
O vidro da janela estava fechado.
Nem eu, nem ele havíamos notado.
Rimos um pouco e segui a vida-
pensando no meu sunny boy,
apesar desse dia nublado
e dessa temperatura que cai.

Não faço ideia do que meu amigo besouro pensava naquela ocasião...
No alimento do dia- talvez.
Na fuga de um inimigo- é possível.
Em sua
b e s o u r a-
a encontrar.

Já no final da tarde de um crepúsculo que eu não veria,
fui ao quintal, pegar a toalha ainda úmida do banho da manhã.
Olho para o chão, displicente,
e lá está meu amigo besouro!
Morto!
Sem me contar sobre a luta diária pelo alimento,
sem as anedotas sobre suas fugas dos inimigos,
nem sobre seu amor à espera
Ou indefinidamente adiado,
Como nossa insuspeita amizade.






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