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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Vampira do X Men

não sei quanto tempo da minha vida passei me esforçando para me interessar pelas conversas das pessoas. em geral preferia meu mundo, que nem era só um mundo interior, não. era meu mundo e das coisas do mundo, não das pessoas do mundo. as pessoas do mundo, quando eram só meu mundo, eram como coisas.

no final das contas terminei me adestrando em parecer muito interessada e de fato até comecei a me interessar. ficava comovida da pessoa confiar seus pensamentos a mim, seus comentários, apropriados ou não. mas provavelmente a minha maior motivação tenha sido o fato de que aquelas conversas desinteressantes muitas vezes escondiam ou apontavam para algum tesouro.

de alguma conversa desinteressante poderiam surgir conexões interessantes em mim. e as pessoas de conversas desinteressantes conheciam outras pessoas com conversas muito mais interessantes. e assim eu seguia. 

o problema eram os efeitos colaterais. eram muitos. falo aqui de um. eu ficava cheia dos pensamentos, das idéias, dos gostos, das opiniões daquelas pessoas.

demorava um tempão para eu ser despossuída, como a Vampira dos X-Men, quando tocou no Wolverine. (ainda demora, mas menos).

hoje eu fico pensando se minha prima sem noção tinha razão em me chamar de autista (as crianças podem ser muito cruéis). e ela estando certa, não reclamo em absoluto hoje. se sou, faz parte da minha idiossincrasia. se não, também.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Uma quinta feira na praia


Eu demorei 31 anos para entender que eu poderia aproveitar momentos como esse com leveza, sem remorsos, sem medos, com serenidade. Algo que parece tão simples e que para mim é fruto de uma elaboração com passos de formiguinha.

Tava muito bonito o dia de ontem.

Ps. O livro é Amrik, da Ana Miranda. O fundo musical é Nina Simone.

sábado, 19 de março de 2016

Texto para um sábado de manhã em tempos sombrios



Estamos passando por um momento crítico de intensificação da nossa capacidade de polarização. A política, má conduzida, termina por ser desculpa para a expressão do que cada uma e cada um temos de não tão bom. Um amigo em uma rede social, lembrou do que na academia chamamos de Princípio da Caridade: numa discussão, ouvir o outro e admitir que existe um sentido e importância na fala desse outro, por mais diverso que esse discurso seja das nossas crenças atuais. É um exercício difícil, ainda mais em tempos do governo das paixões (no sentido de pathos, doença). Contudo, se realmente queremos mostrar que aprendemos alguma coisa com os erros que cometemos ao longo da nossa história ao acharmos que a nossa lente de percepção do mundo é absolutamente correta (vide comportamento prévio da população, incluindo partidos, mídia, sociedade civil organizada em geral dos vários regimes autoritários, de todas as cores, espalhados pelo mundo por toda a história humana recente), é preciso apostar nesse esforço.

O germe do que chamamos de fascismo, aquele que não ouve, que está sempre certo e que para isso não hesita em negar a existência do outro discordante, seja por meio de um discurso do tipo “Morra Dilma” “Morra Aécio” “Morra Lula” “Morra Moro”, seja por meios sutis ou ainda mais agressivos, esse germe, caras e caros, não está só no outro. A intolerância do fascismo está em nós também, habita como potência cada um e cada uma. É preciso estar atenta e atento e perceber que antes de vigiar tão ferrenhamente o que o colega fala, é preciso ser crítica quanto ao nosso próprio comportamento. Tomar partido não pode querer significar a destruição da nossa capacidade de empatia e se realmente queremos continuar como uma sociedade democrática e plural (friso o plural), vamos ter que ser capazes de ir muito além do que a polarização do presente dá a impressão de nos obrigar.

Lembrar da complexidade humana na teia afetiva que cada uma e cada um de nós foi capaz de construir ao longo da vida, por exemplo, ajuda a desinflacionar a questão a um tamanho com o qual possamos lidar. Tenho pessoas que eu amo, pessoas que eu admiro, do “outro lado” quanto às questões da política presente, mas isso não pode querer significar a redução do meu afeto(ainda que seja um desafio), ou da minha vontade de tê-las na minha vida. Ainda que por um momento a distância exista, é preciso ampliar e perceber que existem outros valores, outros âmbitos que ainda compartilhamos com aquelas pessoas. Mas nesse ponto, não quero falar só daquelas que conhecemos. O exercício de empatia é vitorioso principalmente quando alcançamos a capacidade do que mencionei no Princípio de Caridade para aquele desconhecido. Sempre fomos capazes de estender nossos círculos de empatia e é nisso que a democracia se pauta, a meu ver, muito mais do que em abstrações racionais. Vamos mesmo permitir que essa singularidade política nos afaste da pessoa que somos? Que destrua nossa humanidade? Que leve embora os valores de um sonho democrático que agora parece ameaçado?

O tempo também é para palavras que podem soar ingênuas. Mas acreditem, elas não são. Eu precisei ter muita coragem para escrever esse texto, sabendo que sou eventualmente cobrada por mim mesma e por outras pessoas, sobre minhas convicções políticas.

Quem conhece o que pesquiso sabe que está tudo aí diluído nesse textão de rede social. Quem me conhece além da academia, entendeu mais ainda. Se por acaso, diante da dinâmica do contexto eu fraquejar e ceder ao germe do fascismo (e estou trabalhando minhas contradições para que isso não ocorra), espero que pelo menos essa mensagem inspire outras pessoas a não fraquejarem onde eu porventura vier a fraquejar.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Rabisco meu na página 305 no livro Poética da Ana



Não tenho como deixar de ser mulher e nem de ter a Vênus em Peixes; logo, sonho e desdobro nosso encontro em paisagens de universos paralelos, simultâneos a um presente no qual não estou

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