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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Devaneios sobre cacos


Há uma inevitável melancolia em um vaso quebrado
Lamento sobre o sangue da mão ferida
A criança que nunca nascerá.

Há um inevitável espanto em um vaso quebrado
Põe finitude no objeto milenar
Renasce nos caminhos dourados do kintsugi...

Há uma alegria em um vaso quebrado
Como coisa que serve para o poeta enfurnado
No mato.

Há uma reprimenda pelo vaso quebrado
Era o favorito de mamãe
E ela não deixará barato!

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Fragmentos II

Há um tipo de bênção abundante a mim destinada que não me é possível compartilhar. Já tentei levá-la até outra pessoa, mesmo as mais queridas, mas no caminho ela escorre feito água nas mãos. E fico ali, tendo que lidar como a minha frustração e a do outro, por uma magia que não aconteceu. O que de certa forma me consola, é que isso não se dá só comigo, mas com cada um de nós: há algo de incomunicável, mesmo aos descendentes e aos herdeiros. E é de crucial importância entender qual a dádiva que se manifesta a partir si, para escapar de um certo sofrimento existencial. Também é útil para reafirmar nossa potência no mundo. Uma espécie de ponto de partida recorrente.


terça-feira, 22 de maio de 2018

Ruminação

Tenho grande respeito pelo ser unicelular que fui.

Gosto de imaginar que todo esse processo de transformação evolutiva se deu no meu corpo dispondo de certa consciência mesmo bilhões de anos atrás quando só me interessava mitoses e um certo equilíbrio osmótico. Um dia acordei eucarionte e depois pluricelular. Fiquei em dúvida se alga. Mas logo  me vi peixe. Guerreei em mares hostis até saltar meio sereia meio sapo pra terra: anfíbio. Apesar de me seduzir essa vida dupla, galguei réptil e alcancei aves. Por último, mínimos mamíferos. Cavei tocas, subi em árvores, colhi frutas e comi outro bicho como eu. Estiquei. Confiei nas patas traseiras. Descansei as dianteiras para a criação. Vivi clãs e tribos, criei cidades. Alcancei metrópole, fui até a Lua e Marte. Plutão e além. Agora estou aqui: síntese, vida que se sabe infinita e que acolhe a benfazeja e discreta morte, contida em tudo quanto foi ato aqui descrito, a engenhosa engrenagem criativa.

domingo, 25 de março de 2018

Movimento Aquático


A chuva tem o efeito de dar um tema único a uma paisagem confusa, quando elementos, ainda que próximos, não costumam apresentar um equilíbrio, uma harmonia entre si: ela passa a funcionar discretamente como tela para uma pintura que surge, ou como um enquadramento que direciona o olhar do fotógrafo. Mais que isso: ela sugere foz aos sentimentos das pessoas sensíveis que se perdem sob um excesso de estímulos dos seus arredores. O rio que se materializa dentro de si lhe traz alguma paz, pois de veios intermináveis vindos de tantas direções possíveis, passa ao tema único, que agora pode ser decifrado. Rio que conduz pensamentos e sensações, cuja materialização não cabe ainda antecipar o mar.



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