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sábado, 9 de maio de 2020

A última a saber

O tatu e o Gandalf e o Tolstoi e o Quintana e a gata
não sei bem dizer se li de outrem 
ou se vivi aqueles versos 
aqueles fatos 
aqueles fartos encontros 
em que minha alma- desobediente
- fez companhia à sua 
sem me avisar.


sexta-feira, 8 de maio de 2020

estiagem



transbordo diuturnamente e
quando não
é porque a fonte secou
não há o que se fazer...

futucar o que um dia foi nascente
jorrante
não vai matar o que é de sede
sede

barro enlameado
quiçá contaminado
mata o que antes vicejara
fere o amado 
magoa a amada.


sexta-feira, 1 de maio de 2020

jandaia do meio dia e meio


jandaia do meio dia e meio
sabe o segredo dos carnaubais imaginados
teu escandaloso grito rasgado
rompe a cidade entorpecida
acorda meu reflexo nas roxas águas do lago
lençol no corpo grudado
se suor, se água, se sangue
eu não sei.


segunda-feira, 13 de abril de 2020

Cozimento


Eu disse a ele:

- Não fale nada agora
suas palavras não estão prontas
o forno só está morno
e a paciência é tempero raro
convém aproveitá-lo
para termos uma boa refeição
sopa e pão
bolo recheado e felação
é preciso algum esforço
desacelerar o ato
nheeeeeec nheeeeeec
a altercação
paaaf
o prato exigente
triiiick triiiiick
agora sim
tudo vai se encaixar
experimenta aqui um pouco?


Um prato azul de sopa e um pão 

sexta-feira, 20 de março de 2020

Copernicia prunifera

Sabe como um pé de carnaúba cresce?
Como se junta aos outros irmãos e irmãs
Para compor uma paisagem
Altaneiro e coroado
Habitando os campos?

Diz-se que à noite
Num céu sem lua e anuviado
Uma mão gigantesca, grossa pele, puxa-lhe pelos cabelos
de uma vez só! Copernicia prunifera!

Ocorre que, às vezes, o espécime é tímido...
Ou teimoso...
e esperneia debaixo da terra, fincando mais fundo as fasciculadas raízes...
e consegue mais uns dias enfurnado
e, então, você vê: só parte do tronco, uma coroa quebrada, as folhas meio enterradas
o que já intrigou mais de uma trupe de viajantes

pelas bandas de Campo Maior.



 Destacam-se carnaubeiras e uma silhueta que se banha num rio 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Vinte e seis apontamentos e meio

1. Muitas manchas saem com limão- e é preferível estar à sombra;
2. Cuidado com a fome da alma;
3. A metade da laranja é uma mandala;
4. Manoel de Barros também costurava seus próprios cadernos;
5. A rua está vazia;
6. As confianças podem ser horizontais e verticais;
7. Consertar teorias nossas que não praticamos;
8. O julgamento é uma das expressões do animus;
9. Dançar é importante;
10. O passarinho azul é o pássaro da alma;
11. A tendência ao devaneio excessivo empobrece a vida;
12. Depressão é retenção de afetos;
13. O ridículo é necessário para o redimensionamento do desejo;
14. O salmão precisa da água limpa;
15. Abraços demorados desencadeiam a conversa do inconsciente com a alma;
16. Não entendo a linguagem dos relacionamentos amorosos;
     16.1. Se vivêssemos 1000 anos saberíamos disso.
17. É preciso admitir quando nossa paisagem é monótona;
18. A internet pode embotar os instintos;
19. Aprendi com a Dr. C.:" a vergonha te afasta do convívio social, mas nada está fora das fronteiras do perdão. As mulheres não estão fora da fronteira do perdão";
20. E com A.F. que “a inspiração se convoca”;
21. A vida tem uma magia própria que independe do nosso esforço de controle;
22. Al Green é música da alma;
23. E minha indignação não cabe no meu ethos;
24. "Direitos humanos é muito sobre ouvir as pessoas";
25. Peixes é um signo prático a partir do sentir;
26. Criar um estoque de ervas curativas;
27. Um ano depois e ainda sangro.
28. Deveríamos dar menos importância ao cargo de presidente;

Um ano novo melhor ;)


quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Conversa com Blake

Toda noite e toda manhã
Algo de miserável nasce bom
Cada manhã e cada noite
Algo de bom nasce da doce pernoite
Algo de bom que nasce da eterna noite*



*Tradução adaptada e alterada de propósito, como é de praxe aqui.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Sumo azul que escorre

Há um sumo azul neon 
A ser colhido na escura noite  

Ando sendo embalsamada
Num sono persistente 
Noite esticada por dias 
Corpo embolado, rolando 
Feito vaga, boneca de pano maltrapilha,
Bola de feno de Western movie,
Sonambulando 
Um nada zen 

quem sabe num dia azul acordo

sábado, 30 de novembro de 2019

deslocamento urbano




A criança está doente 
a cabeça no ombro da mãe
proteção contra a enfermidade
e ao sacolejo do busão.





terça-feira, 19 de novembro de 2019

Faísca- eu e sylvia plath

Compartilho com as amigas e os amigos a versão virtual do meu zine Faísca, que criei, na vontade de me misturar um pouco com uma escritora que curto, que é a Sylvia Plath. Um brinquedo meu.

Quem sabe ele aparece por aí na versão de papel, para além do original, que está aqui guardado. rs

É só clicar no link que segue ou na imagem: https://issuu.com/naybsousa/docs/fa_sca-_pdf

https://issuu.com/naybsousa/docs/fa_sca-_pdf
print da página da ISSUU, site que publica revistas online

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Caminhante

Caminhar
mesmo sob o sol escaldante
caminhar.

Caminhar
mesmo o passo retido pelo lixo das ruas
caminhar.

Caminhar
mesmo arrastando a vontade
caminhar.

Caminhar
sob a lei da inércia:
perecer ou caminhar.



terça-feira, 8 de outubro de 2019

Felicidade é um troço escasso


Felicidade é um troço escasso

A idade apura nosso faro
Para este fato
A cada guarda baixa da vida
Cato no chão meu pedaço de contentamento
papel de pão amassado
e ponho no bolso
a potência de osculações de palpitações e maquinações salgadas
De suores e desejos em excesso
Passo logo ao próximo passo
Porque não sei se acesso o dia de amanhã
E aceso o dia não sei mesmo
se alguma felicidade novamente virá

domingo, 6 de outubro de 2019

Não posso ter seu amor

Eelus








Não posso ter seu amor
E tudo bem
Meu coração é volúvel
Parte para quem tem
Amor para dar
No agora
Sem essa de esperar

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Cynthia Osório: entrevista




A Cynthia já apareceu aqui antes com sua poesia, mas agora fiquei com vontade de ouvi-la em uma entrevista e fiquei muito contente em saber que ela me concederia essa honra. É uma conversa importante para quem escreve, para mulheres que escrevem e também para quem de alguma maneira encarna algum marcador social que se sobressai nas relações sociais. Eu gostei bastante, espero que vocês curtam as respostas da nossa poeta convidada:

1.O modo como você se percebe influencia sua poesia? Como?

Total. Eu escrevo sobre o mundo que esta dentro de mim, ou ao menos, a partir dele. Então cabe aí muitas doses de mim mesma. Acho até que seja uma escrita imatura por isso, mas ela é  o que é. Não sei se te respondi.

2. Você entende a questão racial como um eixo que interfere na sua sensibilidade e vida criativa?

A questão racial é uma questão relativamente nova pra mim, estou em processo de descoberta  construção, aprendizagem de mim como mulher negra. Inconscientemente pode ter interferido já que, como disse antes,  falo muito sobre mim. Agora, nesse processo de conscientização, por assim dizer,  o que transparecer na minha escrita é/será intencional.  Então, interfere sim. A escrita pode ser uma ferramenta de luta antirracista, eu sinto a necessidade de construir em mim essa responsabilidade. E de maneira mais pessoal: escrever um instrumento de resistência ou re-existência num ambiente racista. Agora com sua pergunta reflito que quando/se o racismo me esgota mental e fisicamente, ainda assim, ele não me impede de criar, porque ainda que não saia uma poesia, por exemplo, eu escrevo. Escrever é criar.

3.Você pensa no Outro ou Outra que vai ler seu poema quando está escrevendo?

Quando escrevo pra que vejam eu elaboro mais, busco palavras. Outras vezes escrevo pra escrever, e acabo querendo que vejam, ou não. Quando faço essa escolha é sinal de que penso sim nas reações de quem lê.

4. Pretende publicar um livro físico? Quando?

Óbvio que já pensei e penso muito nisso, mas não é um peso nem uma urgência, não sei quando. O que sei é que vou escrever sempre. Confesso que a burocracia envolvida me intimida e até me cansa.

5. O que você acha que falta para a poesia feita por mulheres ser valorizada tanto quanto a do homem poeta no estado do Piauí?

Não sei se é apenas isso o que falta, mas iniciativas como clubes de leituras como o "Leia mulheres", publicações independentes como o zine "Desembucha, mulher!", por exemplo, são belas demonstrações de que só nós fazemos por nós mesmas, sem esperar aprovação ou apoio de homens, e dá certo. Claro, que se homens quiserem sair da sua zona de conforto e subverter a lógica  patriarcal etc ajuda, mas "homens, o que tenho a ver". É continuarmos a fazer como sabemos e podemos! 


6. Você tem algum conselho para dar a quem quer se aventurar pelo mundo da escrita, dos versos


Sugestão: escrever, ler, e olhar o mundo ao redor.



segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Há uma raiva de fundo


Há uma raiva de fundo
Como o clarão de um incêndio ao horizonte
A substituir a aquosa angustia
Lembra um sol velho
Que já se ergueu e se deitou tantas vezes
E que faz uma última aparição.



domingo, 8 de setembro de 2019

São tantas luzes

São tantas luzes
quando é a penumbra que busco
aquela passagem encantada
para seu corpo e o meu se encontrarem...

Vejo que o gato amarelo de olhos vazados sorri um testemunho




sexta-feira, 30 de agosto de 2019

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Benedita Onírica


Lembro de muito me espantar
a miragem da Igreja sobre a colina
que Teresina escolheu como altar

e tenho meus sonhos desde então
povoados de igrejas sobre colinas

não importa quantas cidades eu visite
há uma onírica essência invocada
no acúmulo daquelas literalidades:
colina, igreja, altar.

Paradoxalmente
                               propõe-me:  
                                                    prosopopeias,
                                                                              perífrases,
                                                                                                   paronomásias,

sorvidas pelo inconsciente
sustentando meu iceberg-self.

É à primeira Igreja sobre à colina que regresso:
A lapidada pelo sol, memórias de mãos e coxas negras,
De pedra, de pinguins musicais,
De degraus cansativos e de saias brancas
De chão amarelo setembrino
De um velho de vestido
que toca um piano invertido
Sob o sol.


parte detrás da igreja São Benedito contra um fundo de céu azul- gostei de ter feito essa foto

domingo, 4 de agosto de 2019

Onde a poesia está?

Onde a poesia está?
Está suspensa por vontade própria?
Saiu para comprar cigarro?
Será que volta?
Alegre ou histérica?
Disposta a dar satisfações?
Disposta a fazer o seu trabalho?
Sua dança?
Fazendo caretas? 
Dando piruetas?

Onde a poesia está?







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